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Politica Brasil
Sábado - 11 de Fevereiro de 2006 às 08:34
Por: Wilson Lemos

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Depois que desceu a rampa do Palácio do Planalto, o professor Fernando Henrique Cardoso vem mostrando como não deve agir um ex-presidente da República ainda cioso da dignidade inerente ao cargo de primeiro mandatário da nação. Especialmente ele, que além de ter ostentado a faixa presidencial, exibe diplomas e títulos acadêmicos que alardeiam sua condição de intelectual de escol e medalhão da inteligência tupiniquim. Embora mantendo a costumeira empáfia, o nosso vaidoso professor – que nunca foi da Sorbonne – desmente o adágio segundo o qual quem foi rei nunca perde a majestade. FHC perdeu a majestade e as boas maneiras. Deixou de ser um mestre das artes marciais, para usar os golpes baixos de um lutador de rua.

O ex-presidente demonstra que não soube administrar a descida e tampouco consegue adaptar-se às vicissitudes do ostracismo. Não se conforma com o ter deixado a ribalta para ocupar um lugar nas gerais; imaginava que deixaria o gramado, mas logo a torcida em coro exigiria sua volta ao campo. Retornaria nos braços da galera para, como salvador da pátria, ganhar a partida e derrotar pela 3ª. vez o cabeça chata perna de pau. Acontece que para sua decepção as pesquisas mostraram que nem para o banco de reservas seria convidado. Constatando que teria de pendurar compulsoriamente as chuteiras, contentou-se em nomear-se guru-chefe do PSDB e comandante-geral da Oposição.

Como tal, perdeu a lucidez e mandou às favas o bom-tom. Não quis mirar-se nos exemplos de Juscelino, Sarney e até mesmo de Collor, sem falar do seu colega Bill Clinton e outros presidentes que, entregando o poder e retornando à planície, não esqueceram a liturgia do cargo e conservaram a compostura, o comedimento, a correção de maneiras dos Chefes de Estado. O nosso FHC, ao contrário, rodou a baiana e saiu a campo de tacape e borduna, vociferante, insuflando seus áulicos à prática do insulto, tentando transformar o diálogo em altercação e a crítica em vilipêndio, escamoteando a verdade para maximizar a versão em detrimento do fato. Tal qual o seu escudeiro-mór, o enfezado senador Arthur, parece tomado pelo espírito belicoso do panfletário Lacerda.

Os dardos embebidos em curare ora disparados pela zarabatana de Efeagacê, têm como alvo Luiz Inácio Lula da Silva, o operário que ousou desafiar as elites e derrotando-as chegou à Presidência da República. FHC não perdoou o atrevimento do nordestino de poucas letras e nenhum diploma. Tampouco se conforma com o fato da administração petista não ter dado com os jegues n’água e em vários setores tenha superado em realizações o seu governo de oito anos. O vaidoso professor Henrique não consegue admitir que um “alfabetizado”, que saindo da carta de ABC não foi muito além da cartilha, possa ofuscar como governante, aqui e lá fora, o grande mestre e renomado intelectual, sociólogo e poliglota que o antecedeu. Há na atitude do ex-presidente um misto de despeito, inveja e rancor.

Suas investidas contra o governo e agora diretamente contra Lula revelam a frustração dos inconformados e o desespero que toma conta da oposição. A retomada do poder pelos tucanos já não lhe parece fácil diante da ineficácia das tentativas de desestabilizar o governo e inviabilizar a reeleição do petista. Por mais que tente, a oposição não consegue deletar as realizações do atual governo. A cantilena de que este nada fez já não surte efeito, pois os números proclamam o contrário; o blá, blá, blá das denúncias e acusações repetidas à exaustão já não encontram ouvidos crédulos. Por isso a fúria de FHC, cujos destemperos já deixam apreensivos alguns próceres oposicionistas mais atentos à realidade dos fatos, e para os quais essa tática pode ser um tiro que sairá pela culatra.

Quando gestaram a crise e deram início ao processo de desmonte do governo, segundo revelou há meses em sua coluna no JB o teólogo Leonardo Boff, um ícone das elites políticas carcomidas reunido com os cardeais da oposição traçou com todas as letras as diretrizes para a campanha contra o torneiro-mecânico que ousou e conseguiu tomar-lhes o poder: “Não queremos o impeachment de Lula. Queremos desmoralizá-lo, sangrá-lo e liquidá-lo, para que seja envergonhado publicamente e derrotado nas eleições”.O ícone da horda tucano-pefelista segue à risca o combinado. Sem a postura de ex-presidente e como o estadista que não chegou a ser, mostra-se agora de corpo inteiro numa foto 3/4.

(Wilson Lemos= E-mail: wfelemos@terra.com.br)




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