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Cultura
Terça - 07 de Fevereiro de 2006 às 06:51

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São Paulo - O artista plástico cearense Aldemir Martins sofreu um enfarte neste domingo, em sua casa no bairro do Ibirapuera e foi levado ao Hospital São Luiz, mas não resistiu e morreu às 19h25. Tinha 83 anos. O velório realizado na Assembléia Legislativa de São Paulo será seguido do enterro, às 16 horas, desta segunda-feira, no cemitério do Campo Grande, em Santo Amaro, zona sul da capital. Martins, que foi ilustrador do Jornal da Tarde, nos anos 70, foi escolhido para inaugurar o projeto de montagem de uma Galeria virtual, em 2000, primeiro ano de existência do portal Estadao.com.br, que pode ser vista novamente agora.

Um misto de nordestino com paulista, era gravurista, ceramista e escultor, mas foi como desenhista e pintor que marcou o cenário brasileiro das artes plásticas, com os tons fortes e as figuras pelas quais sempre foi identificado e que lhe deram fama, como o cangaceiro, o peixe, o galo, as frutas e, principalmente, os gatos.

Aldemir Martins nasceu em Ingazeiras, Vale do Cariri, no Ceará, em 8 de novembro de 1922, Aldemir vem tentar a sorte no sul, como reza a tradição nordestina por aqui. Chega ao Rio de Janeiro em 1945, aos 23 anos, e no ano seguinte vem para São Paulo a convite do crítico e cineasta Paulo Emílio Salles Gomes, que o apresenta à intelectualidade paulistana da época. Aldemir adota São Paulo no coração.

Cinco anos depois, ganha o prêmio de melhor desenho na 1.ª Bienal de São Paulo. Dez anos depois, conquista o Grande Prêmio Internacional de Desenho da 28.ª Bienal de Veneza, que tem um efeito avassalador na sua vida e na sua carreira.

Na vida, "me deu a casa, a família, o carro, o rádio, a televisão, coisas que o pau-de-arara nunca pensou ter", disse ele em entrevista ao Suplemento Cultura, do Estadão em 1986.

Na carreira, um prestígio equivalente. Do Brasil, concorrem ao seu lado Di Cavalcanti na pintura e Marcelo Grassmann, Renina Katz, e Fayga Ostrower na gravura, além de Caribé no desenho. Cerca de 40 países competem na mostra italiana. Ele foi o primeiro artista brasileiro e o primeiro sul-americano a conquistar o prêmio.

Aldemir que sempre se definiu como "essencialmente desenhista", reconhecia a importância da pintura em suas atividades. O desenho e a pintura lhe renderam centenas de prêmios e exposições em muitos países, como Estados Unidos, Canadá, Suíça, Iugoslávia, Itália, Alemanha, Portugal, Espanha, Suécia, Inglaterra, Checoslováquia, Marrocos, Argentina, Peru, Uruguai, Chile e Japão.

O sucesso gerou uma produção crescente e uma crítica ácida, que passou a considerar seus quadros decorativos e repetitivos. Sobre isso ele falou à revista Isto É, em 1972: "Vejo esses jovens não como pintores, mas como intelectuais da pintura. Esse é o grande mal: muita intenção e pouco resultado. A pintura é uma arte sensorial, saborosa, sensual - um ato de amor. Quanto à crítica, do jeito que está, o colunista social é mais importante para o artista hoje em dia".

Pensando assim, fez pintura em tecido, cerâmica, luminárias, jóias, capas de disco, rótulos de vinho, latas de sorvete, pratos de plástico. "Foram vendidas 8 milhões e 400 mil dessas latinhas de sorvete, como é que eu não ia ficar satisfeito", disse ele ao Suplemento Literário do Estadão em 1986. "Fiz do prato uma obra de arte e quando o pratinho acaba vai para o lixo. E o lixeiro exclama: Olha, mais um prato do Aldemir Martins! Isso não é bom? Sou de um egoísmo a toda prova. É como aquele samba... "Primeiro eu..."



Uma visita ao ateliê do artista, em 2000 O ateliê de Aldemir Martins, projetado especialmente para ele, no final da década de 60, pelo então professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Carlos Lemos, tem uma parede de vidro que deixa a luz entrar, banhando generosamente o ambiente, que é pequeno, mas tem um pé direito alto. Quadros são poucos, ou nenhum. Mas é tanta escultura, pequena, grande, imagens de santos, de animais. Coloridas ou pardacentas como a cor da madeira. Arte popular somente. Parece que ele trouxe a feira de Caruaru dos bons tempos para dentro de seu ambiente de trabalho. Aquela poluição de coisas de belezas inesperadas. Os olhos não conseguem parar de olhar até se deparar com aquele local nobre da parede, atrás da mesa, destinado sempre ao melhor quadro, ou à imagem da Santa Ceia, do crucifixo, sei lá. Surpreendentemente, naquele ambiente imagético por natureza e naquele ponto de honra, não há imagem nenhuma, há texto. Frases sem crédito, de Guimarães Rosa, mas postas assim anônimas, como a arte popular à sua volta:

Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende

O sertão está em toda parte e mesmo que de ser jagunço se entrete, já é por alguma competência entretanto do demônio será não? Será

Medo de errar é que é a minha paciência

Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar





Fonte: Agência Estado

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