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Politica Brasil
Quarta - 01 de Fevereiro de 2006 às 10:39
Por: Wilson Lemos

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Quarta-feira última, no plenário da Câmara dos Deputados transformado em picadeiro, os saltimbancos do circo mambembe em que se tornou aquela casa fizeram festa com direito a gritos, aplausos e papel picado. Eufóricos nossos ilustres parlamentares comemoraram o começo do fim da verticalização por eles decretado por mais de três centenas de votos. Certamente que na próxima votação o placar não será menor e teremos a verticalização finalmente enterrada com toda a pompa.

Com esta decisão, os congressistas deste país de Macunaíma demonstraram, mais uma vez, sua total despreocupação com o aperfeiçoamento da nossa incipiente democracia. A medida do TSE verticalizando as coligações partidárias, apesar da gritaria dos políticos e dos “jeitinhos” utilizados para neutralizar seus efeitos, contribuiu para diminuir a promiscuidade ideológica que tem viciado as alianças entre os partidos e abastardado o processo eleitoral com uniões esdrúxulas de correntes políticas heterogêneas e historicamente antagônicas.

É bem verdade que a verticalização nasceu contaminada com o vírus da inoportunidade que, à época, a transformou em um autêntico e condenável casuísmo que alterou as regras do jogo pouco antes de iniciada a partida, provocando turbulências no processo sucessório então em andamento. Mas, em que pese esse vício de origem, a medida do TSE não deve ser encarada como uma excrescência legal inibidora do aperfeiçoamento das práticas político-partidárias e do nosso sistema eleitoral. Ao contrário, deve ser vista como um obstáculo às imposturas que desvirtuam a atuação dos nossos partidos.

A coligação de siglas que professam e defendem ideologias e linhas programáticas conflitantes é uma dessas imposturas. Serve tão-somente para abastardar as agremiações partidárias, levando-as à prática indecente dos concubinatos políticos que apequenam as alianças, dando ensejo aos conchavos escusos e às mancebias eleitorais ditadas pelas circunstâncias impostas pelo poder econômico e pela ambição dos oportunistas. Só os que usam a política como um meio para atingir seus objetivos e defender interesses paroquiais são contra a verticalização e portanto, contrários ao aperfeiçoamento do processo eleitoral e ao fortalecimento dos partidos.

O que nos decepciona e nos leva quase às raias da indignação é constatar que a maioria esmagadora dos nossos deputados e senadores faz parte desse time que defende o retrocesso. Que restabelecendo no processo eleitoral a prática dos conchavos aqui e ali engendrados ao sabor das conveniências de pessoas e grupos, atenta contra a democracia abastardando o processo de escolha e violentando a vontade popular.

Para certos partidos e a maioria dos nossos políticos é melhor andar mal acompanhados do que ficar sozinhos. O importante é chegar ao poder mesmo por vias travessas. Para se atravessar com segurança o Raso da Catarina, nada mais prudente do que acompanhado de Lampião. Bem mais atraentes do que o casto sorriso da donzela são os lábios carnudos da bonita marafona. Assim pensaram os nossos ilustres e pragmáticos deputados derrubando a verticalização. No próximo pleito teremos mais um alegre festim da promiscuidade ideológica no leito espúrio do cinismo eleitoral.

(Wilson Lemos= E-mail: wfelemos@terra.com.br)





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