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Politica Brasil
Terça - 31 de Janeiro de 2006 às 13:54
Por: João Carlos Caldeira

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Há algum tempo que observo durante minhas caminhadas pela UFMT, o trabalho de um jovem, alimentando os animais. Não se trata dos animais do zoológico da universidade, mas dos gatos que vivem em liberdade pelo campus. Diariamente, no mesmo horário (geralmente por volta das 18 horas), esse jovem entra na UFMT com uma picape Fiat de cor branca, sem nenhuma identificação e deixa alimentos para as dezenas de gatos que circulam por ali e fazem do local sua residência.

Inicialmente, imaginei que o jovem fosse um funcionário da própria UFMT ou de alguma empresa de alimentos que prestasse serviços aos servidores ou acadêmicos. Para minha surpresa, comecei a ver a mesma picape branca com o jovem em vários pontos da cidade, alimentando não só os gatos, mas os cachorros, pombos e outros animais que vivem pelas ruas de nossa capital.

Dia desses, vi um segurança do Shopping Três Américas conversando com o rapaz e então resolvi perguntar de quem se tratava. O Segurança me informou que era um funcionário da Desembargadora Shelma Lombardi. Para quem não sabe, Shelma Lombardi de Kato foi a primeira mulher a ocupar um cargo na magistratura de Mato Grosso. Hoje é Desembargadora do Tribunal de Justiça do estado.

Fiquei sabendo também que no dia de folga dele, aos Domingos, é a própria Desembargadora que muitas vezes distribui a refeição dos animais de rua. Dá pra imaginar o custo de um funcionário, as despesas de manutenção de um veículo rodando diariamente por Cuiabá, além da preparação dos alimentos distribuídos? Alguém pode até dizer: ¨ Ela ganha muito bem, pra ela não custa nada¨. Não é bem assim, daria, por exemplo, para ela passar uma semana em Fortaleza todos os meses, ou comprar um novo Jet Ski para passear no Manso, ao ainda comprar uma bolsa Vitor Hugo por mês.

Outra pessoa poderia dizer: ¨ Mas com tantas crianças na miséria, ajudar animais de rua?¨ Se todas as pessoas de bem se preocupassem somente com as crianças, o que seria dos deficientes físicos, dos velhinhos, dos animais e do meio ambiente?

O que a Desembargadora Shelma faz é um ato de cidadania, de consciência social e de justiça. Apesar de pagar 27,5% de imposto de renda sobre seu salário mensalmente, não cruza os braços diante da pobreza e das injustiças que a cerca, muito menos fica esperando que o estado resolva todos os problemas, muito embora não cumpra, às vezes, nem a sua obrigação.

O que a Desembargadora faz sem alarde, sem ser identificada, é devolver a sociedade parte do privilégio que ela conquistou, através de solidariedade e de um trabalho importantíssimo para Cuiabá, para Mato Grosso e para o Brasil. Trata-se de uma verdadeira revolução silenciosa que milhares de Mato-grossenses fazem todos os dias e se que não ficamos sabendo. São instituições religiosas, grupos de apoio, entidades assistenciais e privadas que movimentam o capital social deste estado.

São organizações sem fins lucrativos que compõem o Terceiro setor (o primeiro é o estado e o segundo é o mercado) e que tem (ou deveria ter) o objetivo de promover o desenvolvimento social, cultural e humanitário no meio em que atuam. O Terceiro Setor não para de crescer no Brasil e já movimenta 12 Bilhões de reais por ano, algo em torno de 1,2% do PIB-Produto Interno Bruto do país. Dá pra imaginar o que seria de nossas crianças, das famílias carentes, dos desempregados, dos animais, do meio ambiente e de todos os excluídos se não existissem as milhares de Shelmas, Marias, Pedros e Antônios em Mato Grosso e no Brasil?

JOÃO CARLOS CALDEIRA Empresário, jornalista e professor universitário. E-mail: joaocmc@terra.com.br 27/1/2006




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