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Nacional
Sábado - 30 de Novembro de 2013 às 21:49
Por: Do R7

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O início da operação do sistema do Bilhete Único Mensal, neste sábado (30), foi aprovado por especialistas em transporte consultados pela reportagem do R7. Seguindo o discurso das autoridades, eles visualizam uma possibilidade de maior acesso aos equipamentos públicos da capital e uma liberdade de ir e vir à população. Tido como algo novo no Brasil, tal bilhete já existe há décadas em outros países.


 
Segundo HoráciAugusto Figueira, consultor e mestre em engenharia de transportes pela USP (Universidade de São Paulo), a facilitação da mobilidade da população através do transporte público é algo já comum na Europa há pelo menos 40 anos. Apesar do atraso, a iniciativa da prefeitura e do governo do Estado é vista como positiva, sobretudo para aqueles que fazem mais de 46 viagens mensais de ônibus ou mais de 49 no sistema de integração (ônibus e trem).


 
— Diria que é voltado para quem usa o transporte público como água encanada que passa na frente de casa, está ali disponível. Então como vai ser cobrada taxa única mensal vale a pena. É um incentivo. Agora a pessoa não vai parar para pensar “puxa, já foi a minha cota do mês, estou sem carga, sem dinheiro”. Ele (usuário) agora vai desencanar, se tiver que passear com a namorada, ou ir ao parque, sem gastar nada, é um benefício.


 
A opinião é compartilhada por Ailton Brasiliense Pires, presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos). Para ele, o Bilhete Único Mensal em São Paulo é uma extensão de algumas políticas públicas que já existem em algumas cidades do Brasil para estimular o uso do transporte público aos finais de semana, com a tarifa mais barata no domingo ou até a gratuidade nesse dia.


 
— Esse bilhete tem uma vantagem: você usa quando você quiser, e não quando o poder público define, se for o primeiro ou último domingo do mês e te dá uma liberdade para usar durante o dia, se vai ao trabalho, um curso ou outra coisa que o valha. Pra quem tem mais atividades do que simplesmente o trabalho é uma grande vantagem e é, portanto, é uma maneira de você explorar mais aquilo que a cidade dispõe, algo que normalmente não acontece.


 
Os especialistas acompanham as opiniões do secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, e do secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, quanto à percepção de que o número de passageiros imediatos a serem beneficiados pelo novo bilhete – mais de 861 mil, segundo dados do mês de outubro – não irá aumentar a superlotação de ônibus e trens nos horários de pico, mas sim com impactos em horários ociosos e aos finais de semana. Contudo, isso não diminui os problemas.


 
Pires alerta que é preciso estimular a chamada “mudança de cultura” no uso do transporte público, ainda visto como voltado exclusivamente para as faixas mais carentes da população, sob pena de correr o risco de uma descontinuidade do programa, algo já visto no metrô paulista em anos recentes.


 
— O metrô teve o múltiplo de cinco e o múltiplo de dez, lembra-se disso? Acabou sendo abandonado. Aquilo que teoricamente parece muito bom às vezes não apresenta a resposta imaginada.


 
Já Figueira ressalta que a existência do bilhete mensal não diminui a necessidade da busca por uma maior frequência de ônibus e trens, independente do dia da semana, e pela maior qualidade de veículos e composições. Na avaliação dele, o metrô paulista já demandaria uma frequência constante entre às 5 h e 22 h, já que o conceito de horário de pico no sistema já poderia ser considerado ultrapassado, diante do quadro atual. Anteriormente, Jurandir Fernandes disse que não haverá alterações.


 
— O Bilhete Único Mensal não é o que vai impactar na superlotação dos trens mais do que já estão, isso não vai acontecer. Talvez em um primeiro momento o impacto seja pequeno, os ônibus com espaço ocioso encham um pouco mais, mas não é algo muito cruel porque não é uma demanda muito grande.


 
Até 2016 o governo municipal ainda projeta o sistema do Bilhete Único Semanal e, possivelmente, um Bilhete Único Diário, os quais poderiam aumentar a opção de uso da população com tarifas mais atrativas para o usuário fugir do horário de pico, por exemplo. Questionado há nove dias pelo prefeito Fernando Haddad sobre o tema, Jilmar Tatto pediu calma e preferiu não falar em prazos para a implantação de ambos na capital.


 
O presidente da ANTP acredita que é um processo gradativo e que não seria recomendável apressar a implementação de vários sistemas de transporte ao mesmo tempo.


 
— Você poderia começar pelo Mensal ou pelo Semanal, mas é conveniente começar com um modelo e depois implantar o outro, e não começar com os dois. O Semanal é o mesmo, mas com valor menor, e para ele não ter que acessar permanentemente o site da SPTrans, até para não ocupar o extrato, pra todo mundo é mais fácil se você tiver um contato mensal do que quatro contatos mensais. Lá fora você tem de tudo, mas lá isso é algo com mais de 20 anos de uso. É uma questão do aculturamento da empresa pública e do cidadão.


 
Já Figueira alerta que a eventual perda de receita no sistema de trens (metrô e CPTM) da ordem de até R$ 108 milhões, segundo estimativa do governo estadual, e a necessidade de aumento do subsídio aos ônibus da capital em R$ 400 milhões, de acordo com dados da secretaria municipal de Transportes, ganhará ainda maior importância se a demanda de usuários do Bilhete Único Mensal superar as expectativas das autoridades, levando a uma necessidade do aumento de veículos nos finais de semana.


 
O mestre em engenharia de transportes pela USP disse também que a sugestão trazida a público por Haddad em agosto, com base em um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) que aponta que, com um aumento de R$ 0,50 no preço da gasolina, seria possível baixar até R$ 1,20 no preço do transporte da capital, pode ser uma alternativa na discussão do financiamento dos custos.


 
— Para garantir essa oferta você tem custos e isso tem que entrar no bolo do equilíbrio tarifário global, aí vem a pergunta: quem paga essa conta? Para que seja financiada uma melhoria quantitativa e qualitativa do sistema, no qual o Bilhete Único Mensal é um dos elementos que ajudam esse grupo de usuários é que exista uma forma de financiamento. O que eu defendo é o uso da Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico), para que a União aprove uma lei que permita a todos os municípios do País receberem o dinheiro carimbado e destinado obrigatoriamente para a tarifa do transporte público. Aí você consegue ter uma forma de subsídio cruzado, através do aumento da gasolina.





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