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Politica Brasil
Quinta - 26 de Janeiro de 2006 às 07:48
Por: Amado de Oliveira Filho

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Os pecuaristas brasileiros estão tendo que matar não um boi, mas um leão por dia para se manterem na atividade. Não se trata de uma frase de efeito, basta verificarmos que estão em constante busca de alternativas para a comercialização da produção, estão sempre buscando manter e ainda melhorar a excelente carne bovina, a mesma sociedade que aprecia a carne bovina cobra a categoria em função dos impactos ambientais, convivem com constantes aumentos dos insumos, calotes por parte de alguns frigoríficos e segue um rosário interminável de itens.

O preço da carne na gôndola dos supermercados assusta a população, a chiadeira é geral, por outro lado, os preços nunca estiveram tão baixos para os pecuaristas! Para se ter uma idéia do cenário do mercado, hoje se vende uma vaca prenhe a preço de um bezerro desmamado três anos atrás, isto faz com que os produtores descapitalizados vendam suas vacas para o abate, com isto, já observamos uma desaceleração no crescimento do rebanho, especialmente, no Estado de Mato Grosso.

A pergunta que se faz é se temos excesso de oferta. Sem analisar com maior atenção pode-se responder que sim, porém, a realidade não é esta, segundo dados da CONAB, as disponibilidades internas de carne bovina durante o ano de 2005 foram de 7,1 milhões de toneladas, para um consumo projetado de 7,4 milhões de toneladas, ou seja, faltaram durante o ano passado para um perfeito equilíbrio entre oferta e demanda 300 mil toneladas. Mesmo assim, 2005 foi o ano de recordes de preços baixos para o produtor e, se algo não for feito, a situação se agravará no decorrer deste ano.

Quanto ao mercado externo, em 2005, exportamos 2,1 milhões de toneladas, perdemos mercados num grave acidente de percurso e teremos de reconquistar estes mercados em 2006, porém, quando comparamos o desempenho de abate do ano passado em relação ao de 2004, verificamos que apesar do problema gerado pelos focos de aftosa, ainda aumentamos de 21,51% para 22,03% a nossa taxa de abate. Porque então a redução drástica no preço pago ao produtor rural? Não tem sentido!

Em Mato Grosso surge uma grande novidade, os produtores estão pleiteando na justiça a assunção de um Frigorífico, o famigerado “Frigoverdi”, trata-se de uma planta industrial com capacidade para abater até mil cabeças de gado por dia que vinha sendo operado pelo Frigorífico Margen que fechou algumas unidades no País. A engenharia que depende e certamente terá o aval do Poder Judiciário, em função da falência do Frigoverdi, é a de que a COOPEMAT – Cooperativa dos Pecuaristas do Estado de Mato Grosso, assuma o controle do frigorífico, utilizando-se dos créditos de mais de R$ 20 milhões em cabeças de gado que aproximadamente 420 produtores entregaram em 2001 para abate e nunca viram a cor do dinheiro.

Sob o aspecto econômico e principalmente de mercado o surgimento da COOPEMAT é extremamente interessante, apesar de não ser a ideal, porém, ao assumir as atribuições de industrializar e comercializar a carne bovina, os pecuaristas terão a oportunidade de desmistificar a complexa relação entre o setor produtor primário e a indústria, a mala preta será aberta e certamente que os resultados obtidos serão divulgados e serão ferramentas poderosas na formação de preços da cadeia da carne bovina. Assim, quem sabe num futuro breve, verificaremos a necessária harmonia na cadeia da pecuária de corte.

Possivelmente os produtores da pecuária mato-grossense consigam colocar em funcionamento um bom frigorífico, isto significa o resgate de mais de 350 empregos diretos, outros tantos indiretos, e arrecadação de impostos para as três esferas de Governos. Destarte, significa mais ainda, pois estarão os pecuaristas de nosso Estado, resgatando os investimentos equivocados da antiga SUDAM, logicamente que obtido com a complacência do Governador da época. Por outro lado, veremos um pequeno ajuste nos tortuosos caminhos da pecuária!

Amado de Oliveira Filho é economista em Cuiabá e escreve as quartas feiras para A Gazeta.




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