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Politica Brasil
Terça - 24 de Janeiro de 2006 às 15:53
Por: KLEBER LIMA*

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Uma das mazelas que herdamos do patrimonialismo que grassou a história monárquica é a perda da fronteira entre o público e o privado, manifestada, entre outros, pelas homenagens que se dá a familiares e amigos próximos dos governantes com os batismos de logradouros públicos com seus nomes.

A república, o regime da coisa pública, representaria uma ruptura conceitual e formal com esse patrimonialismo, mas há certos valores que, depois de absorvidos e internalizados, perduram quase que pra sempre.

Mato Grosso é um belo exemplar deste estilo político patrimonialista, onde invariavelmente todos os familiares de políticos acabam virando nomes de praças, ruas, escolas, etc, na maioria das vezes sem qualquer merecimento.

Nossas leis já trataram desse tema. Em 1989 a Assembléia Legislativa aprovou a lei 5.435, proibindo essas homenagens a pessoas vivas. De certa forma, um avanço, porque impediria, pelo menos, o uso político da homenagem e dos logradouros. Mas, em 2002 a lei foi revogada (Lei 7648) para se permitir a homenagem ao Dr. Paraná, que dá nome ao acesso à Ponte Sérgio Motta, em Cuiabá e Várzea Grande (lei 7649). Desde então, tá tudo liberado.

Abordo esse assunto a propósito da “polêmica” em torno da homenagem que o Governo do Estado fará ao professor Aecim Tocantins, batizando com seu nome o complexo esportivo a ser construído na área ociosa do Verdão.

Embora deteste e reprove essa prática patrimonialista, não há como negar reconhecimento a Aecim Tocantins. Penso que qualquer forma de homenagem que se queira prestar a ele, ela estará sempre aquém da sua grandiosidade, do seu valor simbólico para este Estado cada vez mais carente de símbolos não perecíveis.

Justifico o que digo. Aecim Tocantins tem 82 anos de idade. Foi o primeiro presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Mato Grosso, vereador, vice-prefeito e prefeito de Cuiabá. Secretário Geral do Estado (equivalente da Casa Civil de hoje). Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. Conselheiro do Tribunal de Contas de Mato Grosso. Batiza creche em Cuiabá. Já deu nome a prêmio de universidades e entidades diversas. Fonte de várias pesquisas sobre a história de Mato Grosso e da sua Capital. Presidente da Associação Mato-grossense dos Estudantes. Professor. Pai. Marido. Cidadão. E tudo isso sem absolutamente nenhum reparo à sua biografia, à sua retidão, ao seu compromisso com as bandeiras mato-grossenses, sem viés ideológico.

O currículo acima foi obtido em 15 segundos, numa pesquisa no Google. Qualquer um que ainda assim tenha dúvida sobre sua honorabilidade pode conversar com qualquer cuiabano com mais de 30 anos que saberá inúmeras histórias virtuosas a seu respeito.

É deste homem, desta legenda, deste ícone da sociedade mato-grossense e cuiabana, que meia-dúzia de desportivas está protestando pela homenagem que o governo do Estado lhe dará.

Deveriam se envergonhar. A homenagem não pode se prender ao fato do homenageado estar ligado diretamente à obra física. Sua dimensão deve ser histórica, coletiva, social, por seu simbolismo. É o caso de Aecim Tocantins, um homem que viveu e vive Mato Grosso na sua plenitude e totalidade, há mais de 80 anos! Façam fila e vão pedir-lhe desculpas. Mato Grosso não pode permitir essa afronta a um de seus filhos mais ilustres, que deveria se chamar, na verdade, Aecim Mato Grosso.

KLEBER LIMA é jornalista e Consultor de Comunicação da KGM SOLUÇÕES INSTITUCIONAIS. kleberlima@terra.com.br / www.kgmcomunicacao.com.br.




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