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Internacional
Quinta - 19 de Janeiro de 2006 às 18:24

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A liderança de Cuba começou a se preparar para o dia em que Fidel Castro faltar, para evitar que o sistema comunista dê lugar a um vácuo político. Pela primeira vez, funcionários do governo discutem publicamente o que antes era tabu — o que vai acontecer quando Fidel sair de cena, por morte ou incapacidade?

O próprio Fidel, que completa 80 anos em 2006, abriu o debate sobre o futuro de Cuba, quando disse em discurso na Universidade de Havana, no dia 17 de novembro, que a ganância, a corrupção e o desperdício estão ameaçando a revolução que ele iniciou há 47 anos.

"Este país pode se autodestruir, esta revolução pode se autodestruir", alertou. Em seguida, perguntou aos estudantes, retoricamente, como Cuba poderá preservar o socialismo "quando aqueles que foram a vanguarda, os veteranos, começarem a desaparecer e a dar espaço a novas gerações de líderes".

Pela Constituição cubana, o irmão mais novo de Fidel, Raúl Castro, é o primeiro na linha de sucessão. Atualmente, Raúl é ministro da Defesa, primeiro vice-presidente da República e segundo-secretário do Partido Comunista, o único da ilha.

Mas muitos cubanos duvidam que ele tenha carisma e ambição para suceder seu irmão, que há quase meio século concentra o poder nas suas mãos.

O chanceler Felipe Pérez Roque, o mais destacado de uma nova geração de líderes cultivada por Fidel, disse em 23 de dezembro na Assembléia Nacional que, no futuro, haverá "um vazio que ninguém pode preencher".

"O debate pela primeira vez é público", disse o dissidente Manuel Cuesta Morúa, dirigente do grupo moderado de oposição Arco Progressista.

"As pessoas podem falar um pouco mais alto sobre a morte de Fidel, mas Felipe a mencionou publicamente", disse ele.

Em um evento bem coreografado, Fidel cedeu o discurso de encerramento na Assembléia Nacional ao seu protegido, de 39 anos, que ocupou a cadeira normalmente usada por Raúl Castro, que estava ausente.

NOVA GERAÇÃO

"Fidel está tentando transferir o poder para a próxima geração, em vez dos revolucionários da velha guarda", disse um embaixador europeu.

"A questão é se a população cubana apóia um sucessor. O governo sabe que as pessoas estão muito descontentes", disse o diplomata.

Plenamente ciente de que os EUA tentam impedir a sucessão e transformar Cuba em uma democracia capitalista, Fidel recorre a uma nova geração para limpar a casa.

Em outubro, enviou equipes de jovens voluntários para operarem postos de gasolina e impedirem a venda de combustível no mercado negro, prática comum no país.

Alguns diplomatas europeus dizem que o combate à corrupção e algumas medidas contra os cubanos "novo-ricos" lembram a Revolução Cultural da China, há 40 anos.

Desde 2003, Cuba reforçou o controle estatal sobre as finanças e restringiu ainda mais a iniciativa privada, aparentemente para tentar resguardar o regime comunista de qualquer mudança.

Os cubanos moram em casas dilapidadas, andam em ônibus precários e enfrentam graves dificuldades econômicas desde o fim da União Soviética, em 1991.

Fidel vem se dedicando à gigantesca tarefa de reformular o obsoleto sistema elétrico da ilha, prometendo o fim dos "apagones" que alimentaram o descontentamento no último verão local, em meados de 2005.

O governo aumentou os salários e pensões no ano passado, mas continua existindo uma enorme diferença entre os que recebem os magros salários em pesos cubanos e os que têm acesso a pesos "conversíveis", que valem como moeda forte, graças ao turismo e a remessa de parentes nos Estados Unidos.





Fonte: Reuters

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