Mukhtar Mai revela seu drama em livro para ajudar paquistanesas
Em vez de se suicidar, como fazem muitas mulheres na mesma situação, ela denunciou os fatos perante a Justiça de seu país e conseguiu, em uma sentença inédita, a condenação de seus estupradores à morte, pena ainda a ser executada, e uma indenização com a qual montou uma escola.
Trajada com uma veste tradicional de seu país e com um casaco para se proteger da fria amanhã, Mai teve um encontro com jornalistas próximo à Torre Eiffel.
A professora do Corão evitou relatar sua violação porque - confessa - é doloroso, e ressaltou a importância de "todos estarem unidos nesta batalha" em favor do respeito às mulheres.
Tímida, Mai se mostrou "emocionada, mas não surpresa" pela repercussão que seu caso teve e ressaltou que "primeiro foi Deus e depois o apoio das pessoas" que lhe deu a força para "continuar com sua luta".
O caso de Mukhtar é a história de "Deshonorée" (Desonrada), livro no qual relata os últimos quatro anos de sua vida, a partir do julgamento de seu irmão, encerrado com sua condenação ao estupro, com o qual inicia a narração.
Na obra, ela explica que aceitou se apresentar ao conselho do poderoso clã Mastoi a pedido de seu pai para salvar seu irmão da acusação de "zina", relacionada aos pecados de violação, adultério e relações fora do casamento, que segundo a sharia, a lei islâmica, poderia condená-la à morte.
Mai conta que estava tranqüila no julgamento porque era uma "pessoa respeitada, que conhecia muito bem o Corão e o ensinava às crianças da aldeia" e porque "ninguém nunca tinha falado mal dela".
No entanto, o conselho decidiu a violação múltipla, uma opção que ela não podia imaginar: "Não sabia que era possível uma violência assim", diz no livro.
Em "Deshonorée", escrito por Marie Thérese Cuny - autora de "Não sem minha filha"-, Mai revela que pediu à sua mãe que a ajudasse a se suicidar após tal desonra. Entretanto, a Polícia foi buscá-la antes em sua casa para que fizesse uma denúncia, já que sua história causou grande repercussão depois de seu relato a um jornalista local.
Mai, que está com 33 anos, reconheceu que "às vezes tem medo das represálias em seu país", embora seja protegida pela Polícia.
Transformada em uma celebridade, a paquistanesa agora freqüenta as grandes rodas e nesta segunda-feira foi recebida pelo ministro de Assuntos Exteriores da França, Philippe Douste-Blazy, que louvou a "coragem" de Mai para "romper o silêncio em seu país" sobre as práticas que atentam contra a dignidade das mulheres.
Douste-Blazy convidou Mai a participar em junho de um encontro na França sobre os direitos das mulheres e também será a convidada de honra da próxima edição da Universidade de Outono, organizada anualmente pelo movimento feminista francês "Nem prostitutas, nem submissas", que considera Mukhtar um modelo para muitas mulheres por sua denúncia.
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