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Economia
Quinta - 12 de Janeiro de 2006 às 07:11

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Não existem fórmulas mágicas para impulsionar no curto prazo um crescimento econômico acelerado, e ao mesmo tempo sustentável, no Brasil. Na avaliação de quatro importantes economistas internacionais ouvidos pela BBC Brasil para comentar as perspectivas da economia brasileira, o país precisa esperar para poder crescer mais. Para o brasilianista americano Albert Fishlow, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos e do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Columbia, em Nova York, o Brasil tem hoje “uma economia com grandes possibilidades de crescimento” e deveria procurar manter a estabilidade conquistada ao invés de buscar alternativas “dos anos 1970”.

“Não estamos mais na década de 1970, estamos no século 21, num mundo globalizado, no qual as decisões privadas têm um impacto grande sobre a economia e as exportações têm um peso maior”, diz ele.



Fishlow considera que o Brasil precisa hoje “intensificar o esforço” que vem fazendo na economia, “reconhecendo que fechar suas fronteiras e sua economia com tarifas altas e produzir só para dentro não representa uma solução para o futuro”.

Os especialistas consultados admitem que o baixo crescimento econômico do Brasil em comparação com os demais países da América Latina e com os países emergentes em geral é decepcionante, mas consideram que não é possível uma mudança drástica de política econômica que permita um crescimento maior no curto prazo sem comprometer a situação futura.

Para os analistas, o crescimento atual relativamente baixo pode ser compensado com a adoção de políticas que podem garantir um crescimento sustentável de longo prazo, evitando altos e baixos.

Crescimento sustentável

O chileno Sebastián Edwards, ex-economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e para o Caribe e atual professor de economia da Universidade da Califórnia, considera que as políticas econômicas adotadas pelo Brasil nos últimos anos colocaram o país em uma posição privilegiada para conseguir um crescimento sustentável no longo prazo.

“O que o Brasil vem fazendo nos últimos três anos é colocar a casa em ordem. Hoje o Brasil está em uma condição muito melhor do que a Argentina, mas em 2001 ambos estavam em situação parecida”, diz ele. Para Edwards, o alto crescimento argentino nos últimos dois anos, superior a 8% ao ano, não deve ser sustentável no longo prazo sem uma pressão inflacionária.

Cautela

É preferível ficar com uma política mais moderada em uma época de prosperidade como agora, em vez de ter um grande boom e depois um colapso, como aconteceu com freqüência na América Latina no passado

John Williamson O americano John Williamson, ex-conselheiro do Fundo Monetário Internacional e atual pesquisador-sênior do Institute for International Economics, defende que o Brasil “não pode crescer a taxas de 5% ou 6% ao ano sem que haja primeiro um aumento considerável de investimentos”. Porém, para isso aconteça, segundo ele, precisa haver antes a confiança dos investidores.

“O Brasil poderia talvez crescer um pouco mais agora com uma política econômica mais agressiva, mas realmente no longo prazo é preferível ficar com uma política mais moderada em uma época de prosperidade como agora, em vez de ter um grande boom e depois um colapso, como aconteceu com freqüência na América Latina no passado”, diz Williamson, criador do termo “Consenso de Washington”, usado para definir o receituário econômico neoliberal adotado por grande parte dos países emergentes nos anos 1990.

Monetaristas X Desenvolvimentistas

A divulgação, em novembro passado, da queda de 1,2% no Produto Interno Bruto brasileiro no terceiro trimestre deste ano reacendeu o debate, até mesmo dentro do governo, entre os chamados monetaristas, que defendem a política econômica ortodoxa em vigência, e os desenvolvimentistas, que pregam uma flexibilização dos controles antiinflacionários e um aumento dos gastos públicos como forma de estimular o crescimento.

Um editorial publicado pelo jornal britânico Financial Times em dezembro afirmou que a estabilidade econômica não é o suficiente e que o Brasil precisa crescer mais rapidamente se quiser fazer parte do grupo de países cujo crescimento “está modificando gradualmente a economia mundial”, como China, Índia e Rússia.

O jornal disse que a falta de investimentos, os juros altos e também a valorização do real representam um problema para o crescimento e sugeriu que o Banco Central seja mais agressivo em suas políticas monetárias e que alivie a pressão sobre o real permitindo que os exportadores retenham os dólares de seu faturamento por um período maior.

Porém, para o principal colunista do jornal, o ex-economista do Banco Mundial Martin Wolf, o crescimento rápido da Índia e da China está relacionado a questões como o custo baixo da força de trabalho comparado com o nível relativamente alto de educação nestes países e as altas taxas de poupança e investimento.

“A taxa de investimento no Brasil é de cerca de 20% do PIB, e a taxa de poupança é quase a mesma. Na China, a taxa de investimento é de 45% do PIB, enquanto a taxa de poupança chega a 50%”, diz Wolf. “Então, não é uma surpresa que o crescimento chinês seja duas vezes e meia maior do que a do Brasil. Seria uma surpresa se não fosse”, diz.

Para John Williamson, é difícil comparar o crescimento econômico brasileiro à expansão verificada em países como a Índia e a China, que cresceram no ano passado a uma taxa de 6,9% e 9,5%, respectivamente, segundo o Banco Mundial. “A Ásia em geral está crescendo muito mais rapidamente do que a América Latina, com a exceção do Chile”, diz.

Investimento privado É errado esperar que o Estado possa repetir a experiência da época do milagre econômico

Albert Fishlow Albert Fishlow avalia que o Banco Central levou muito tempo para iniciar os cortes nas taxas de juros, mas também considera a falta de investimentos o principal entrave ao crescimento econômico hoje.

“A queda do PIB no terceiro trimestre mostra que a decisão de reduzir a taxa de juros foi adiada mais do que deveria ter sido, mas o que esquecemos sempre, criticando o Banco Central e colocando a taxa de juros como o elemento fundamental do problema, é a falta de investimento real na economia”, diz ele.

“Faz muito tempo que a taxa de investimentos no Brasil está muito abaixo de 20% do PIB. Para conseguir um crescimento sustentável, da ordem de 4,5% ou 5% ao ano, é necessário um investimento de pelo menos 25% do PIB”, afirma Fishlow.

Ele considera, no entanto, que esse aumento nos investimentos deve vir essencialmente do setor privado, dada a grande redução na capacidade de investimento do Estado.

“É errado esperar que o Estado possa repetir a experiência da época do milagre econômico”, avalia Fishlow, fazendo uma referência ao período de forte crescimento econômico promovido nos anos 1970 pelo investimento do governo brasileiro em grandes obras.

Bases para o crescimento

Martin Wolf considera que as atuais políticas econômicas estão criando as bases para um crescimento sustentável. “Após mais de 20 anos de má administração crônica, finalmente foram estabelecidas as fundações para um crescimento sustentável de longo prazo”, afirma.

Para ele, “crescimento gera crescimento”, e por isso parte da razão do baixo nível de expansão econômica do Brasil é que “nos últimos 25 anos o crescimento brasileiro foi instável e interrompido, com um efeito significativo sobre a confiança dos investidores”.

“Houve nesse período uma série de crises macroeconômicas e cambiais. Foi um longo período de inflação alta, com uma conseqüência inevitável para o desenvolvimento de longo prazo”, diz ele.

Wolf considera que “as preocupações sobre a estabilidade do Brasil foram superadas lentamente, particularmente com o atual governo mantendo-se fiel à política econômica ortodoxa”.

“O Brasil parece ter chegado ao ponto, no lado macroeconômico, no qual a base para um crescimento mais rápido existe. Mas a exploração dessa possibilidade depende da manutenção dessas políticas econômicas e também da melhora do desempenho dos investimentos, da taxa de poupança e da educação”, diz. “Se todas essas coisas ocorrerem, o país pode crescer rapidamente no longo prazo.”




Fonte: BBC Brasil

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