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Politica Brasil
Sábado - 07 de Janeiro de 2006 às 14:35

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O partido mais indefinido do País, o PMDB, está desenhando o quadro eleitoral de 2006. A inesperada aparição do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia como favorito na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes nas próximas eleições, segundo a pesquisa DataFolha de dezembro passado, quebrando o dilema PT versus PSDB no santuário do petismo e do tucanato, consolida a opção de uma terceira via presidencial nas eleições de outubro. “O povo quer alternativa, quer sair da mesmice; nem PT, nem PSDB”, constata o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), feliz com a musculatura de seu partido: 15 milhões de intenções de voto na legenda em outubro próximo, dois milhões de filiados, nove governadores, 1.059 prefeitos (dois de capitais), 82 deputados federais, 21 senadores e três ministros (Minas e Energia, Comunicações e Saúde).

Os outros dois pólos de poder miram, preocupados, o PMDB e se movimentam para evitar o seu crescimento. O PSDB rasga a fantasia de candidato do governador Geraldo Alckmin, em São Paulo, onde o prefeito José Serra dispara nas pesquisas como principal oponente de Lula ainda no primeiro turno. Enquanto isso, o PT tenta superar a crise do mensalão resgatando sua primeira e única opção: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda há pouco simulava hesitação. Na quinta-feira 5, em Salvador, o ministro Jaques Wagner (Articulação Política) anunciou que Lula vai se lançar candidato à reeleição e formalizará sua intenção até o início de março.

Com estes movimentos, a primeira semana de 2006 aponta para uma novidade: os três maiores partidos brasileiros – PT, PSDB e agora o PMDB – vão disputar, para valer, a Presidência da República dentro de dez meses. Parece ter acabado, de vez, a longa fase de indefinição de um PMDB rachado, dividido entre os governistas que apóiam o Planalto, os oposicionistas que batem no PT e os independentes que querem candidatura própria. A crise ética do PT, o escândalo do mensalão e a queda de popularidade de Lula ajudaram a unificar a idéia de um PMDB desatrelado do governo. Até o mais fiel defensor da aliança, o presidente do Congresso, Renan Calheiros (AL), cansou: “Não há mais clima para apoiarmos o presidente Lula. O PMDB terá candidato próprio”, diz, dobrando a resistência do senador José Sarney (AP), que já não fala contra a candidatura peemedebista.

A executiva nacional do partido, que geralmente refletia posições simpáticas ao Planalto, deve confirmar no próximo dia 24 a prévia de março, que vai definir o nome do candidato. Dois candidatos já existem: o ex-governador Anthony Garotinho (RJ), que há meses trabalha as bases estaduais com devoção, e o governador Germano Rigotto (RS), que assumiu publicamente sua pré-candidatura no último mês de 2005. Um terceiro candidato se insinuou, no final do ano, para o próprio Lula: o gaúcho Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal. Disposto a deixar a corte antes do prazo de desincompatibilização, em 2 de abril, ele sonhava com o consenso que o dispensasse da prévia. Mas esbarrou justamente em sua base natal: “Não sou anti-Jobim, sou pró-Rigotto”, disparou o senador Pedro Simon, presidente do PMDB gaúcho, rifando as chances de Jobim.

Corrida de apoios – Enquanto Jobim sonha, Rigotto conversa e Garotinho trabalha. O governador gaúcho almoçou, na sexta-feira 6, com o governador Joaquim Roriz em Brasília, passa o domingo com o colega Luís Henrique em Florianópolis e divide a segunda-feira 9 com Orestes Quércia, em São Paulo, e com o governador do Paraná, Roberto Requião, em Curitiba. Como no Sul, onde se elegeu correndo por fora da disputa entre o ex-prefeito Tarso Genro (PT) e o ex-governador Antônio Britto (PSDB), Rigotto procura ser o candidato do PMDB no segundo turno – contra Lula ou a dupla tucana Serra-Alckmin. Quem sobrasse poderia dar os votos que faltassem para o PMDB; enfim, realizar o sonho acalentado desde Ulysses Guimarães. Garotinho, por sua vez, bate na casa dos 20% nas pesquisas de intenção de voto e, segundo pesquisa recente de telemarketing, o ex-governador está em situação confortável. Para 63% dos ouvidos, o PMDB tem muita chance de fazer o presidente. A pesquisa também apontou que 68% dos que defendem candidatura própria têm preferência pelo nome de Garotinho. Apenas 10% apoiaram a postulação de Rigotto.

O desempenho do partido nos Estados, insuflado pela performance de Quércia em São Paulo, deve anabolizar ainda mais a sigla. Além de reeleger os governadores de Espírito Santo, Amazonas, Santa Catarina, Paraná e Tocantins, o PMDB acredita que pode vencer em outros dez Estados, aumentando a bancada do Senado para 30 cadeiras e fazendo a maior bancada da Câmara – 100 deputados. Ganhando ou não a corrida ao Planalto, seria mais uma vez o maior partido do Congresso, indispensável para qualquer presidente.

A candidatura presidencial do PMDB deve ser o fato novo da sucessão presidencial de 2006. Depois de três anos trocando sopapos internos, para apoiar ou se opor ao governo Lula, os peemedebistas estão descobrindo as vantagens de se manterem unidos. “O PMDB está superando suas divergências”, diz o governista Renan Calheiros – entoando o mesmo discurso do oposicionista Michel Temer. A dupla afinada de hoje descobriu que deve brigar, unida, contra os adversários de todo o PMDB: os petistas e os tucanos.





Fonte: Istoé

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