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Meio Ambiente
Sábado - 31 de Dezembro de 2005 às 08:14
Por: Roseli Riechelmann

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Um pedaço da natureza refletido na alma do observador. Muito mais do que ver a obra, o admirador se vê na obra, mergulhando num mundo de fantasias, beleza e tranquilidade. Esses são alguns dos sentimentos que a mostra Reflexões do Cerrado, de Rogério Lenzi, promete despertar nos visitantes. A exposição será aberta hoje e ficará em cartaz até 20 de dezembro, no Espaço Cultural Angela Guedes.

Utilizando técnica própria, desenvolvida em oito anos de pesquisa, Rogério Lenzi apresenta cerca de 100 peças, de vários tamanhos, formatos e composição temática. Existem espelhos decorados com medidas a partir de 15 cm, outros com mais de 1 metro. Neles são impressas cenas variadas abordando temas florais, aquários, cozinhas, paisagens pantaneiras e campestre. Existem até mesmo alguns com ares chineses.

A produção artística das peças nasce com o processo de coleta do material. Embrenhando-se na mata, pede licença aos moradores - aranhas, abelhas, mosquitos, cobras e outros - para coletar desse habitat talos, sementes, flores que utilizará na produção das peças. A execução das obras é totalmente singular. Não apenas pela aquisição do material, mas pelo conhecimento necessário para eternizar a proposta. "É importante conhecer as flores que seguram cor", informa o artista. Outro ponto, destaca a curadora Ângela Guedes, é conhecer o ciclo das plantas, das mudanças climáticas. No período de chuvas, por exemplo, não se colhe nada.

O trabalho de observação ajuda o artesão a tirar o melhor do cerrado e transferir essa qualidade para as obras. O processo de produção das peças passa por várias etapas: coleta, armazenamento, secagem, organização e catalogação. "A coleta exige visitas constantes ao cerrado", revela. E garante voltar ao mesmo local várias vezes até encontrar o momento ideal da coleta. Outro ponto é busca por inspiração. "Às vezes caminho a tarde toda e não consigo colher nada. Em compensação, varo a noite e madrugada criando", diz.

Rogério "vingou" no cerrado. Após fugir da agitada vida urbana de Campo Grande, anos atrás, se conectou com a mata de Chapada dos Guimarães e como as floradas criou um ciclo próprio. A produção do artista está interligada aos períodos de seca e da chuva, pois são eles que determinam a melhor época para produzir.

Entre o material de trabalho estão três listas telefônicas, equipamento utilizado para o armazenamento das plantas coletadas. Somado a técnica está o olhar firme e aguçado do artista para o chão. É assim que captura peças fundamentais para a criação. Tudo deve ser coletado na hora, porque as flores murcham rapidamente quando expostas.

Segundo Rogério, mesmo sem bases científicas, conseguiu desvendar procedimentos importantes para o melhor aproveitamento do material recolhido. "O horário ideal, a partir das 10h, pois as plantas estão secas de orvalho e não mofam ao desidratarem", revela. Um trabalho pioneiro que vai além do coletar. O artista também semeia plantas em casa, principalmente aquelas que utiliza para a produção das peças. O objetivo é conhecer melhor o ciclo das plantas e saber a melhor hora para a coleta.

O buriti é a grande paixão. Segundo ele, pela oferta de matéria-prima que oferece. "A planta fornece palha, talo, fruto, além de ser um indicador de água", relata. Com os talos de buriti o artista produz as molduras dos espelhos. Os talos são selecionados in loco, cortados secos no pé, em diversos buritizais. Uma poda ecologicamente correta onde é feita a seleção dos talos com defeito, como os arqueados e os retorcidos.

Todo o trabalho resulta nas peças que agora serão colocadas à venda e o comprador poderá ter em casa um pedaço dos espelhos d"água do artista, parte daquilo que se vê nas matas. "Água espelho que reflete a harmonia de quem vive em simbiose com a natureza", definiu Cristina Campos no texto de divulgação da exposição. Com uma peça de Rogério Lenzi, há quem diga que a pessoa terá em casa formas e cores da mata, energizando o ambiente onde for instalado.

A exposição Reflexos do Cerrado é mais uma proposta inovadora apresentada pelo Espaço Ângela Guedes que há um ano está com as portas abertas para trabalhos cuja proposta é valorizar a terra e as riquezas naturais. No local, o visitante poderá entrar em contato com diferentes forma de artes, impressas em telas, papel, ou espelhos.

Serviço - A exposição Reflexos do Cerrado será aberta hoje no Espaço Cultural Ângela Guedes - que fica na rua Sírio Libanesa, 61, Bairro Popular, Cuiabá. A exposição fica no local até o dia 20 de dezembro, das 9h às 20 horas (2ª a 6ª feira) e das 10h às 18h, aos sábados.




Fonte: gazeta digital

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