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Reiventando a Nação
Este foi um ano de ruptura definitiva com o passado. Com Lula, fecha-se o ciclo dos resquícios do período militar, onde a última das crias políticas da ditadura foi provada e se mostrou a mais ineficiente na condução do Estado. Isso não quer dizer que o caminho esteja aberto para a instalação de uma nova ditadura, pelo contrário, o caminho está traçado para a democracia apesar de pontuais desajustes. O povo brasileiro descobriu-se democrata e isso vem fazendo a diferença diante do delicado momento político que o país vem enfrentando, em razão de consecutivas denúncias e comprovações de um esquema gigante de desvio de recursos públicos.
Um ponto importante, é que esta crise moral vem provando a capacidade de assimilação dos fatos políticos, mesmo que cada extrato social perceba em seu tempo especifico. Exemplo disso foi o desgaste do presidente que demorou cerca de seis meses para ser percebido pela população mais carente e o que o desencadeou, não foi o esbulho em si, mas a quebra de uma cumplicidade que o Partido dos Trabalhadores tinha conseguido estabelecer com a população durante a última campanha eleitoral.
De todos os pecados cometidos pelo PT na condução do Estado, alguns se destacaram pela sua pretensão autocrata atuando em todas as frentes possíveis. A tentativa constante de intimidar e impedir as diferenças de pensamento demonstrou o pouco apego a democracia. Para isso, utilizou o expediente que marcou o ano, a compra da consciência do Parlamento, que apesar de não chegar a ser uma inovação, ganhou proporções tais, que provocou o descrédito do Congresso Nacional que hoje é visto como uma Instituição a serviço, não do Estado ou do Povo como deveria ser, mas de um partido político e a obvia conseqüência, a frustração epidêmica que causou na população brasileira. O tamanho do estrago ainda não é possível mensurar, mas reverter a situação será a missão dos próprios partidos políticos, que terão que passar por uma reestruturação e redefinição de posições.
O momento de uma reforma política é este. Vendo hoje, essa reforma se tivesse ocorrido antes, seria ineficaz; mas hoje, a Nação pede e já está madura, logo, não pode ser adiada.
É bom frisar que essa frustração não é obra apenas do PT, é também decorrente da atitude das oposições que se mostraram despreparadas e fracas. Essas oposições são compostas pelo PMDB, PFL e PSDB. O PMDB tem comportamento dúbio, nem oposição, nem situação. Metade apóia o governo em troca de favores, outra metade se opõe visando um bem maior mais a frente, mas sem um rastro de contundência. Portanto, um partido dividido. O PFL e o PSDB, as duas grandes oposições do governo federal, agiram dentro de uma estratégia não compreendida pela população. Deixaram que as denúncias e comprovações fossem se arrastando até que, mesmo em proporção menores, foram evolvidos no mesmo balaio. A diferença entre os crimes por eles cometidos e os crimes realizados pelo PT é, sem dúvida, a proporção e a razão. A corrupção praticada pelo PT, ou pela cúpula do PT, além de gigantesca, veio acompanhada por um caráter idealista que eles julgavam ser um atenuante do pecado. Não é. Assim como os seqüestradores de Abílio Diniz que se esconderam atrás de um tal “seqüestro político”, na realidade cometeram um crime hediondo. O caráter ideológico do desvio de dinheiro público não é atenuante do crime.
Apesar da população brasileira ter absorvido os princípios da liberdade da democracia, vem percebendo que só existe um fator capaz de ameaçá-la. E esse fator vem sendo desencadeado pelo Judiciário e pela Polícia Federal. Em todo o Brasil é visível, mesmo que em ações pontuais, o interesse político orientando as decisões judiciais. A Polícia Federal, seguindo determinações da Justiça, vem realizando prisões, muitas vezes arbitrárias, e expondo pessoas, algumas inocentes, a humilhações e exposições desnecessárias e intransigentes. São julgamentos públicos e sumários, com conotação política.
Por que esse é um fator que ameaça a democracia? Porque isso pode provocar desde o descrédito de uma das mais importantes Instituições democráticas, a Justiça, até uma sensação de terror na população que pode passar a crer que não é preciso cometer ilícito para que seja condenado, bastando apenas que sua ideologia não seja a mesma que a deste ou daquele representante da Lei. Esse pode ser o ponto mais negativo da passagem do PT pelo poder, a abertura para a instalação de uma polícia política. Isso é muito grave.
Mas este ano de 2005 foi marcado principalmente pela queda de um mito, o mito Lula. Um líder sindical carismático, mas sem qualquer preparo ou um mínimo de consciência ideológica. Neste terceiro ano de governo provou o que estava óbvio desde o início. É um incapaz administrativo e um líder de palanque, apenas de palanque. Nas duas ultimas pesquisas realizadas em 2005, comprovadamente o Presidente não parece confiável para a condução do Estado, isso em todas as classes sociais. A rejeição ao estilo alienado do “não sei de nada”, “não vi nada” ou “não ouvi nada”, cansou, saturou a paciência da população que não espera de um Presidente uma postura abestada, mas uma postura firme e capaz de agir implacavelmente diante dos fatos. O povo precisa de um líder que seja superior a ele, que faça o que ele não tem poderes para fazer. Podemos considerar que esse desgaste chegou de forma irreversível, uma vez que a reversão só seria possível com uma mudança de comportamento do próprio Lula. E isso, convenhamos, é improvável.
Todos os acontecimentos de 2005 serão avaliados em 2006 durante o processo eleitoral. Há quem acredite que as próximas eleições serão de baixíssimo nível, baseada em denúncias. Acredito que o nível possa mesmo ser baixo, mas para conquistar a confiança e o voto da população, será considerado mais que a capacidade de responder a denúncias, será primordial um comportamento político/partidário sério e maduro, que sinalize não um milagre como no caso do PT em 2002, mas uma postura de preparo e competência na condução do Estado.
Mas, apesar do PT e de Lula, ou mesmo devido a eles, o caminho foi traçado para o nosso amadurecimento e despertou na consciência dos cidadãos a necessidade de reinventar a Nação.
Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas / RJ. Articulista do Jornal A Gazeta Cuiabá / MT.
E-mail: avandoni@uol.com.br Blog: http://argumento.bigblogger.com.br
Um ponto importante, é que esta crise moral vem provando a capacidade de assimilação dos fatos políticos, mesmo que cada extrato social perceba em seu tempo especifico. Exemplo disso foi o desgaste do presidente que demorou cerca de seis meses para ser percebido pela população mais carente e o que o desencadeou, não foi o esbulho em si, mas a quebra de uma cumplicidade que o Partido dos Trabalhadores tinha conseguido estabelecer com a população durante a última campanha eleitoral.
De todos os pecados cometidos pelo PT na condução do Estado, alguns se destacaram pela sua pretensão autocrata atuando em todas as frentes possíveis. A tentativa constante de intimidar e impedir as diferenças de pensamento demonstrou o pouco apego a democracia. Para isso, utilizou o expediente que marcou o ano, a compra da consciência do Parlamento, que apesar de não chegar a ser uma inovação, ganhou proporções tais, que provocou o descrédito do Congresso Nacional que hoje é visto como uma Instituição a serviço, não do Estado ou do Povo como deveria ser, mas de um partido político e a obvia conseqüência, a frustração epidêmica que causou na população brasileira. O tamanho do estrago ainda não é possível mensurar, mas reverter a situação será a missão dos próprios partidos políticos, que terão que passar por uma reestruturação e redefinição de posições.
O momento de uma reforma política é este. Vendo hoje, essa reforma se tivesse ocorrido antes, seria ineficaz; mas hoje, a Nação pede e já está madura, logo, não pode ser adiada.
É bom frisar que essa frustração não é obra apenas do PT, é também decorrente da atitude das oposições que se mostraram despreparadas e fracas. Essas oposições são compostas pelo PMDB, PFL e PSDB. O PMDB tem comportamento dúbio, nem oposição, nem situação. Metade apóia o governo em troca de favores, outra metade se opõe visando um bem maior mais a frente, mas sem um rastro de contundência. Portanto, um partido dividido. O PFL e o PSDB, as duas grandes oposições do governo federal, agiram dentro de uma estratégia não compreendida pela população. Deixaram que as denúncias e comprovações fossem se arrastando até que, mesmo em proporção menores, foram evolvidos no mesmo balaio. A diferença entre os crimes por eles cometidos e os crimes realizados pelo PT é, sem dúvida, a proporção e a razão. A corrupção praticada pelo PT, ou pela cúpula do PT, além de gigantesca, veio acompanhada por um caráter idealista que eles julgavam ser um atenuante do pecado. Não é. Assim como os seqüestradores de Abílio Diniz que se esconderam atrás de um tal “seqüestro político”, na realidade cometeram um crime hediondo. O caráter ideológico do desvio de dinheiro público não é atenuante do crime.
Apesar da população brasileira ter absorvido os princípios da liberdade da democracia, vem percebendo que só existe um fator capaz de ameaçá-la. E esse fator vem sendo desencadeado pelo Judiciário e pela Polícia Federal. Em todo o Brasil é visível, mesmo que em ações pontuais, o interesse político orientando as decisões judiciais. A Polícia Federal, seguindo determinações da Justiça, vem realizando prisões, muitas vezes arbitrárias, e expondo pessoas, algumas inocentes, a humilhações e exposições desnecessárias e intransigentes. São julgamentos públicos e sumários, com conotação política.
Por que esse é um fator que ameaça a democracia? Porque isso pode provocar desde o descrédito de uma das mais importantes Instituições democráticas, a Justiça, até uma sensação de terror na população que pode passar a crer que não é preciso cometer ilícito para que seja condenado, bastando apenas que sua ideologia não seja a mesma que a deste ou daquele representante da Lei. Esse pode ser o ponto mais negativo da passagem do PT pelo poder, a abertura para a instalação de uma polícia política. Isso é muito grave.
Mas este ano de 2005 foi marcado principalmente pela queda de um mito, o mito Lula. Um líder sindical carismático, mas sem qualquer preparo ou um mínimo de consciência ideológica. Neste terceiro ano de governo provou o que estava óbvio desde o início. É um incapaz administrativo e um líder de palanque, apenas de palanque. Nas duas ultimas pesquisas realizadas em 2005, comprovadamente o Presidente não parece confiável para a condução do Estado, isso em todas as classes sociais. A rejeição ao estilo alienado do “não sei de nada”, “não vi nada” ou “não ouvi nada”, cansou, saturou a paciência da população que não espera de um Presidente uma postura abestada, mas uma postura firme e capaz de agir implacavelmente diante dos fatos. O povo precisa de um líder que seja superior a ele, que faça o que ele não tem poderes para fazer. Podemos considerar que esse desgaste chegou de forma irreversível, uma vez que a reversão só seria possível com uma mudança de comportamento do próprio Lula. E isso, convenhamos, é improvável.
Todos os acontecimentos de 2005 serão avaliados em 2006 durante o processo eleitoral. Há quem acredite que as próximas eleições serão de baixíssimo nível, baseada em denúncias. Acredito que o nível possa mesmo ser baixo, mas para conquistar a confiança e o voto da população, será considerado mais que a capacidade de responder a denúncias, será primordial um comportamento político/partidário sério e maduro, que sinalize não um milagre como no caso do PT em 2002, mas uma postura de preparo e competência na condução do Estado.
Mas, apesar do PT e de Lula, ou mesmo devido a eles, o caminho foi traçado para o nosso amadurecimento e despertou na consciência dos cidadãos a necessidade de reinventar a Nação.
Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas / RJ. Articulista do Jornal A Gazeta Cuiabá / MT.
E-mail: avandoni@uol.com.br Blog: http://argumento.bigblogger.com.br
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