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Meio Ambiente
Quinta - 29 de Dezembro de 2005 às 07:40

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São Paulo - Cientistas europeus anunciaram a descoberta da mais antiga evidência de polegar falso em um fóssil de um ancestral do panda. Segundo o estudo, a novidade ajuda a entender os mecanismos da evolução em dois tipos distintos de pandas. Os resultados da pesquisa estão sendo publicados na Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).

O panda gigante (Ailuropoda melanoleuca) e o panda vermelho (Ailurus fulgens) são bem distintos um do outro. O primeiro é o mais conhecido, com pelagem branca e preta, e chega a pesar mais de 100 quilos. O outro, de pêlos avermelhados, lembra mais um texugo e tem em média 5 quilos.

Apesar de pouco parecidos, eles guardam muitas semelhanças. Ambos dividem a mesma origem, o continente asiático, correm risco de extinção e se alimentam de bambus. Mas o mais notável é que os dois contam com um falso polegar, um osso protuberante nos membros posteriores que oferece a eles uma notável habilidade para manipular os alimentos.

Famílias

Até poucos anos atrás os cientistas colocavam o panda vermelho na família Procyonidae, de pequenos roedores carnívoros. Recentemente, o mamífero passou a integrar a família Ailuridae e a relação com o panda gigante passou a ser melhor entendida.

Como os polegares falsos de cada panda são estruturalmente diferentes, achava-se que eles teriam evoluído de maneira independente, uma vez que não foram encontrados sinais da estrutura em fósseis de qualquer ancestral.

Agora, o grupo liderado pelo espanhol Manuel Salesa, da Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido, descobriu evidências do polegar falso em fósseis de Simocyon batalleri, espécie ancestral do panda vermelho, de carnívoros que subiam em árvores e viveram há milhões de anos.

Movimento e alimento Os fósseis, de dois espécimes, foram encontrados no sítio de Batallones-1, na Espanha, com registros do período Mioceno (de 23 milhões a 5,3 milhões de anos atrás).

De acordo com o novo estudo, as formações dos polegares entre as espécies Ailurus fulgens e S. batalleri são similares. Entretanto, uma vez que essa última não era herbívora, os pesquisadores apontam que ela deveria usar a estrutura para subir mais facilmente em árvores e evitar predadores.

Os resultados do estudo apontam que enquanto o polegar falso do panda gigante evoluiu pela manipulação do bambu, a mesma estrutura no panda vermelho é resultado de uma necessidade de movimentação. Segundo os cientistas europeus, com o tempo, os ancestrais do panda vermelho passaram a empregar o polegar falso também para lidar com os alimentos.

Evolução O surgimento do falso polegar foi estudado pelo paleontólogo norte-americano Stephen Jay Gould (1941-2002), em O polegar do panda (1980). No livro, o professor da Universidade de Harvard usa a curiosa estrutura óssea no mamífero para se debruçar no legado de Charles Darwin (1809-1882) e falar sobre os mecanismos da evolução.

Gould mostra que, ao adaptar o uso de uma estrutura especializada para uma determinada função em outra atividade, tem-se a oportunidade de observar a própria teoria da evolução em ação.

No estudo publicado agora na Pnas, os pesquisadores não deixam de lembrar o famoso exemplo lançado por Gould.




Fonte: Agência Fapesp

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