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Internacional
Terça - 20 de Dezembro de 2005 às 11:42

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A eleição de Evo Morales para a Presidência da Bolívia traz novos desafios à presença do governo Bush na América Latina, onde sua impopularidade cresce e a esquerda está em ascensão. Autoridades norte-americanas tentaram demonizar Evo Morales, um ex-líder cocaleiro e o primeiro indígena eleito presidente boliviano, desde que ele começou a ganhar destaque. O próprio Morales descreveu o seu Movimento ao Socialismo (MAS) como um "pesadelo" para Washington.

Mas Morales dá sinais de que poderá ser um líder pragmático e os Estados Unidos deveriam evitar confrontos, dizem analistas. "É importante reconhecer que ele claramente tem um mandato do povo boliviano. As pessoas sabiam em quem estavam votando", afirmou o analista Jess Vogt, do Washington Office on Latin America, em uma entrevista por telefone da Bolívia.

A vitória eleitoral de Morales é a mais recente conquista da esquerda latino-americana, em uma região em que as pessoas se tornam cada vez mais desiludidas com as políticas econômicas de livre mercado, que fizeram pouco para melhorar a vida dos mais pobres.

O sentimento antiamericano está aumentando, como fica evidente nas pichações dos muros de cidades como São Paulo ou nos protestos de rua que recepcionaram o presidente dos EUA, George W. Bush, quando ele foi a uma cúpula na Argentina, no mês passado.

A tendência ajudou líderes como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que segue uma política econômica conservadora e tem uma relação de respeito com Washington, e seu colega venezuelano Hugo Chávez, envolvido em uma disputa com autoridades do governo Bush enquanto tenta conter a influência dos EUA e espalhar a sua própria revolução social.

Quem Morales vai seguir? Seus elogios a Chávez alarmaram o governo Bush, que teme um bloco de esquerda ao redor do presidente venezuelano e do presidente cubano, Fidel Castro.

Morales se opõe a Washington em duas áreas importantes da sua política latino-americana: a criação de uma zona de livre comércio unindo as Américas e a guerra contra as drogas.

Ele prometeu reduzir um programa de erradicação de coca patrocinado pelos EUA. A folha de coca é o principal ingrediente da cocaína, mas também é usado pelos índios na medicina tradicional. A Bolívia é o terceiro maior produtor de cocaína, depois da Colômbia e do Peru.

Morales também prometeu nacionalizar a indústria de gás natural -- a Bolívia tem as segundas maiores reservas do produto na América do Sul -- e usar a riqueza para ajudar os pobres.

Mesmo assim, Larry Birns, do Council on Hemispheric Affairs, em Washington, disse: "Não acho que haverá um confronto de cara, porque Morales é um homem prático."

Na véspera da eleição, Morales disse esperar uma relação apropriada com os Estados Unidos. Na segunda-feira, ele afirmou que os direitos das empresas estrangeiras com relação ao gás boliviano acabariam, mas que a Bolívia ainda queria trabalhar em conjunto com elas.

"Morales não está exigindo desapropriações. Eles não são bobos. Eles estão assumindo uma postura pragmática", observou Vogt.

O modo de os EUA lidarem com a Bolívia pode mostrar como o país vai reagir a uma onda de eleições na região no próximo ano, que pode levar mais líderes de esquerda ao poder.

"Há uma onda de mudança na América Latina e os Estados Unidos precisam deixar de lado o paradigma da Guerra Fria. As políticas que eles vêm adotando há décadas simplesmente não funcionam mais", disse Vogt.





Fonte: Angus MacSwan

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