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Politica Brasil
Terça - 20 de Dezembro de 2005 às 06:32
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Recebi uma mensagem via blog, de uma leitora que, por estar apreensiva com as questões que envolvem o campo, me propôs que fizéssemos uma reflexão sobre o tema. A leitora quando me escreveu estava voltando de uma viagem à cidade de Cáceres, próxima à divisa com a Bolívia.

Os entraves no campo são vários e vão desde a crise no agronegócio, o constante risco de invasões de propriedades, à crescente tara por criação de índios e à neurose verde.

Antes de qualquer coisa, para evitar o patrulhamento dos que se acreditam detentores da bondade e da verdade, não desejo o extermínio dos índios ou a derrubada ilimitada de árvores, apenas analiso o que está acontecendo na questão indígena.

Naquela região de Cáceres, oeste de Mato Grosso, existe um sério problema. Lá vive um povo, brasileiro como nós, que é descendente de bolivianos, mas que na época em que se estabeleceu o limite entre os dois países, optaram pelo Brasil. Viviam todos como o restante dos brasileiros, usufruindo das nossas alegrias e enfrentando as mesmas agruras do nosso povo, até que apareceu alguém da Funai, olhou pra carinha deles e disse: vocês são índios. Não, nós não somos índios, responderam os sitiantes. São sim! Depois disso um grupo de trabalho se encarregou de fazer um "estudo" até as raízes ancestrais, por volta de 1700 e alguma coisa. Estava então instalada a discórdia.

Hoje a coisa se acirrou. Como a própria leitora frisou, o conflito não é entre fazendeiros e os pseudo-índios, parece piada, mas o conflito é entre a lunática Funai mancomunada com algumas histéricas Ong’s e os sitiantes que não querem de forma alguma virar índios, afinal, muitos são assentados pelo INCRA e se virarem índios perderão o direito à propriedade, a empréstimos bancários e outros acessos que possuem por serem brasileiros comuns. Eles são brasileiros comuns, volto a repetir, humildes, mas vivem como nós, e temem que essa idéia da Funai e de ong’s lhes tire o direito de viver como cidadãos ou de desejar o mesmo do restante dos brasileiros. Têm a absoluta consciência de que pela proposta passarão a ter que viver como se fossem um povo que não são. Isso é devaneio da Funai.

A Polícia Federal se instalou lá e proibiu que fazendeiros conversassem com os sitiantes, pois a mãe das histéricas ong’s, CIMI (Conselho indígena missionário), que detém o monopólio dos índios, disse que os fazendeiros estão coagindo os “chiquitanos”. Só missionários podem falar com os sitiantes, e falam direitinho. Um exemplo me foi contado: “Seu fulano, aquela fazenda do Seu Cicrano é bonita, não?”. Sim, diz o sitiante. “E a sede, S. Fulano?, bonita aquela casa, né?”. Aquela casa é de novela. “Pois é, se o senhor virar índio vai poder morar com sua família lá”.

No começo de 2004, quando entrei em contato com a questão e até escrevi um artigo com o mesmo título: “Fábrica de índios”, o grupo de trabalho da Funai, tinha colocado no seu site a foto de um pseudo-chiquitano tocando um instrumento musical e trajando uma vestimenta típica, nunca vista antes na região. Reconhecido na foto, contou que não sabia tocar tal instrumento. “Foi o pessoal do GT que apareceu por aqui com umas roupas e instrumentos, pediu pra gente vestir e tirou retrato”. Essa foto foi retirada do site da Funai e hoje só é possível ser encontrada no site da ISA - Instituto Sócio ambiental: http://www.socioambiental.org/pib/epi/chiquitano/chiquitano.shtm.

Se você está achando cômica a situação, calma, ainda tem mais. Se é um povo indígena, precisa ter uma língua própria, certo? Pois bem, eles não têm. A definição no relatório é ótima, reparem: “No Brasil, ainda não há estudos lingüísticos realizados entre os Chiquitano que vivem deste lado da fronteira. Contudo, a partir de uma amostra de palavras que foram comparadas a vocábulos do Chiquitano na Bolívia, pode-se afirmar que se trata da mesma língua”... mais adiante eles completam: “... a língua é inegavelmente a mesma - embora escondida (talvez em fase de desaparecimento)...”. “Escondida”, é ótimo!

Mas esse problema está sendo solucionado, pois a Funai enviou para a região um professor de língua indígena. Os sitiantes estão achando um barato a idéia de virarem poliglotas.

Esta semana surgiu a denuncia de que a Funai tinha fechado uma estrada, daquelas estradas de servidão, na altura da Fazendinha, com cadeado e tudo. Ninguém entra, ninguém sai. Esse fato foi comunicado ao responsável pelo órgão na capital que se comprometeu a checar a informação.

Semanas atrás representantes do governo estadual e dos produtores da região tiveram um audiência com o Ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, onde ele foi colocado a par da situação. Vamos ver no que vai dar.

“Será que estamos sem governo”?, me pergunta a leitora. Infelizmente, pior que estarmos sem governo, estamos com um que não presta. Com um que atrapalha. O campo pede pouco aos governos, pede apenas que mantenha as Leis e que não atrapalhe.

Enquanto o país carece de autoridade, quem determina e define as questões do campo, infelizmente são as ONG’s com interesses suspeitos.

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas / RJ. Articulista do Jornal A Gazeta Cuiabá / MT.

Blog: http://argumento.bigblogger.com.br




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