Mais de 40 mil jovens brasileiros desaparecem por ano
Na busca incessante, Maria diz que já perdeu a conta de quantas vezes teve de ir de Magé, na Baixada Fluminense, onde mora com outros três filhos, ao Serviço de Localização de Desaparecidos da 1ª Vara de Infância e da Juventude do Rio, em busca de uma notícia ou no mínimo uma pista que amenize seu sofrimento. Perdeu tempo e empregos. "Faltava muito ao trabalho e acabava despedida.
O drama de Maria sintetiza o de milhares de pessoas espalhadas pelo Brasil que vivem ou viveram a mesma situação. A estimativa do Ministério da Justiça é de que as delegacias de todo o País registrem cerca de 40 mil casos de desaparecimento de crianças e adolescentes todos os anos (www.mj.gov.br/desaparecidos).
A maioria dos casos é resolvida rapidamente, mas ainda assim, de acordo com o MJ, "existe um porcentual significativo, entre 10 e 15%, em que crianças e adolescentes permanecem desaparecidos por longos períodos de tempo e, às vezes, jamais são reencontrados".
"É difícil saber o número exato, mas isso não torna o problema menos grave", diz Alexandre Reis, coordenador da Rede Nacional de Identificação e Localização de Crianças e Adolescentes Desaparecidos (Redesap), órgão criado há três anos pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, ligado à Presidência da República.
Um dos objetivos da Redesap é a criação de um cadastro único de desaparecidos e um sistema que permita integrar dezenas de órgãos públicos e organizações não-governamentais que lidam com menores desaparecidos. O primeiro passo foi reunir 36 entidades para a troca de informações e incluir no Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Criminal a obrigatoriedade de os Estados informarem também o número de pessoas desaparecidas, com discriminação do sexo e faixa etária.
"O desaparecimento em si não é um crime, mas muitas vezes pode ser o início de algo hediondo", alerta o delegado Marcos Carneiro Lima, titular da 2ª Delegacia de Pessoas Desaparecidas, de São Paulo.
Apesar da obrigatoriedade, apenas 14 Estados enviaram até agora os dados relativos ao desaparecimento de crianças e adolescentes à Secretaria Nacional de Segurança Pública. São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul são alguns dos que não repassaram os números, o que certamente provoca uma grande distorção nas informações hoje disponíveis no Cadastro Geral de Desaparecidos.
"Em São Paulo, são mais de 8 mil desaparecidos por ano; no Rio Grande do Norte, são outros 4 mil e esses números não aparecem nas nossas estatísticas", lamenta Alexandre Reis.
"Mesmo dos Estados que estão enviando os dados, os números referem-se apenas às capitais e temos informações de que o problema também é grave no interior.
Apesar da carência e da precariedade dos números, as informações repassadas pelos 14 Estados (Amazonas, Amapá, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Tocantins) são suficientes para comprovar a gravidade da situação. No ano passado, de quase 10 mil desaparecidos nesses Estados, 30% tinham entre 0 e 17 anos (54% do sexo masculino). E de cada 5 registrados como desaparecidas, apenas 1 tinha sido encontrado. Infelizmente para Maria, a pequena Yasmin não estava entre eles.
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