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Meio Ambiente
Sexta - 09 de Dezembro de 2005 às 09:58

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A característica de contenção dos ciclos de cheia do Rio Cuiabá - uma das principais bandeiras dos defensores de Manso – também é um dos pontos mais criticados por ambientalistas e ribeirinhos. “Cheia nunca foi problema para pescador, pelo contrário, tirando os anos de 1975 e de 1995 quando o rio subiu acima da média, sabíamos sempre que depois da cheia quando as águas baixavam, vinha a lufada, reapareciam os peixes e a abundância” – ressalta o presidente da associação dos pescadores da comunidade ribeirinha de Bom Sucesso, Joel Rodrigues de Amorim, apontando no barranco do rio até onde as águas do Cuiabá chegavam antes de 1999.

Ele acrescenta: “Depois de Usina de Manso o rio nunca mais subiu como antes, sobe, mas bem pouco e a lufada a gente quase não vê mais acontecer na parte alta do Cuiabá. Têm peixe ainda nessa parte do rio, mas muito pouco e geralmente são peixes que ninguém compra, como as Curimbas muito ariscas de pegar. Tem que ser bom de anzol” - conta.

Um bom exemplo da realidade apontada pelo pescador é a tradicional festa de São Pedro, realizada todos os anos pela comunidade ribeirinha de Bom Sucesso para homenagear o padroeiro dos pescadores. “Antes da Usina fazíamos a festa com os peixes que pegávamos no rio, a comida era distribuída de graça a todos que vinham agradecer à São Pedro pela abundância do pescado. Mas fazem seis anos que precisamos comprar peixe de tanque (criatórios) para fazer a festa, pois do contrário a tradição acaba”, lamenta o pescador.

Apesar das dúvidas e incertezas que cercam os impactos da UHE na bacia do Alto Pantanal, um relatório conclusivo de quatro anos de monitoramento (encomendado por Furnas Centrais Elétricas) e realizado pelo Núcleo de Pesquisas em Limnologia Ictiologia e Aqüicultura (Núpélia) da Universidade Estadual de Maringá, já confirmou que durante os dois primeiros anos de formação do lago de Manso os cardumes não fizeram a lufada na região entre a barra do Aricá, rio Cuiabá, até as proximidades do reservatório, no rio Manso. A ausência do fenômeno que atestava a abundância de peixes e reprodução no rio pode ser um indicador de que tal como afirmam os pescadores, algo errado está acontecendo nos rios Manso e Cuiabá.

“Não podemos nos esquecer que durante os anos de 2000 e 2001 tivemos um longo período de seca no país, o que somado ao fechamento das comportas da Usina fizeram com que os cardumes não subissem o rio Cuiabá, desovando também fora das regiões de costumes”, explica o especialista em ecologia de peixes, Ângelo Antonio Agostinho, coordenador da pesquisa do Núpelia em Manso.

Para o pesquisador ainda é necessário mais algum tempo de estudos para se medir a dimensão do problema. “O que aconteceu em relação as desovas de 2000 e 2001 será sentido a partir de agora, quando os peixes que deveriam ter se reproduzido naqueles anos atingirem a idade adulta. No caso seja comprovado uma diminuição das espécies haverá também a comprovação de impacto ambiental”, afirma Agostinho.

O pesquisador explica que a grande dificuldade de se chegar a um parecer mais concreto sobre as pesquisas que o Nupélia vem desenvolvendo é a ausência de um estudo preliminar. “Não temos informações científicas de como era a realidade dos rios Cuiabá e Manso antes da UHE. O que sabemos são dados de depois de 2000, quando as comportas já estavam fechadas”. Isso porque não há nos Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima), dados mais profundos sobre o comportamento da ictiofauna da região. A lacuna no Eia/Rima – que mesmo assim foi aprovado pelo órgão licenciador a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fema) - é um dos principais obstáculos para se medir hoje o grau do impacto gerado pela construção da Usina Hidrelétrica de Manso, que segue comercializando sua energia gerada sem Licença Ambiental para Operação.




Fonte: Estação Vida

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