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Nacional
Domingo - 04 de Dezembro de 2005 às 12:40

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Laudo do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal (PF), ao qual a Agência Nordeste teve acesso com exclusividade, revela como foi feito o maior assalto do Brasil. O documento de 15 páginas, assinado pelos peritos criminais federais Flávio Segundo Wágner e Marcelo de Lawrence Bassay Blum, descreve com detalhes o roubo de R$ 164,7 milhões do caixa-forte da agência de Fortaleza (CE) do Banco Central. A primeira parte do laudo detalha a casa alugada pela empresa de fachada Grama Sintética. São descrições de onde partiu a escavação do túnel. Segundo os peritos, o túnel começou nos fundos da casa e tinha uma extensão total de 80,50 metros (chaminé de entrada de três metros, túnel de 75,40 metros e chaminé de saída de 2,10 metros).

A chaminé de descida possuía entrada retangular e foi executada no piso de taco da casa, que serviu de apoio para as escavações. "O terreno em questão é arenoso, facilitando as escavações, porém necessita de cuidados especiais para evitar desmoronamento. Por isso a chaminé de descida foi revestida com argamassa (cimento e areia)", detalha o laudo.

Após a descida, encontra-se uma moldura retangular executada em tábuas de madeira, que dá acesso ao túnel propriamente dito, descreve o laudo, informando que a dimensão desta passagem é de aproximadamente 58 centímetros de largura e 65 centímetros de altura. Segundo os peritos, vencida esta passagem, a seção do túnel fica praticamente constante de 65 centímetros de largura e 70 centímetros de altura.

Os peritos continuam descrevendo o túnel: "Nos metros iniciais o túnel possui escoramento efetuado com molduras em tábuas de madeira espaçadas entre si de aproximadamente 70 centímetros. As tábuas utilizadas no escoramento possuem largura de 30 centímetros e espessura de uma polegada. Na seqüência o túnel foi totalmente revestido por moldura de madeira". Cálculos dos peritos apontam o uso de aproximadamente 900 tábuas. "Desta forma haveria menos barulho e poder-se-ia utilizar veículo leve para o transporte, fazendo várias viagens, e não se chamaria tanta atenção na descarga da madeira" diz o texto, esclarecendo que "este fato é uma suposição e não pôde ser comprovado pela perícia"

O túnel foi equipado com ventiladores do tipo axial de parede, fixados no teto. Além deles existiam dois ventiladores comuns, um a 60 metros da entrada do túnel, e outro sob o caixa-forte do BC. O túnel tinha ainda iluminação artificial com lâmpadas fluorescentes. Em diversos pontos havia lanternas movidas a bateria.

A aproximadamente 60 metros do início do túnel os escavadores encontraram um obstáculo (rede de esgoto). Isso obrigou os "tatus" a mudar o nível da base do túnel, a qual foi elevada em aproximadamente 70 centímetros. Neste ponto do túnel foram utilizados quatro segmentos de tubos de aço com 50 centímetros de altura e 60 centímetros de diâmetro, cada. O conduto ficou com dois metros de comprimento.

Já muito próximo ao caixa-forte, os "tatus" começaram a subida até atingir a laje do cofre. Ao chegarem à laje, o eixo de escavação sofre uma correção de aproximadamente 1,10 metros à esquerda, atingindo o ponto onde foi iniciado os trabalhos de perfuração do concreto armado do piso. Neste local foi escavado um "bolsão" com aproximadamente dois metros de diâmetro e um metro de altura, de modo a facilitar os trabalhos de corte e perfuração da laje.

Para transpor a laje, os bandidos utilizaram serra portátil elétrica com disco diamantado auxiliado por furadeira elétrica manual. Lentamente a laje foi sendo cortada pela ação do disco diamantado e desagregada com a utilização da furadeira e ferramentas de pedreiro.

O furo ficou com diâmetro aproximado de 75 centímetros, até atingir o revestimento de "granitina", com espessura entre três e quatro centímetros. Esta última camada foi rompida com a utilização de macaco hidráulico. Foi ainda utilizado um bastão de madeira servindo de prolongamento do pistão do macaco até a camada a ser rompida.

O buraco final, de acesso ao caixa-forte, ficou com formato semelhante a uma elipse, cuja menor dimensão é da ordem de 34 centímetros e a maior da ordem de 42 centímetros.

No item planejamento do laudo, há a informação de que para a execução de um túnel entre dois pontos pré-determinados, faz-se necessário o conhecimento de dois parâmetros fundamentais: a distância entre os pontos e o rumo ser seguido.

"Assim sendo, podem ter sido realizadas medições externas prévias com equipamentos topográfico na área entre o edifício do Banco Central e a casa. Os pregos encontrados na parede do Banco são indícios que reforçam esta hipótese", relata o laudo que acrescenta, "porém, somente medidas externas às edificações não permitem a escavação do túnel no rumo correto e posicionamento da saída no interior do banco. São necessárias informações internas como a espessura da parede e a posição dos objetos no interior do caixa-dorte, além da disposição do sistema de segurança".

Os peritos dizem que "assim sendo, torna-se evidente que sem a obtenção das plantas do edifício, em especial do caixa-forte, e de outras informações privilegiadas, a execução do túnel com tamanha precisão seria muito difícil de ser executada".

O relatório aponta ainda que o eixo do buraco dentro do caixa-forte fica a 1,50 metros da parede paralela à avenida Dom Maniel e 3,50 metros da outra parede mais próxima. "Medidas exatas são indícios fortes do conhecimento e planejamento".

O laudo dos peritos federais conclui ainda que houve planejamento prévio à escavação do túnel. As características da construção do túnel e a maneira como foi executado o roubo podem servir como prova de que os infratores possuíam informações sobre a planta do edifício, sobre a posição dos sensores de movimento, dos sensores de ruído, das câmeras de vídeo e dos objetos no interior do cofre. Os peritos acreditam que não pode ser descartada a participação de pessoas que trabalham ou trabalharam no banco, na construção do edifício ou ainda na instalação dos sistemas de segurança.

O túnel, segundo cálculos da PF, foi escavado em quatro meses, entre abril e julho deste ano. Ele foi fechado em 29 de outubro por um consórcio de quatro empresas de engenharia. O Banco Central pagou R$ 17 mil pelo fechamento, que utilizou 47 metros cúbicos de argamassa coulis (mistura de cimento, betonita e água).




Fonte: Agência Nordeste

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