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O 'tsunami' no agronegócio
As imagens divulgadas no final de 2004 do Tsunami na Ásia podem muito bem ilustrar o que está acontecendo no agronegócio brasileiro. Onde antes era tudo alegria, de uma hora para outra se estabeleceu o caos provocado pelo terremoto dos juros altos e cambio achatado por dólares especulativos que se apropriam de juros líquidos de 14% a.a., renda financeira mais alta do mundo. Vide o lucro dos Bancos.
A exemplo do Tsunami, as primeiras vitimas foram feitas no litoral e seus efeitos econômicos e sociais passam a ser sentidos ao longo do tempo também no interior. No Tsunami do agronegócio o sentido é o inverso. As primeiras vítimas são feitas no interior, com os produtores plantando menos, perdendo suas propriedades por não poderem pagar suas dívidas no banco e deixando milhares desempregados que engrossarão os cinturões de miséria das cidades. Mas não tenham dúvidas que seus efeitos chegarão também no litoral. Uma atividade que responde por 40% do PIB brasileiro não pode ser desmontada sem cobrar vitimas em todos os segmentos da economia.
E o que está sendo feito para evitar ou minimizar o problema? Nada ou quase nada. Ao contrário, redução dos limites de créditos do produtores, juros de 25% na prorrogação de prazos de pagamento de dívidas, aumento no preço de insumos básicos como o caso de combustíveis e energia, ausência de investimentos em infra-estrutura que poderia reduzir os custos de transporte, ausência de investimentos na defesa animal e vegetal e uma lista grande de ações perversas a nossa economia.
É lamentável. Os ajustes serão mais dolorosos do que se pode imaginar. Mas temos esperança que as vitimas não sejam tantas para deixar o campo arrasado e que um raio de luz caia na cabeça das nossas autoridades econômicas e os acordem antes que sejamos todos tragados pelo mar da insensatez.
É neste cenário adverso que o Centro Oeste e Mato Grosso, especialmente, buscam saídas para equilibrar a situação e ajustar a economia aos novos tempos. A economia de Mato Grosso tem 70% do seu PIB vinculado direta ou indiretamente ao agronegócio. A soja e o algodão como carros chefe dessa economia apresentam tendência de queda em área, produção e faturamento. Para a cultura do arroz e milho o quadro não é muito diferente. A pecuária, fragilizada pelo aparecimento de focos de aftosa no Mato Grosso do Sul e Paraná, sofrerá abalos significativos na performance promissora que vinha se apresentando. A madeira outro importante segmento ainda não se refez do duro golpe sofrido com a Operação Curupira que desbaratou a máfia do Ibama no Estado, mas deixou um rastro de desemprego nunca antes visto.
E as perspectivas? Os produtores agrícolas que conseguirem sobreviver deverão fazer drásticos ajustes na sua estrutura de custos. Redução do quadro de pessoal já está ocorrendo. O segundo passo é substituir quem ganha um Salário de R$900,00 por alguém que ganhe R$600,00, mantendo sua equivalência em dólar e também porque a oferta de mão de obra é abundante. Mesmo sem saber quais as conseqüências no funcionamento dos motores dos tratores e caminhões, os produtores estão misturando óleo de soja refinado na proporção de 50% nos tanques de combustível. Um biodiesel caipira e com isso reduzindo em 25% o custo desse importante componente. Baixar o nível tecnológico é outra alternativa para a próxima safra, reduzindo a quantidade de fertilizante, buscando a poupança de nutrientes deixada nos anos de fartura. E depois rezar que o clima seja favorável, que o ataque da ferrugem asiática e outras doenças seja mais brando e ainda que os preços melhorem em função da drástica redução da oferta brasileira de soja e algodão.
Outra aposta é na diversificação e na agroindustrialização. Tendo os custos de produção de suínos e aves mais baixos do mundo, o Mato Grosso e o Centro Oeste estão atraindo investimentos de grandes integradoras. As demandas crescentes de açúcar e álcool, especialmente, são alternativas para ocupar áreas de soja e algodão. O plantio de florestas comerciais começa a ser vista como um bom investimento.
Os empresários das indústrias de maquinas, equipamentos e insumos agrícolas analisam a perspectiva de retomada da expansão agrícola num horizonte de 2 a 3 anos e começam a ocupar espaços numa região que vai responder por 60% da produção de grãos e fibras dentro de 10 ou doze anos. As industrias de transformação na área da soja e algodão, também buscam ganhos de logística ao se instalarem próximo as fontes de suprimento de matérias primas.
De resto, é torcer para que o governo veja os investimentos em infra-estrutura de estradas, ferrovias, hidrovias e portos como estratégicos para aumentar a competitividade e viabilizar um crescimento econômico sustentável.
* Clóves Vettorato é secretário de Estado de Desenvolvimento Rural
A exemplo do Tsunami, as primeiras vitimas foram feitas no litoral e seus efeitos econômicos e sociais passam a ser sentidos ao longo do tempo também no interior. No Tsunami do agronegócio o sentido é o inverso. As primeiras vítimas são feitas no interior, com os produtores plantando menos, perdendo suas propriedades por não poderem pagar suas dívidas no banco e deixando milhares desempregados que engrossarão os cinturões de miséria das cidades. Mas não tenham dúvidas que seus efeitos chegarão também no litoral. Uma atividade que responde por 40% do PIB brasileiro não pode ser desmontada sem cobrar vitimas em todos os segmentos da economia.
E o que está sendo feito para evitar ou minimizar o problema? Nada ou quase nada. Ao contrário, redução dos limites de créditos do produtores, juros de 25% na prorrogação de prazos de pagamento de dívidas, aumento no preço de insumos básicos como o caso de combustíveis e energia, ausência de investimentos em infra-estrutura que poderia reduzir os custos de transporte, ausência de investimentos na defesa animal e vegetal e uma lista grande de ações perversas a nossa economia.
É lamentável. Os ajustes serão mais dolorosos do que se pode imaginar. Mas temos esperança que as vitimas não sejam tantas para deixar o campo arrasado e que um raio de luz caia na cabeça das nossas autoridades econômicas e os acordem antes que sejamos todos tragados pelo mar da insensatez.
É neste cenário adverso que o Centro Oeste e Mato Grosso, especialmente, buscam saídas para equilibrar a situação e ajustar a economia aos novos tempos. A economia de Mato Grosso tem 70% do seu PIB vinculado direta ou indiretamente ao agronegócio. A soja e o algodão como carros chefe dessa economia apresentam tendência de queda em área, produção e faturamento. Para a cultura do arroz e milho o quadro não é muito diferente. A pecuária, fragilizada pelo aparecimento de focos de aftosa no Mato Grosso do Sul e Paraná, sofrerá abalos significativos na performance promissora que vinha se apresentando. A madeira outro importante segmento ainda não se refez do duro golpe sofrido com a Operação Curupira que desbaratou a máfia do Ibama no Estado, mas deixou um rastro de desemprego nunca antes visto.
E as perspectivas? Os produtores agrícolas que conseguirem sobreviver deverão fazer drásticos ajustes na sua estrutura de custos. Redução do quadro de pessoal já está ocorrendo. O segundo passo é substituir quem ganha um Salário de R$900,00 por alguém que ganhe R$600,00, mantendo sua equivalência em dólar e também porque a oferta de mão de obra é abundante. Mesmo sem saber quais as conseqüências no funcionamento dos motores dos tratores e caminhões, os produtores estão misturando óleo de soja refinado na proporção de 50% nos tanques de combustível. Um biodiesel caipira e com isso reduzindo em 25% o custo desse importante componente. Baixar o nível tecnológico é outra alternativa para a próxima safra, reduzindo a quantidade de fertilizante, buscando a poupança de nutrientes deixada nos anos de fartura. E depois rezar que o clima seja favorável, que o ataque da ferrugem asiática e outras doenças seja mais brando e ainda que os preços melhorem em função da drástica redução da oferta brasileira de soja e algodão.
Outra aposta é na diversificação e na agroindustrialização. Tendo os custos de produção de suínos e aves mais baixos do mundo, o Mato Grosso e o Centro Oeste estão atraindo investimentos de grandes integradoras. As demandas crescentes de açúcar e álcool, especialmente, são alternativas para ocupar áreas de soja e algodão. O plantio de florestas comerciais começa a ser vista como um bom investimento.
Os empresários das indústrias de maquinas, equipamentos e insumos agrícolas analisam a perspectiva de retomada da expansão agrícola num horizonte de 2 a 3 anos e começam a ocupar espaços numa região que vai responder por 60% da produção de grãos e fibras dentro de 10 ou doze anos. As industrias de transformação na área da soja e algodão, também buscam ganhos de logística ao se instalarem próximo as fontes de suprimento de matérias primas.
De resto, é torcer para que o governo veja os investimentos em infra-estrutura de estradas, ferrovias, hidrovias e portos como estratégicos para aumentar a competitividade e viabilizar um crescimento econômico sustentável.
* Clóves Vettorato é secretário de Estado de Desenvolvimento Rural
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/333809/visualizar/
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