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Repórter News - reporternews.com.br
Nacional
Quinta - 24 de Novembro de 2005 às 08:19
Por: Diego Toledo

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Um estudo divulgado nesta quinta-feira pela OMS (Organização Mundial da Saúde) indica que aproximadamente uma em cada três mulheres pesquisadas em duas áreas do Brasil diz já ter sofrido algum tipo de violência cometida pelo parceiro.

A pesquisa da OMS foi realizada a partir de entrevistas com 24 mil mulheres em dez países, onde, em média, uma em cada seis mulheres sofre com a violência doméstica.

No Brasil, o estudo ouviu mulheres com idade entre 15 e 49 anos na cidade de São Paulo e na Zona da Mata de Pernambuco.

Em São Paulo, 29% das mulheres entrevistadas que já tiveram relações íntimas com homens afirmaram que já foram vítimas de agressões físicas ou sexuais cometidas por um parceiro. Nos municípios pernambucanos, esse número chegou a 37%.

Na comparação com os outros nove países pesquisados, os índices das cidades brasileiras foram semelhantes aos registrados na Tailândia e na Namíbia.

De acordo com os resultados do estudo, a violência conjugal no Brasil é maior do que no Japão e na Sérvia. Em compensação, o problema é menos grave no país do que na Etiópia, no Peru, em Bangladesh, na Tanzânia e em Samoa.

“Ainda que os nossos dados sejam altos, os dados do Peru são quase o dobro dos nossos”, afirma a médica sanitarista Ana Flávia d’Oliveira, professora da USP e uma das responsáveis pela pesquisa da OMS no Brasil.

“Na comparação, o Brasil assemelha-se mais a países como a Sérvia do que a países da África e mesmo ao Peru”, acrescenta a pesquisadora.

Saúde da mulher

O estudo da OMS afirma que a violência conjugal é freqüente em todos os dez países pesquisados e representa uma das principais ameaças à saúde das mulheres.

Segundo a pesquisa, a maioria das agressões conjugais reflete um padrão de abuso contínuo e pode ter conseqüências como tentativas de suicídio, dores pelo corpo, dificuldades para realizar tarefas cotidianas, depressão e abortos.

No Brasil, cerca de 30% das mulheres que disseram ter sido agredidas pelo parceiro afirmam que foram vítimas tanto de violência física como de violência sexual, mais de 60% admitem ter sofrido apenas agressões físicas e menos de 10% contam ter sofrido apenas violência sexual.

Entre as vítimas de agressões físicas, a violência severa (socos, chutes, ameaças e ataques com armas) é mais freqüente do que a moderada (tapas e empurrões).

O estudo aponta insultos, humilhação e intimidação como os abusos emocionais mais comuns.

Aproximadamente duas de cada três brasileiras entrevistadas dizem que não há justificativa para um homem agredir a parceira.

Entre as que admitem motivos para a violência conjugal, a desculpa mais citada é a infidelidade.

Mais de 75% das mulheres pesquisadas no Brasil também afirmam que uma esposa tem o direito de se recusar a fazer sexo com o marido quando não está com vontade, quando está doente, quando ele está bêbado e quando ele a maltrata.

Em São Paulo, mais de 40% das vítimas de violência disseram ter sofrido agressão física ou sexual cometida por alguém que não era parceiro delas – o que pode incluir a violência doméstica cometida por outros familiares ou crimes cometidos por estranhos.

O estudo indica ainda que cerca de 20% das mulheres agredidas fisicamente pelo marido no Brasil permaneceram em silêncio sobre isso e não relataram a experiência nem mesmo para outras pessoas da família ou para amigos.

Cultura e lei

Na opinião de Ana Flávia d’Oliveira, os dois maiores obstáculos para o combate à violência doméstica no Brasil são a falta de uma lei específica para esse tipo de crime e a freqüente relação que se faz entre os homens e a violência.

“Um dos problemas é a cultura e a formação de homens e mulheres nas questões que a gente chama de gênero, com a masculinidade muito associada à violência”, diz a pesquisadora.

“É a cultura de gênero que cria homens e mulheres de forma diferente.”

“Outro problema é a lei no Brasil”, acrescenta a médica sanitarista. “Existe um movimento grande tentando criar uma lei mais específica. Muitas vezes, a punição (para quem comete a violência conjugal) é inócua.”

A professora da USP afirma ainda que o Brasil avançou nos últimos anos em termos de políticas públicas para coibir a violência conjugal, com iniciativas como a criação de delegacias de defesa da mulher e serviços de aborto legal, atendimento à violência sexual e prevenção contra Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis.

“Você tem um crescimento das instituições, mas não é suficiente”, avalia Ana Flávia d’Oliveira. “Precisamos de uma melhoria, e precisamos especialmente de uma integração entre esses serviços.”





Fonte: BBC Brasil

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