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Mendes ataca político profissional
O proprietário da Bimetal, Mauro Mendes, um dos maiores empresários de Mato Grosso e filiado ao PPS há dois anos, condena o caciquismo na política.
Mendes foi um dos tesoureiros da campanha fracassada do deputado Sérgio Ricardo à Prefeitura de Cuiabá. Ele elogia a administração Blairo Maggi (PPS), mas vê dificuldades por conta do tradicional inchaço da máquina. Sobre o prefeito cuiabano Wilson Santos, acha cedo fazer análise aprofundada. Lamenta o endividamento público da Capital, o que compromete grandes projetos por parte da administração.
Mendes considera também que operação caixa 2 é uma prática rotineira nas campanhas políticas. Segundo ele, o petista Alexandre Cesar, derrotado a prefeito de Cuiabá, tentou institucionalizar algo ilegal, que seria o caixa 2, e hoje está sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público. O empresário ataca o que classifica de políticos profissionais.
A seguir, os principais trechos da entrevista com o empresário Mauro Mendes, que admite pretensões de ingressar na vida pública.
A Gazeta - No ano passado, algumas pessoas lançaram o seu nome como pré-candidato à Prefeitura de Cuiabá. Por que o sr. recuou?
Mauro Mendes - Eu não me coloquei como candidato. Naquele momento, o PPS buscava alternativas para concorrer e meu nome, talvez por ser empresário que conseguiu construir um espaço profissional dentro de Cuiabá, dentro de MT e até no cenário nacional, foi muitas vezes lembrado como um possível nome até por ter alguma identidade com o perfil do governador Blairo Maggi. Talvez por isso meu nome tenha sido citado por alguns colegas, mas não por mim.
A Gazeta - O que faltou para esse convite se transformar em candidatura?
Mendes - Tivemos alguns convites, mas eu julguei que não estava em um momento adequado para deixar minha empresa e me dedicar à vida pública. Acredito que a vida pública deve ser uma contribuição. Você só pode dar alguma contribuição se efetivamente estiver num momento oportuno e adequado para fazer isso. Como eu tinha muitas atividades, compromissos na vida profissional, não poderia naquele momento abandonar tudo para me dedicar à atividade política, que é momentânea e deve ser uma contribuição. Não deve ser uma carreira, uma profissão, como muitos fazem. Fazem da política uma profissão, um meio de vida.
A Gazeta - Mas o sr. se engajou na campanha. Como vê a derrota do então candidato do PPS, deputado Sérgio Ricardo?
Mendes - Cada vez mais acredito que a população tem demonstrado uma percepção muito grande. Independente do bom desempenho do governador, apesar de uma boa avaliação do então prefeito (Roberto França), do apoio dos dois, a população teve a lucidez suficiente de poder escolher entre os candidatos que estavam concorrendo. Isso significa que essa história de apoio de cacique político cada vez mais tem menos importância, até porque as pessoas têm capacidade de analisar, de escolher entre os candidatos e não entre os apoios que esses candidatos têm. Aceitei contribuir na campanha porque sou filiado ao PPS, recebi esse convite, aceitei me filiar e acreditei que poderia ajudar na organização da campanha. E eu aceitei como desafio, como aprendizado e fizemos a campanha. Mas o candidato do partido não passou do primeiro turno, aí eu encerrei a minha participação.
A Gazeta - A eleição foi disputada no segundo turno. O sr. se arrepende por ter recuado da pré-candidatura? Alguns avaliam que um nome diferente poderia influenciar no quadro sucessório.
Mendes - Não me arrependo porque nunca me coloquei nesse projeto. Sempre considerei que eu ainda não estava preparado para dar essa contribuição. Como já disse, acredito que política é um dever de contribuição. Talvez isso seja o que falta hoje em dia: pessoas que estejam dispostas a contribuir e não ir para a política como alternativa para resolver seus problemas pessoais. Então, não recuei porque na verdade eu nunca avancei. Sempre considerei que, naquele momento, ainda não estava preparado. Tinha muitos compromissos na vida profissional e não poderia abandoná-los de maneira abrupta.
A Gazeta - O sr. vê com um certo desgosto a atuação da classe política?
Mendes - Eu, como qualquer cidadão, tenho uma decepção muito grande com os políticos. Com certeza, existem muitos políticos honestos, mas não posso deixar de reconhecer que existem mais os que são desonestos. E o exemplo está aí para qualquer um ver nas Câmaras, Assembléias, Estados, Congresso Nacional e governo federal. Isso é frustrante, mas a sociedade tem que entender que quem vai mudar isso não é quem está do lado de lá, quem se beneficia. Nós, cidadãos comuns, pessoas de bem, temos que reverter esse quadro. Somos maioria, mas uma maioria imobilizada.
A Gazeta - Diante disso, a saída é o empresariado ingressar na política?
Mendes - Empresários, professores e as pessoas de bem que podem contribuir. Não é só a classe empresarial. O que não pode acontecer é deixarmos algumas pessoas transformarem a política em profissão ou meio de vida. Sabemos que, muitas vezes, com o salário de deputado, prefeito ou vereador não dá para construir nenhum tipo de império.
A Gazeta - Quando o sr. critica a classe política, está se referindo a quem?
Mendes - A todos aqueles que, ao longo da vida pública, se utilizaram da máquina para construir riquezas ilicitamente. Sem citar nomes, posso dizer que temos em todo o país centenas de pessoas que se enquadram nesse perfil.
A Gazeta - Como membro do comitê financeiro do candidato Sérgio Ricardo, restou alguma dívida de campanha?
Mendes - Dei uma contribuição na campanha, mas de forma limitada. A condução final, o fechamento da campanha ficou por conta do candidato.
A Gazeta - Qual a sua avaliação sobre as contas do candidato derrotado Alexandre Cesar (PT), que admite confusão contábil, mas que está sendo investigado por indícios de caixa 2?
Mendes - Infelizmente, vivemos num país onde existem muitas coisas ilegais que todos sabem que existem mas a maioria não gosta de admitir. O caixa 2 na política sempre foi uma verdade e todos nós sabemos disso. O PT apenas tentou oficializar uma coisa ilegal. O maior erro do partido foi tentar dar uma organização a uma coisa ilegal.
Tentou institucionalizar um crime. Não podemos aceitar isso, mas também não podemos ser hipócritas e dizer que foram eles que criaram isso. Temos que mudar a forma com a qual os partidos se relacionam com os partidos políticos. Temos que fiscalizar as práticas. Não dá também para gastar R$ 5 milhões numa campanha e acreditar que a pessoa vai entrar lá para, simplesmente, ganhar um salário de R$ 10 mil. As pessoas que fazem esse tipo de operação e os empresários que doam grandes valores querem ganhar vantagens depois da eleição, usando as benesses dos cargos.
A Gazeta - O sr. tem interesse em disputar algum cargo na eleição do ano que vem?
Mendes - Todo cidadão, no pleno exercício dos seus direitos, pode ser candidato a qualquer cargo. Mas volto a dizer: só vou entrar na disputa política se um dia tiver condições de conciliar e não prejudicar as minhas questões pessoais. Se isso ocorrer, provavelmente farei. Ainda não sei se esse momento não chegou. Talvez nunca chegue, mas, se entrar um dia, será para dar contribuição e não para arrumar um meio de vida.
A Gazeta - Qual a avaliação sobre a administração do prefeito Wilson Santos (PSDB)?
Mendes - Ainda é muito cedo para se fazer qualquer avaliação mais profunda. Administrar atualmente o poder público é muito difícil. A dívida que foi construída ao longo das últimas décadas em Cuiabá é enorme. O passivo da máquina inchada é realmente muito grande. Por isso, acredito que ele está encontrando muitas dificuldades. Estar na oposição e exercitando o poder são coisas muito diferentes. Não podemos crucificar ou elogiar em apenas 10 meses de administração. Além do mais, hoje não é fácil administrar nenhum órgão público. As dificuldades e as demandas são grandes também. Se não fizermos rapidamente a reformulação do Estado brasileiro, caminharemos para o colapso do sistema político e econômico.
A Gazeta - Em MT, a classe empresarial está mobilizada suficientemente para eleger representantes diretos em 2006?
Mendes - Acredito que temos avanços significativos, mas não foram só os empresários que participaram desse processo. O que lamento é que, na maioria das eleições, acabam se elegendo pessoas que nem têm compromissos com entidades de classe ou determinados grupos da sociedade civil. Elegemos políticos de carreira e que vencem a disputa de forma muito pulverizada. Aí as pessoas querem apenas garantir o pão de cada dia e deixam de lado um projeto coletivo maior.
A Gazeta - Em 2006, a eleição em MT vai seguir essa tendência?
Mendes - Avanços nós temos tido não na velocidade que gostaríamos, mas no ano que vem as pessoas que estão no poder e foram envolvidos em escândalos vão ser cassados nas urnas. Cada vez mais as pessoas estão conscientes do poder que têm. Estamos todos indignados e a resposta será dada na hora certa. Político profissional não ajuda o nosso país.
A Gazeta - Como tem se atuado o governo Blairo?
Mendes - Posso dizer que vejo com orgulho o atual governo. Eleitoralmente, tem grandes chances de se reeleger. Infelizmente, o que disse sobre a Prefeitura de Cuiabá vale também para o Estado. A situação não é fácil administrar e as demandas são grandes, mas a seriedade da atual administração é muito importante nesse contexto. É algo como nunca se viu em MT.
A Gazeta - Mas a oposição critica o não cumprimento de promessas da campanha, como a não redução da alíquota de ICMS sobre energia e telefonia e a suposta falta de atenção com as políticas sociais.
Mendes - Infelizmente, essa questão de oposição criticar é muito comum. Para a oposição, é fácil jogar pedra. A mesma oposição que diz que ele não investiu em social recebeu os recursos do Fethab durante dois anos. Recebeu milhões e milhões e não fez nenhuma casa. Cadê o asfalto que deveria ser feito? Como essa oposição quer criticar? Em pouco mais de dois anos, o governo construiu mais de 20 mil casas populares. Isso não é investir no social?
A Gazeta - Essas críticas, então, são fruto da disputa partidária?
Mendes - Sim. É crítica pela crítica. Percebemos que os resultados práticos falam por si só. Mas nem o Blairo ou qualquer pessoa que sente lá vai conseguir atender todas as demandas da sociedade.
A Gazeta - Mas, e a questão tributária?
Mendes - O empresário tem razão quando critica a não redução dos impostos porque, hoje, o Estado brasileiro cobra muito e faz pouco porque existe uma máquina inchada. Existem muitos órgãos que gastam muito dinheiro e não traz nenhum benefício à sociedade. Não haverá redução dos impostos sem redução do tamanho da máquina pública. Se houver, quebra o Estado. Vai faltar dinheiro e alguém não vai receber. E isso não depende só do Maggi, mas de todos nós.
A Gazeta - O governador não deveria fazer uma reforma administrativa em MT?
Mendes - Com certeza, mas grande parte dessa reforma não depende somente da vontade do governador. Temos uma legislação federal que trata do funcionalismo e que deve ser respeitada.
A Gazeta - E o presidente Lula?
Mendes - Não fez nem a reforma tributária. Fez um ensaio e a consequência foi o aumento dos impostos. A Cofins saiu de 3% para 7,6%. O PIS saiu de 0,65% para 1,65%. Os aumentos oneram a classe produtora do país. O governo se vangloria de criar mais de 3 milhões de empregos, mas quem cria é a iniciativa privada, que para gerar emprego, precisa crescer também. E os juros mais caros do mundo não ajudam.
Mendes foi um dos tesoureiros da campanha fracassada do deputado Sérgio Ricardo à Prefeitura de Cuiabá. Ele elogia a administração Blairo Maggi (PPS), mas vê dificuldades por conta do tradicional inchaço da máquina. Sobre o prefeito cuiabano Wilson Santos, acha cedo fazer análise aprofundada. Lamenta o endividamento público da Capital, o que compromete grandes projetos por parte da administração.
Mendes considera também que operação caixa 2 é uma prática rotineira nas campanhas políticas. Segundo ele, o petista Alexandre Cesar, derrotado a prefeito de Cuiabá, tentou institucionalizar algo ilegal, que seria o caixa 2, e hoje está sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público. O empresário ataca o que classifica de políticos profissionais.
A seguir, os principais trechos da entrevista com o empresário Mauro Mendes, que admite pretensões de ingressar na vida pública.
A Gazeta - No ano passado, algumas pessoas lançaram o seu nome como pré-candidato à Prefeitura de Cuiabá. Por que o sr. recuou?
Mauro Mendes - Eu não me coloquei como candidato. Naquele momento, o PPS buscava alternativas para concorrer e meu nome, talvez por ser empresário que conseguiu construir um espaço profissional dentro de Cuiabá, dentro de MT e até no cenário nacional, foi muitas vezes lembrado como um possível nome até por ter alguma identidade com o perfil do governador Blairo Maggi. Talvez por isso meu nome tenha sido citado por alguns colegas, mas não por mim.
A Gazeta - O que faltou para esse convite se transformar em candidatura?
Mendes - Tivemos alguns convites, mas eu julguei que não estava em um momento adequado para deixar minha empresa e me dedicar à vida pública. Acredito que a vida pública deve ser uma contribuição. Você só pode dar alguma contribuição se efetivamente estiver num momento oportuno e adequado para fazer isso. Como eu tinha muitas atividades, compromissos na vida profissional, não poderia naquele momento abandonar tudo para me dedicar à atividade política, que é momentânea e deve ser uma contribuição. Não deve ser uma carreira, uma profissão, como muitos fazem. Fazem da política uma profissão, um meio de vida.
A Gazeta - Mas o sr. se engajou na campanha. Como vê a derrota do então candidato do PPS, deputado Sérgio Ricardo?
Mendes - Cada vez mais acredito que a população tem demonstrado uma percepção muito grande. Independente do bom desempenho do governador, apesar de uma boa avaliação do então prefeito (Roberto França), do apoio dos dois, a população teve a lucidez suficiente de poder escolher entre os candidatos que estavam concorrendo. Isso significa que essa história de apoio de cacique político cada vez mais tem menos importância, até porque as pessoas têm capacidade de analisar, de escolher entre os candidatos e não entre os apoios que esses candidatos têm. Aceitei contribuir na campanha porque sou filiado ao PPS, recebi esse convite, aceitei me filiar e acreditei que poderia ajudar na organização da campanha. E eu aceitei como desafio, como aprendizado e fizemos a campanha. Mas o candidato do partido não passou do primeiro turno, aí eu encerrei a minha participação.
A Gazeta - A eleição foi disputada no segundo turno. O sr. se arrepende por ter recuado da pré-candidatura? Alguns avaliam que um nome diferente poderia influenciar no quadro sucessório.
Mendes - Não me arrependo porque nunca me coloquei nesse projeto. Sempre considerei que eu ainda não estava preparado para dar essa contribuição. Como já disse, acredito que política é um dever de contribuição. Talvez isso seja o que falta hoje em dia: pessoas que estejam dispostas a contribuir e não ir para a política como alternativa para resolver seus problemas pessoais. Então, não recuei porque na verdade eu nunca avancei. Sempre considerei que, naquele momento, ainda não estava preparado. Tinha muitos compromissos na vida profissional e não poderia abandoná-los de maneira abrupta.
A Gazeta - O sr. vê com um certo desgosto a atuação da classe política?
Mendes - Eu, como qualquer cidadão, tenho uma decepção muito grande com os políticos. Com certeza, existem muitos políticos honestos, mas não posso deixar de reconhecer que existem mais os que são desonestos. E o exemplo está aí para qualquer um ver nas Câmaras, Assembléias, Estados, Congresso Nacional e governo federal. Isso é frustrante, mas a sociedade tem que entender que quem vai mudar isso não é quem está do lado de lá, quem se beneficia. Nós, cidadãos comuns, pessoas de bem, temos que reverter esse quadro. Somos maioria, mas uma maioria imobilizada.
A Gazeta - Diante disso, a saída é o empresariado ingressar na política?
Mendes - Empresários, professores e as pessoas de bem que podem contribuir. Não é só a classe empresarial. O que não pode acontecer é deixarmos algumas pessoas transformarem a política em profissão ou meio de vida. Sabemos que, muitas vezes, com o salário de deputado, prefeito ou vereador não dá para construir nenhum tipo de império.
A Gazeta - Quando o sr. critica a classe política, está se referindo a quem?
Mendes - A todos aqueles que, ao longo da vida pública, se utilizaram da máquina para construir riquezas ilicitamente. Sem citar nomes, posso dizer que temos em todo o país centenas de pessoas que se enquadram nesse perfil.
A Gazeta - Como membro do comitê financeiro do candidato Sérgio Ricardo, restou alguma dívida de campanha?
Mendes - Dei uma contribuição na campanha, mas de forma limitada. A condução final, o fechamento da campanha ficou por conta do candidato.
A Gazeta - Qual a sua avaliação sobre as contas do candidato derrotado Alexandre Cesar (PT), que admite confusão contábil, mas que está sendo investigado por indícios de caixa 2?
Mendes - Infelizmente, vivemos num país onde existem muitas coisas ilegais que todos sabem que existem mas a maioria não gosta de admitir. O caixa 2 na política sempre foi uma verdade e todos nós sabemos disso. O PT apenas tentou oficializar uma coisa ilegal. O maior erro do partido foi tentar dar uma organização a uma coisa ilegal.
Tentou institucionalizar um crime. Não podemos aceitar isso, mas também não podemos ser hipócritas e dizer que foram eles que criaram isso. Temos que mudar a forma com a qual os partidos se relacionam com os partidos políticos. Temos que fiscalizar as práticas. Não dá também para gastar R$ 5 milhões numa campanha e acreditar que a pessoa vai entrar lá para, simplesmente, ganhar um salário de R$ 10 mil. As pessoas que fazem esse tipo de operação e os empresários que doam grandes valores querem ganhar vantagens depois da eleição, usando as benesses dos cargos.
A Gazeta - O sr. tem interesse em disputar algum cargo na eleição do ano que vem?
Mendes - Todo cidadão, no pleno exercício dos seus direitos, pode ser candidato a qualquer cargo. Mas volto a dizer: só vou entrar na disputa política se um dia tiver condições de conciliar e não prejudicar as minhas questões pessoais. Se isso ocorrer, provavelmente farei. Ainda não sei se esse momento não chegou. Talvez nunca chegue, mas, se entrar um dia, será para dar contribuição e não para arrumar um meio de vida.
A Gazeta - Qual a avaliação sobre a administração do prefeito Wilson Santos (PSDB)?
Mendes - Ainda é muito cedo para se fazer qualquer avaliação mais profunda. Administrar atualmente o poder público é muito difícil. A dívida que foi construída ao longo das últimas décadas em Cuiabá é enorme. O passivo da máquina inchada é realmente muito grande. Por isso, acredito que ele está encontrando muitas dificuldades. Estar na oposição e exercitando o poder são coisas muito diferentes. Não podemos crucificar ou elogiar em apenas 10 meses de administração. Além do mais, hoje não é fácil administrar nenhum órgão público. As dificuldades e as demandas são grandes também. Se não fizermos rapidamente a reformulação do Estado brasileiro, caminharemos para o colapso do sistema político e econômico.
A Gazeta - Em MT, a classe empresarial está mobilizada suficientemente para eleger representantes diretos em 2006?
Mendes - Acredito que temos avanços significativos, mas não foram só os empresários que participaram desse processo. O que lamento é que, na maioria das eleições, acabam se elegendo pessoas que nem têm compromissos com entidades de classe ou determinados grupos da sociedade civil. Elegemos políticos de carreira e que vencem a disputa de forma muito pulverizada. Aí as pessoas querem apenas garantir o pão de cada dia e deixam de lado um projeto coletivo maior.
A Gazeta - Em 2006, a eleição em MT vai seguir essa tendência?
Mendes - Avanços nós temos tido não na velocidade que gostaríamos, mas no ano que vem as pessoas que estão no poder e foram envolvidos em escândalos vão ser cassados nas urnas. Cada vez mais as pessoas estão conscientes do poder que têm. Estamos todos indignados e a resposta será dada na hora certa. Político profissional não ajuda o nosso país.
A Gazeta - Como tem se atuado o governo Blairo?
Mendes - Posso dizer que vejo com orgulho o atual governo. Eleitoralmente, tem grandes chances de se reeleger. Infelizmente, o que disse sobre a Prefeitura de Cuiabá vale também para o Estado. A situação não é fácil administrar e as demandas são grandes, mas a seriedade da atual administração é muito importante nesse contexto. É algo como nunca se viu em MT.
A Gazeta - Mas a oposição critica o não cumprimento de promessas da campanha, como a não redução da alíquota de ICMS sobre energia e telefonia e a suposta falta de atenção com as políticas sociais.
Mendes - Infelizmente, essa questão de oposição criticar é muito comum. Para a oposição, é fácil jogar pedra. A mesma oposição que diz que ele não investiu em social recebeu os recursos do Fethab durante dois anos. Recebeu milhões e milhões e não fez nenhuma casa. Cadê o asfalto que deveria ser feito? Como essa oposição quer criticar? Em pouco mais de dois anos, o governo construiu mais de 20 mil casas populares. Isso não é investir no social?
A Gazeta - Essas críticas, então, são fruto da disputa partidária?
Mendes - Sim. É crítica pela crítica. Percebemos que os resultados práticos falam por si só. Mas nem o Blairo ou qualquer pessoa que sente lá vai conseguir atender todas as demandas da sociedade.
A Gazeta - Mas, e a questão tributária?
Mendes - O empresário tem razão quando critica a não redução dos impostos porque, hoje, o Estado brasileiro cobra muito e faz pouco porque existe uma máquina inchada. Existem muitos órgãos que gastam muito dinheiro e não traz nenhum benefício à sociedade. Não haverá redução dos impostos sem redução do tamanho da máquina pública. Se houver, quebra o Estado. Vai faltar dinheiro e alguém não vai receber. E isso não depende só do Maggi, mas de todos nós.
A Gazeta - O governador não deveria fazer uma reforma administrativa em MT?
Mendes - Com certeza, mas grande parte dessa reforma não depende somente da vontade do governador. Temos uma legislação federal que trata do funcionalismo e que deve ser respeitada.
A Gazeta - E o presidente Lula?
Mendes - Não fez nem a reforma tributária. Fez um ensaio e a consequência foi o aumento dos impostos. A Cofins saiu de 3% para 7,6%. O PIS saiu de 0,65% para 1,65%. Os aumentos oneram a classe produtora do país. O governo se vangloria de criar mais de 3 milhões de empregos, mas quem cria é a iniciativa privada, que para gerar emprego, precisa crescer também. E os juros mais caros do mundo não ajudam.
Fonte:
A Gazeta
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