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Internacional
Sábado - 19 de Novembro de 2005 às 12:50
Por: Mark Heinrich e François Murph

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O Irã informou à agência de controle nuclear da Organização das Nações Unidas que recebeu um documento do mercado negro o qual diplomatas disseram na sexta-feira que contém instruções parciais para a produção de uma bomba nuclear.

Mas uma autoridade próxima à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), alguns diplomatas e um especialista norte-americano pediram cautela sobre a revelação no último relatório da agência sobre o programa nuclear iraniano, dizendo que mais investigações são necessárias.

"A total transparência do Irã é indispensável e está atrasada", disse o chefe da AIEA, Mohamed ElBaradei, em relatório confidencial enviado à direção da agência, que deve se reunir em 24 de novembro para discutir novamente se o Irã será citado ao Conselho de Segurança da ONU, que tem poderes para impor sanções.

O relatório, obtido pela Reuters, diz que AIEA recebeu documentos que contêm informações sobre "revestimento e maquinário de urânio enriquecido, natural e esgotado que possuem formas esféricas". Um diplomata europeu descreveu os documentos como "livro de receita" para a produção de um núcleo de urânio enriquecido para armas nucleares.

No entanto, uma autoridade próxima à agência nuclear da ONU disse: "Nós não estamos nos posicionando sobre o documento. Ainda estamos na fase de investigação."

Teerã informou à AEIA que o documento foi entregue por pessoas ligadas ao mercado negro, sem que tivesse sido solicitado, para destruir a imagem do cientista nuclear paquistanês Abdul Qadeer Khan.

Um diplomata próximo da AIEA disse que o documento é "danoso" pois trata de um importante aspecto da produção de uma arma atômica.

"Mas isso não é o projeto que os líbios tinham", disse o diplomata, referindo-se a um desenho de uma bomba chinesa entregue a Trípoli antes da Líbia desistir de seu programa de armas de destruição em massa em 2003.

O ex-inspetor de armas da ONU, David Albright, do Instituto para a Ciência e Segurança Internacional, disse que o documento está longe de ser um manual para a bomba. "O Irã que dizia não ter nada sobre o assunto, agora diz que tem um pouquinho", disse Albright. "Mas a questão permanece: O Irã tem mais do que admite?"

"Isto tem que ter relação com uso em armas... A questão que fica é se eles buscaram isso. Os iranianos dizem que não", afirmou um diplomata ocidental.

O Irã diz que usará o programa nuclear para gerar eletricidade e tem o direito legal de fazê-lo. Mas escondeu o desenvolvimento de seu programa da AEIA por 18 anos até 2003, levantando dúvidas sobre suas intenções. A preocupação começou quando o presidente do país declarou, no mês passado, que Israel deveria ser "apagado do mapa".

O Irã publicou um anúncio de uma página no New York Times de sexta-feira defendendo suas atividades nucleares e acusando os Estados Unidos e seus aliados europeus de criarem uma crise desnecessária. A publicação continha uma refutação detalhada de todas as acusações e dizia que o país retomou a conversão de urânio porque Grã-Bretanha, França e Alemanha, sob pressão norte-americana, violaram um acordo de 2004.

Representantes dos três países se encontraram com autoridades norte-americanas, chinesas e russas em Londres na sexta-feira para discutir se levam o Irã ao Conselho de Segurança da ONU.

(Reportagem adicional de Madeline Chambers em Londres, Parisa Hafezi em Teerã, Francois Murphy em Viena e Louis Charbonneau em Berlim)





Fonte: Reuters

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