Virada cultural toma conta da cidade por 24 horas

São Paulo - A frase feita de que São Paulo não pára é daquele tipo de mentira que, dita um milhão de vezes, acaba colando. A cidade pára, sim, os notívagos sabem bem disso - não há sessão de cinema nas madrugadas, os restaurantes não relutam em pôr suas cadeiras em cima das mesas para expulsar, com jeitinho, os clientes que insistem em ficar. Mas agora é diferente. Dentro da programação Virada Cultural serão 24 horas de atividades artísticas das mais diversas, que abrangem todas as regiões e devem agradar a todo tipo de público.

Tudo acontece das 14 horas deste sábado às 14 horas do domingo. Iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura, como se pode esperar de um evento deste porte em São Paulo - que, sim, é a cidade dos grandes números -, o Virada Cultural tem proporções gigantescas. Segundo informações oficiais, a Prefeitura investiu R$ 2,5 milhões para espalhar as mais de 400 atividades em 111 locais nas cinco regiões. Estima-se que haverá a participação de cerca de 3 mil artistas, entre cantores, atores, músicos, artistas plásticos e circenses.

Virada Cultural é um evento inédito na América do Sul, mas inspirado nas chamadas “noites brancas” que costumam acontecer na Europa, em cidades como Roma, Paris e Madri. “A idéia teve grande aceitação entre o pessoal da cultura na cidade, como a rede Sesc, que é nossa parceira”, diz o secretário de Cultura, Carlos Augusto Calil. “Demos a oportunidade para que todos participem, somando-se à programação, e ficamos surpresos com a quantidade de estabelecimentos e pessoas que aderiram.”

O prefeito José Serra - notório notívago - envolveu todas as secretarias na empreitada. Haverá, por exemplo, esquemas especiais de transporte público e reforço na segurança - todas as linhas de ônibus e o metrô funcionarão ininterruptamente, além de alguns trens da CPTM. A maioria dos eventos ao ar livre é gratuita; já estabelecimentos como cinemas e teatro cobrarão ingressos.

Livreiros ocupam passagem subterrânea Boa notícia que vem junto com o Virada Cultural é que os livreiros das barraquinhas montadas na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista e de preços camaradas estarão agora instalados na passagem subterrânea ali mesmo. O espaço se transforma hoje em uma galeria, com oficinas literárias, saraus e performances das mais variadas. O Centro Cultural São Paulo cedeu ainda uma cópia do seu acervo bibliográfico, para consulta.

Alguns aproveitaram para aderir com sua programação já montada. Outros, como o Museu da Imagem e do Som, primam pela originalidade. Ali, a coisa começa com a Feijoada Antropofágica, às 13 horas. Segue à tarde com a exibição de Tainá 2, de Mauro Lima. Às 17 horas será exibido Como Era Gostoso o Meu Francês, de Nelson Pereira dos Santos (1970) e a noite e madrugada serão tomadas por sessões de outros filmes nacionais emblemáticos. Carlos Reichenbach faz à meia-noite pré-estréia de Bens Confiscados. Tudo isso, combinado com a discotecagem do DJ xkn, com set de música brasileira. Às 5 horas de amanhã, o museu serve café da manhã e encerra a programação às 11 horas com o show Turista Aprendiz, um projeto notável de pesquisa musical do grupo A Barca.

Visita noturna ao Parque da Luz e ao Cemitério da Consolação Para quem tiver coragem, a Pinacoteca (Praça da Luz, 2, tel. 3229-9844) promove uma visita guiada, à noite e iluminada por lanternas, ao Parque da Luz. O passeio, pelas esculturas do parque, começa às 21 horas. Antes, às 19 horas, o artista plástico Paulo von Poser explica o processo de criação na pintura, executando um grande painel na fachada do prédio.

Com muito bom humor, o Centro Acadêmico 11 de Agosto faz cortejo byroniano do Largo São Francisco até o Cemitério da Consolação. Acompanhados pelo Bloco da Ressaca, percorrem túmulos de figuras célebres que estão enterradas ali. O passeio vai das 19 horas à meia-noite.