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Politica Brasil
Quinta - 17 de Novembro de 2005 às 06:52
Por: João Carlos Caldeira

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Por natureza e opção sempre fui otimista, nunca (ou quase nunca) perco as esperanças em relação ao que acredito (ou imagino que acredito), mas confesso que ultimamente ando desanimado quando o assunto é a administração pública.

Sempre contesto meu pai quando fala que já perdeu as esperanças com os políticos, que nada muda, entra um e sai outro e é a mesma coisa e que vai votar em branco.

Do alto de minha ¨sabedoria¨, tentava convence-lo que só se constrói uma democracia forte e um país justo através do voto, e ele não deveria abrir mão desse direito.

Não sei se é a idade, não sei se o PT, mas começo a dar razão a ele! Como trabalho no Distrito Industrial de Cuiabá e moro nos fundos da UFMT, utilizo a Av. Archimedes Pereira Lima, antiga estrada do Moinho, diariamente.

Há cerca de três meses, está sendo construída uma ciclovia paralela a Av. Archimedes P. Lima, e a emenda parlamentar, se não me falha a memória, é do atual prefeito, na época deputado Federal Wilson Santos.

Como uso à avenida diariamente, passei a observar passo a passo a ineficiência, a falta de planejamento e o total descaso público com a obra, que deveria beneficiar centenas de trabalhadores que dependem da bicicleta para se deslocar ao trabalho.

Como todas as verbas públicas deste país são liberadas a conta-gotas, as obras da ciclovia não respeitam um cronograma racional e planejado de execução, vai de acordo com o desejo dos políticos e burocratas do governo, que liberam o dinheiro quando querem.

Gasta-se muito mais tempo e recursos para se fazer qualquer obra. No caso da ciclovia, desde o início das obras, as chuvas já levaram toneladas de aterro, que provavelmente devem ter entupido muitas bocas-de-lobo pela capital.

Como não plantaram grama em suas laterais, vários trechos desmoronaram, abrindo crateras no ¨recém-ainda-não-inaugurado¨asfalto.

A empreiteira contratada para executar a obra não está nem aí com o interesse e o bem coletivo, só quer saber de receber seu dinheiro, e na maioria das vezes com um bom aditivo no contrato. Destrói árvores desnecessariamente, desrespeita a legislação, destrói a calçada e o asfalto já existente, não sinaliza o local para segurança dos usuários e por aí vai.

Apesar da obra ser de total interesse do município e a emenda de autoria do atual prefeito, a Sanecap (que é municipal) realizou vários serviços de reparos e adequação na rede de água na entrada do Jardim Itália destruindo vários trechos da ¨ainda-não-inaugurada¨ciclovia. Como se no local nada existisse, como se não fosse patrimônio público. Basta observar onde a Sanecap faz algum trabalho e ver o estado do asfalto!

É impressionante como trabalham sem planejamento, sem cooperação em equipe e sem respeito ao nosso dinheiro. É como se fosse terra de ninguém, onde o importante é o ¨meu trabalho¨, é resolver o ¨meu problema¨e o outros que se danem. Se não bastasse o descaso público, algumas empresas instaladas nas margens da ciclovia, despejam alguns canos de água pluvial sob a calçada, que escorre a céu aberto, abrindo buracos no asfalto. Além disso, usam a ciclovia como estacionamento particular.

Tudo isso acontece sem que ninguém fiscalize, que nenhuma autoridade denuncie, e o pior de tudo, sem que a opinião pública se indigne, como se não fosse com a gente, como se não fosse com o nosso dinheiro, como se não fosse em nossa cidade. O dinheiro que foi gasto com o desperdício, com o re-trabalho e com a falta de planejamento, daria para se construir uma outra ciclovia, ainda melhor, e já estaria entregue a população.

O que me deixa mais indignado e aborrecido como cidadão é imaginar que esse exemplo é uma gota dágua no oceano do descaso das obras públicas que se espalham por todo o país.

João Carlos Caldeira Empresário, jornalista e professor universitário. E-mail: joaocmc@terra.com.br




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