Repórter News - reporternews.com.br
Politica Brasil
Domingo - 13 de Novembro de 2005 às 13:50
Por: Onofre Ribeiro

    Imprimir


A crise política começou no dia 14 de maio deste ano, quando o deputado Roberto Jefferson, hoje cassado, denunciou esquema de corrupção nos Correios. Uma denúncia puxou a outra e caiu no “mensalão”. Daí foi pulando de galho em galho e o Congresso Nacional lida com três CPIs, todas gravitando em torno do governo e do Partido dos Trabalhadores. Estes são os fatos.

Fora as denúncias em si, as CPIs são geradoras de informação aos montes. E desde maio a imprensa brasileira não fala de outra coisa. É de se entender, então, que a imprensa reproduz as notícias geradas pelos fatos. É preciso deixar isso bem claro, porque esse é o seu papel.

O PT e o governo têm reclamado muito de que a imprensa serve a interesses e por isso os ataca. São compreensíveis as generalizações em meio a crises. Mas é preciso buscar a memória para repor os fatos no lugar.

Na eleição presidencial de 1990, Lula e o PT tinham a mais absoluta simpatia da imprensa, e o candidato Fernando Collor de Mello era tratado com extremo rancor. Ele reclamava que cada entrevista era um julgamento a que se submetia.

Na eleição de 2002, Lula foi tratado com indiferença pela imprensa, até porque a eleição tinha dois candidatos mornos: ele e José Serra. O enfoque da campanha foi todo em cima do chamado “Risco Brasil” que estava lá em cima. Porém, Lula venceu e o país inteiro se emocionou com a cobertura afetiva que a imprensa deu à sua vitória como operário que chegou à presidência da República. Lula chorou na diplomação como vitorioso, e o país chorou com ele através dos canais de televisão, das manchetes dos jornais e das capas das revistas. Na posse também!

No passado do Partido dos Trabalhadores, sua base foi a imprensa, que tomou as dores das esquerdas situadas nos movimentos sociais, nos movimentos de base, na igreja, nos sindicatos, nas universidades e entremeada na sociedade. O PT usou e abusou dessa inserção.

No governo FHC houve crises. Em 1997 surgiu o “escândalo das Ilhas Cayman”, no qual eram acusados ele, os ministros José Serra, Sérgio Motta, e o governador Mário Covas, de terem dinheiro em paraíso fiscal. A imprensa arrasou com eles com base nas denúncias existentes. O ministro Sergio Motta,atuou como interlocutor do governo e matou a crise. As privatizações geraram crises monstruosas e a imprensa não perdoou, como não perdoou as denúncias de caixa 2 do PSDB na reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Como, lá atrás, não perdoara Collor, nem Sarney, nem João Figueiredo que deixou o governo pelas portas do fundo do Palácio, xingando a imprensa.

Hoje, quando o PT culpa a imprensa, está negando a sua própria história, construída sobre a visibilidade que deu-lhe a mídia brasileira. É um ciclo histórico que se encerra. Começou gloriosamente nas catacumbas dos sindicatos do ABC e chegou ao poder máximo no país. Mas não se segurou, imaginando que as causas da origem bastariam para segurar os efeitos das artimanhas para manutenção do poder.

A crise política será tanto maior quanto mais o PT insistir em buscar fora os culpados de sua própria conduta dentro do governo. A imprensa continuará crítica. A menos que o governo ou o PT criem uma nova crise para tentar silenciá-la. A crise não está na imprensa. Está no governo, no PT e nos partidos aliados.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM onofreribeiro@terra.com.br




Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/336173/visualizar/