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Politica Brasil
Terça - 31 de Maio de 2005 às 17:30

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Uma sombra atravessa a sala na qual o seminarista judeu examina um pergaminho religioso. Ele olha assustado para a figura que aparece na frente dele: um amigo que ele acredita ter morrido em um acidente de trânsito.

Depois de noites sendo assombrado pela aparição, o judeu é instruído pelo rabino a repetir um encantamento antigo, segundo o qual em dado momento o espírito atormentado, visível apenas para a audiência, desaparece para outro mundo.

Podem faltar o sangue e os tradicionais gritos de horror, mas "Cry of the Dead" é o primeiro filme de terror feito por judeus ultra-ortodoxos.

"O mundo ultra-ortodoxo está se abrindo e as pessoas dentro dele estão procurando por algo alternativo. É um novo cinema que está abrindo fronteiras", disse Nissim Verta, escritor e ator de "Cry of the Dead".

O mundo ultra-ortodoxo havia se fechado à cultura popular, preocupado de que ela poderia minar seu estilo de vida e impor idéias estrangeiras aos fiéis seguidores.

Tanto que eles são conhecidos como haredim, que significa "temerosos" do pecado em hebraico.

Mas os haredim estão começando a usar a mesma mídia que já evitaram para atrair jovens devotos.

No centro de "Cry of the Dead", há uma fábula moral na qual um estudante, morto em um acidente de trânsito por agredir verbalmente um amigo, precisa voltar do mundo dos mortos para reparar seus erros.

Verta acredita que o filme, produzido com apenas 10 mil dólares, tenha sido visto por mais da metade da população adulta de ultra-ortodoxos de Israel, que chega a 1 milhão dentro do total de 5,4 milhões de habitantes judeus.

"É sexy para a população secular de Israel e eles querem olhar o mundo ortodoxo visualmente", diz Renen Schorr, diretor de filmes e da Escola Sam Spiegel para filmes e televisão, de Jerusalém.

"Os haredim são uma parte significativa da vida israelense e eles merecem estar na telona. O que vemos é o início de uma nova tendência."

FILMAGEM CASTA

Ainda há limitações para os diretores haredim. As mulheres não têm permissão para aparecer em razão das leis de castidade e estão proibidos palavrões e violência.

"Dentro desses limites, tudo o mais é aberto e temos muita liberdade", disse Ariel Cohen, diretor de "Cry of the Dead".

O produtor e diretor Roni Zarfati disse que o que distingue essa indústria é que ela permanece instrutiva.

"Dentro da história há uma mensagem ética ou um ensinamento, diferente do mundo secular, onde os filmes são apenas emoções", afirmou ele. "Mas isso não significa que você não possa fazer comédias ou mesmo filmes de ação."

Diretores de filmes de ação haredim tais como Moshe Levy conseguiram contornar a violência e ainda fazer filmes com perseguições de carro.

"Ninguém morre nem é assassinado nesses filmes ¿ essa é uma linha que não atravessamos. Basicamente, tentamos criar uma nova cultura com a qual nossos jovens se identifiquem com a preservação da Torah (os ensinamentos sagrados judeus)", disse Levy.

A maneira de distribuir e assistir aos filmes também é diferente da do mundo secular. Os títulos são comercializados basicamente nas lojas haredim, que vendem livros religiosos e gravações de sermões dos rabinos.

"Como os haredim não estão conectados à TV, estamos assistindo a todo um novo modo de transmissão: por meio de CD Roms, DVDs e exibição de filmes em conferências especiais sobre judaísmo", disse Zarfati.

"Temos vistos entre 50 e 100 filmes produzidos por ano, bem mais do que havia há cinco anos. Os filmes estão ficando mais sofisticados, com melhores diretores, atores, figurinos e locações."





Fonte: Reuters

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