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Politica Brasil
Segunda - 30 de Maio de 2005 às 14:00

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Na preparação para o pleito de 2006, o ex-senador Carlos Bezerra, presidente regional do PMDB, está montando aquela que considera “a melhor chapa de deputados da história” do partido. Mesmo sem citar nomes, o “velho guerreiro” garante que a sigla não foge da luta e estará na disputa majoritária nas próximas eleições.

Bezerra fala também sobre sua trajetória política desde 1998, quando uma série de derrotas nas urnas marcou o período. Para ele, tudo aconteceu devido a decisões erradas do partido. “Eu nunca na minha vida defini uma candidatura, todas que eu disputei quem definiu foi o partido“.

Sobre o apoio ao governo Lula, Bezerra disse que o PMDB está coeso e é ”o único partido a poder manter a governabilidade“. Já a candidatura própria, para a disputa contra os petistas no plano nacional, está dividindo o partido. Para ele, a continuidade ou ruptura para 2006 depende mais do governo federal do que de sua própria sigla. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Folha do Estado - Como o PMDB está se preparando para as eleições do ano que vem?



Carlos Bezerra - O partido está bem, a base principal que são os candidatos a deputados estaduais estão quase todos definidos. Nós temos, talvez, a melhor chapa de deputados da história do PMDB em Mato Grosso. Vamos agora definir a chapa de deputados federais e a majoritária. Vamos esperar até outubro para definir as alianças aqui no estado. Hoje temos três deputados estaduais, e acredito na chance de elegermos cinco deputados estaduais e um ou dois federais. Temos chance também de fazer o governador do Estado independente da circunstância. Temos chances reais porque algumas filiações que vão acontecer, que já estão definidas e não posso revelar aqui, são reservadas, mas com condições e que poderão ser um sucesso eleitoral.

Folha - Então o PMDB está se preparando para disputar com o governador Blairo Maggi (PPS)?

Bezerra - É provável que tenhamos candidato próprio, há uma grande chance para isso.

Folha - Provável? O partido está dividido neste tema?

Bezerra - Não, na questão da candidatura própria o partido está unido, não terá problema nesse sentido, toda nossa bancada, tanto estadual quanto federal está unida quanto os diretórios, se houver candidatura própria o partido estará coeso.

Folha - Existiu, há um tempo atrás, um ensaio do governador para ir ao PMDB. Por que isso não deu certo?

Bezerra - Só o governador pode explicar isso, não nós. O partido abriu as portas para o governador, deu o sinal verde, tanto a direção regional quanto nacional deu o aval, mas ele retraiu. Não sei porque. Gostaria até que uma hora você perguntasse para ele.

Folha - À época chegou-se a dizer que o senhor teria sido o empecilho que barrou a vinda...

Bezerra - Não, não. Eu estive com ele no meu apartamento, me visitou, nós acertamos... E eu não sou proprietário do partido, o partido é uma instituição pública, eu vou e o partido fica. Um governador do Estado é uma filiação muito importante, todo mundo sabe disso, como é que você vai vetar isso? Isso não tem nenhum fundamento, eu não sei porque ele resolveu não vir.

Folha - Para 2006, o que o senhor disputará? Nós conversamos com alguns de seus correligionários e eles revelaram estar cobrando uma definição do senhor.

Bezerra - Aí é o engano de alguns companheiros. Eles sabem que essa decisão nunca foi pessoal. Eu nunca na minha vida defini uma candidatura, todas que eu disputei quem definiu foi o partido. Eu sou um homem de partido, não sou individualista nem egoísta. Onde for necessária a minha presença para fortalecer o partido eu estarei lá. Eu já deixei de disputar eleição ganha para disputar eleição perdida por que o partido me pediu.

Folha - Qual foi essa?

Bezerra - Quando eu saí do governo do Estado eu era candidato a deputado federal, e o partido numa megaconvenção me colocou para disputar o Senado, numa eleição perdida. Mas o partido me cobrou e eu deixei uma candidatura certa e perdi a eleição. Então eu não brinco com a questão do partido. Tem gente que brinca, que muda de partido todo dia, toda hora, como quem muda de camisa. Eu nunca mudei de partido e luto para fortalecê-lo. E gostaria que nos outros partidos também fossem assim, que houvesse respeito às práticas partidárias, à democracia interna do partido. Então eu nunca defini candidatura a prefeito, a governador, a nada. Eu sou chamado pelo partido. ‘Olha, o senhor tem que ir aqui’. E assim vai ser no ano que vem. E eu irei para lá cumprir o dever. Se vou ganhar ou perder a eleição é secundário, o importante é fortalecer o partido. Eu nunca forcei o partido para uma candidatura e acho isso horrível, político que fica igual bebê chorão, lutando por candidatura, por espaço. Vejo político que chega a ser cretino, o pessoal mostrando que não quer e ele lá forçando a porteira. Esses nem deviam estar na vida pública. Você tem que esperar ser convocado e acompanhar seu grupo.

Folha - Com que partidos o PMDB tem conversado com vistas em 2006?

Bezerra - Parte do PT tem conversado conosco, o PSC tem conversado conosco, o PC do B tem conversado, existe uma simpatia mútua. Há vários partidos, o próprio PPS tem conversado conosco, há várias conversas em andamento. Nós não sabemos exatamente como vai ser, mas estamos nos preparando. E temos nossas opções do PMDB para qualquer disputa.

Folha - Como o PMDB está se articulando para a disputa nacional?

Bezerra - Existe uma divisão no partido em relação à questão. A política é dinâmica, amanhã o partido poderá estar todo unido. Todo o PMDB quer garantir a governabilidade, pois se o PMDB deixa o governo Lula ele acaba no outro dia, e não há outro partido para garantir a governabilidade, infelizmente não há. O governo Lula só tem um caminho para garantir a governabilidade, que é via PMDB. Isso até os que defendem a candidatura própria estão de acordo, até o Michel Temer, presidente nacional partido, que é a favor da candidatura própria é de acordo. Agora na questão da candidatura própria é a divisão. Alguns acham que devem marchar com o Lula e lançar o vice-presidente. Mas os governadores do partido, todos, defendem a candidatura própria. Essa luta está sendo travada, vai depender muito da competência política do governo Lula, que está deixando a desejar. Agora o governo está culpando o ministro Aldo Rebelo pelas dificuldades. O Aldo é consequência, essa questão é anterior. A falta de articulação não é culpa do Aldo, é o ‘Palácio’ que não soube fazer isso desde o início. Então acredito que depende da competência do governo para acontecer a coligação lá no final.

Folha - O senhor, em particular, defende o que?

Bezerra - Eu acho que a gente ainda deve pensar e aguardar. Daqui há uns dias virão os governadores do PMDB e o Temer para cá, para um debate do partido. E eu ainda acho que garantir a governabilidade é fundamental para o país, e se melhorar o desempenho do governo é possível uma aliança, mas não depende nem do PMDB, depende do governo.

Folha - O Silval Barbosa, presidente da Assembléia Legislativa, seria um nome para a disputa do governo?

Bezerra - Sem dúvida nenhuma, o Silval é uma revelação, é um bom político, tem capacidade de articulação, pode até chegar a esse ponto, mas depende muito mais dele, se ele quisesse isso teria apoio do partido.

Folha - Ao senhor, recentemente, foram feitas denúncias e críticas contra sua pessoa. O senhor considera isso uma tentativa de desgaste?

Bezerra - Essa questão é mais ampla, é uma questão nacional. Você viu que todo mundo do PMDB que passou pela presidência, a bateria está ligada, desde o Almir Lando, a mim, antes de eu entrar. Entrei e a bateria continua a mesma, e houve esse percalço todo e a dificuldade toda. Até que em dezembro do ano passado eu pedi para a cúpula do partido para sair [da presidência do INSS]. Não dava pra continuar, tinha muita dificuldade administrativa. O país atravessa uma crise financeira muito grande, não há dinheiro para nada, a Previdência é um órgão fundamental, necessário, é onde se aplica a melhor política social do país. Não vou nem culpar o governo, é um pouco da crise financeira, você precisa de R$ 100 milhões num mês vem R$ 60 milhões. Então você não paga nem o custeio. Eu comecei a ter problemas de saúde que eu não tinha, em função disso eu pedi para sair em dezembro. Mas o que houve lá é coisa sem fundamento, qualquer guri vê que é sem fundamento, elas não vão dar em nada, pois juridicamente não há fundamento.

Folha - Mas isso não desgasta sua imagem em MT, refletindo até mesmo sobre o PMDB devido a sua trajetória no partido?

Bezerra - Não me preocupo com isso, o importante é ter a consciência tranqüila. Eu fui governador, prefeito duas vezes, e fui o homem público mais agredido em Mato Grosso. Eu nunca tive jornal, televisão. Eu nunca montei isso para me defender, para me apoiar. Minha consciência é tranqüila, não adianta fazer golpismo ou rasteirismo que quem sai prejudicado é quem golpeia. No meu caso estou tranqüilo, pois a população de Mato Grosso me conhece não é de hoje, meus mandatos foram ricos. Se você for em Rondonópolis vão dizer que o melhor prefeito da história da cidade foi o Bezerra. Eu estou ouvindo aí falar em inaugurar casas. Na minha época não tinha Fethab, não tinha nada, e eu fiz mais do que isso. Meu governo marcou a história, com eleição de diretor de escolas, na saúde modificamos todo o setor, na infra-estrutura... Eu tenho uma respeitabilidade muito grande. Funcionário público nunca recebeu um salário tão alto como os que receberam na minha época. Eu acabei com a criminalidade em Mato Grosso, instalei os conselhos de segurança em cada município com um telefone direto ao meu gabinete. Mato Grosso era cheio de pistoleiro, e foram tudo pro Pará, para Rondônia. Eu tenho esse passado que todos sabem e conhecem. Não é essa rasteira, esse joguinho baixo que vai me atingir.

Folha - Como o senhor avalia as derrotas que sofreu desde 98?

Bezerra - Eu acho que o partido tomou decisões equivocadas. Eu como membro do partido admito isso. E muitos colocam como se fosse coisa pessoal. A decisão não foi minha, não sou dono do partido, o partido é formado de homens de coluna vertebral, o PMDB não tem ninguém de nariz furado. As decisões do partido foram equivocadas e nós pagamos um preço caro por isso.

Folha - E a aliança com Júlio Campos, adversários históricos...

Bezerra - É o que estou dizendo para você, foi uma decisão errada do partido. E a outra decisão foi nacional, que nos atropelou. Nós estávamos com uma aliança com o PT para disputar a eleição e veio a verticalização, nós não tínhamos outra coisa a fazer a não ser a aliança desastrosa. Mas são coisas da vida, o importante é que você continue na luta, a nossa sociedade precisa de ação política contínua e cada vez melhor.

Folha - E o senhor continua na presidência do PMDB ou uma nova liderança virá?

Bezerra - Não houve esse debate, a direção nacional prorrogou as eleições para o ano que vem, então não haverá esse debate. Eu gostaria que houvesse, para que a maioria decidisse democraticamente. É até um ônus dirigir partido. Mas vamos esperar para o próximo ano e talvez essas novas lideranças venham a assumir o partido daí para frente.




Fonte: Folha do Estado

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