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Politica Brasil
Sábado - 28 de Maio de 2005 às 07:00
Por: Adriana Vandoni Curvo

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A base de apoio do governo está esfacelada. O governo federal está aos pedaços, não há acordo, não há liderança, nem no executivo muito menos no legislativo. O clima que se instalou já passou pelo desânimo, pela comédia e desde a semana passada começou a acontecer um fenômeno interessante, o desgaste emocional dos parlamentares.

As acusações são mútuas, quando não em palavras, em olhares. A síndrome da desconfiança é patética. Ninguém entende ninguém, todos representam um ao outro e nenhum é representado. Os petistas governistas atribuem tudo a uma “força de oposição que tem por intuito prejudicar a governabilidade”, uma “armação das elites” em “perseguição de um presidente popular”. Um presidente que não está nem aí para a farofa.

Na verdade, o instinto belicista do petismo sempre manteve este governo em constante atrito com os setores representativos da sociedade. Já em julho de 2003 eu citava em “A gestação de uma crise institucional”, só que, como destaquei naquela época, o governo federal iniciava um processo de fragilização institucional dos instrumentos jurídico-político de ordenação do poder e da organização estrutural da sociedade. Provavelmente como parte da estratégia stalinista de José Dirceu. O Congresso, comprado ou não, ainda mantinha-se inteiro.

As desavenças políticas se restringiam a embates interno do PT que achou que podia controlar as votações dos seus filiados. Passaram ai a cometer atos de intransigência, com expulsões após julgamentos sumários de antigos companheiros. Havia também as constantes críticas sobre a política monetária feitas pelos próprios governistas. Ao perder companheiros, o PT passou a expandir sua base aliada, sem critério ou vínculo ao que eles gostam de chamar de “passado histórico de lutas”. Francamente, em vinte e cinco anos o PT não possui um passado tão grandioso como gargareja. Pelos dois anos e pouco de governo o PT pragmático, que de fato assumiu o poder, construiu um passado de hipocrisia e mentiras, apoiados em militantes ingênuos ou, vamos dizer, coniventes com essas porcarias.

Hoje, contraíram uma espécie de “catapora corruptiva”, as denúncias de corrupção brotam em todas as partes do corpo governamental. O presidente, talvez contagiado pelo autismo que costuma abater os presidentes em Brasília, dá carta branca e guarita aos sob suspeita Roberto Jefferson, Romero Jucá e Henrique Meirelles e viaja sem que ao menos seu sono seja abalado. Durma bem no seu aviãozinho, presidente!

Enquanto ele viaja, por aqui os líderes da base aliada se envolvem a cada pronunciamento que fazem. Em uma profusão de discursos desconectados insistem em forjar uma situação que não existe. “Este governo não rouba e não deixa roubar”, disse José Dirceu, talvez o petista mais desejoso de poder. Já o senador Mão Santa do PMDB do Piauí aconselhou o presidente Lula, já que ele “não segue os princípios da Constituição, deveria seguir pelo menos um dos Dez Mandamentos, aquele, que diz Não furtarás”. É triste ver Mão Santa cobrar isso de Lula. Não perdendo a piada em cima do discurso do senador, e se Lula aprendeu os dez mandamentos contando nos dedos e, justamente, esse mandamento caiu no dedo que lhe falta?

O mesmo senador comparou José Dirceu a um “tumor maligno”. A que ponto chegou!

A sociedade que acompanha os fatos está farta da produção administrativa deste governo. Seguiram a política econômica neoliberal estipulada pelos setores mais conservadores do PSDB, ressuscitaram antigos projetos e métodos do período militar e, envolvidos em conter uma ou outra CPI, sobra-lhes pouco tempo para administrar. Toda vez que tentaram inovar, foram sucumbidos ou por incompetência ou por algum foco de corrupção.

Agora, sob pretexto de uma imaginária intenção de golpe, “armado pela elite”, discursam pela retirada das assinaturas para a criação da CPI que investigaria denúncias nos Correios. Essa baderna toda foi provocada pelo próprio Governo Federal. Que assuma seus atos e suas incompetências. Não existe qualquer intenção de retirar Lula do governo. Pelo contrário. “GOVERNA LULA”!

Adriana Vandoni Curvo é economista, especialista em administração pública pela FGV/RJ. Articulista da Gazeta às quartas, sextas e domingos.

E-mail: avandoni@uol.com.br Blog: http://argumento.bigblogger.com.br/




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