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Cultura
Sábado - 14 de Maio de 2005 às 14:33
Por: Luiz Carlos Merten

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Cannes - Nada mais diferente de um filme de Michael Haneke do que outro de Johnny To. O diretor austríaco é um dos queridinhos da seleção de Cannes. Todos os seus filmes têm passado aqui e ele já foi premiado (por A Professora de Piano). Seu colega chinês possui uma carreira de mais de 25 anos, que começou no cinema de ação de Hong Kong e só depois, nos anos 90, adquiriu um caráter mais autoral. Haneke está na Croisette com seu novo filme, Caché, interpretado por Juliette Binoche e Daniel Auteuil. Johnny To concorre com A Eleição, interpretado por Simon Yam e Tony Leung Ka Fai. São desconhecidos por aqui, mas famosos em toda a Ásia.

Caché conta a história de um casamento que se desintegra. Na verdade, de uma vida que entra em colapso. Auteuil faz um apresentador de TV - tem um programa em que fala de livros e entrevista autores. É casado com Juliette. Ambos começam a receber fitas de vídeo que indicam - sua casa está sendo vigiada. Auteuil acha que sabe quem é. Ele atribui a responsabilidade a um argelino que seus pais quase adotaram no começo dos anos 60.

A história trata de culpa e é desconcertante. Haneke fez um filme que se desenvolve e termina em aberto. Ele pede que, pelo amor de Deus, não se conte o final. Respeite-se o pedido do diretor e seu desejo de tudo transferir para o espectador. Não houve duas pessoas, entrevistadas pelo repórter do Estado na saída do Palais, que tenham interpretado do mesmo jeito a cena final. Johnny To é mais direto e até objetivo. Ele quis fazer o seu O Poderoso Chefão.

A Eleição

A eleição do título ocorre dentro de uma organização criminosa, a Tríade, que domina o submundo de Hong Kong. Crime e família estão intimamente ligados. Existem dois candidatos. Um faz de tudo para pressionar os eleitores. Representa o velho gangsterismo. O outro pertence ao novo mundo, dos gângsteres que apostam mais no cérebro do que nos músculos. Nenhuma violência cometida em cena é pessoal. Toda a dinâmica de A Eleição move-se em tornos dos negócios (e do dinheiro). Há momentos de uma brutalidade tarantinesca.

O desfecho é de arrepiar, quando fica claro que o admirável mundo novo pode ser mais aterrorizante do que o antigo. A Eleição subverte o chamado jogo democrático e projeta uma visão muito pessimista do mundo atual. O filme de Haneke é mais ambíguo. Ele diz que cabe ao espectador decidir se a última cena de Caché é otimista ou pessimista. A polêmica que já agita Cannes com certeza será retomada quando o filme for exibido no Festival do Rio e da Mostra de São Paulo. Haneke possui admiradores fiéis, mas ele próprio reconhece. "Meu cinema é mais agradável de fazer do que de ver."





Fonte: Agência Estado

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