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Politica Brasil
Sexta - 06 de Maio de 2005 às 21:54
Por: Kleber Lima

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Além das greves do transporte coletivo, em Cuiabá, e dos profissionais da educação, no Estado, a outra grande polêmica da semana passada foram as críticas sofridas pelo secretário de Meio Ambiente e presidente da FEMA, Moacir Pires.

As críticas foram muito sérias, na forma e no mérito. São acusações de facilitações para autorização de desmatamento e abertura de novas áreas em regiões supostamente proibidas, reduções de áreas de preservação, entre outras. E feitas por ninguém menos do que um Promotor de Justiça e o representante local do IBAMA, órgão responsável pelo setor na esfera federal.

Não vou tomar partido e favor de nenhum dos envolvidos. Conheço dois deles pessoalmente, e tenho na conta de amigos tanto Moacir Pires quanto o promotor Domingos Sávio.

Como o papel do Ministério Público, como fiscal da lei, é averiguar responsavelmente cada indício de ilegalidade que possuir, vamos esperar essa investigação para sabermos se de fato há algum ato criminoso ou antiecológico por parte da FEMA.

O que gostaria de analisar é a dificuldade que o atual governo enfrenta para tratar da questão ambiental. Creio que essa é uma das suas principais contradições imanentes, o ponto fraco, seu calcanhar de Aquiles.

Desde a campanha passada para o governo do Estado, algumas das principais críticas feitas contra Blairo Maggi residiam exatamente no fato de ele, como grande empresário do agronegócio, dar pouca importância para a preservação ambiental. Entre preservar a natureza ou aumentar seus lucros, abrindo todas as novas áreas possíveis, sua opção seria a segunda, de acordo com seus antípodas.

O governo - e não apenas o Moacir Pires, mas o próprio Blairo Maggi - tem uma visão de que deve-se explorar o agronegócio no limite da legalidade. Costuma dizer inclusive que Mato Grosso se tornou o campeão nacional e produção de grãos e plumas explorando apenas 8% de seu território. E que todos os que se colocam contrários ao aumento da exploração agrícola na região estariam, na verdade, fazendo o jogo dos americanos, o principal competidor de Mato Grosso e do Brasil no agrobusiness.

Não acredito nesse maniqueísmo. Não acho que o Blairo, como rei da soja, seja necessariamente um inimigo do meio ambiente. E não acredito também que quem o critica por suas atitudes no setor seja necessariamente um agente do imperialismo yanque.

Mas é fato que a política ambiental do governo do Estado, ao se fundamentar no aumento da produção agrícola em quatro vezes em menos de 10 anos, e sendo o governador um legítimo representante dos produtores, precisaria de uma estratégia de convencimento da sociedade, o que não ocorre sobre a viabilidade, inclusive sócio-econômica e ambiental, de tal ambição.

O governo, a propósito, já sofreu inúmeras acusações de órgãos respeitados da imprensa nacional e internacional por sua postura ambiental. E o que se fala à boca miúda por aí é que estaria para estourar outro grande escândalo nacional por esses dias relacionado ao tema.

Reconheço que o agronegócio não é só negócio. É produção de alimentos, de proteína, de emprego, de renda, de desenvolvimento econômico e social. Mas reconheço também que uma exploração sem planejamento ou focada apenas no lucro fatalmente vai produzir conseqüências sociais e sanitárias muito drásticas. Apesar de não gostar de ecologista nem de ongueiro, muitos dos seus argumentos são absolutamente racionais e sustentáveis.

Penso, por fim, que o governo do Estado deve se voltar urgente e profundamente para o problema, estabelecendo um diálogo franco, permanente e profícuo com a sociedade, local e nacional, sobre os diversos aspectos que envolvem o agronegócio na sua relação com o meio ambiente. O Moacir Pires, pelo que sei, está apenas seguindo a cartilha do governo para o setor. O que deve ser discutido, se quisermos avançar na busca de soluções reais e perenes, é a cartilha, o modelo de desenvolvimento que o governo executa em Mato Grosso, incluindo-se aí a sua política ambiental.

KLEBER LIMA é jornalista e Consultor de Comunicação da KGM – SOLUÇÕES INSTITUCIONAIS. E-mails: kleberlima@terra.com.br e kgm_comunicacao@terra.com.br.




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