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Politica Brasil
Sexta - 06 de Maio de 2005 às 21:51
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Existem certas coisas que eu não consigo entender, por mais que me expliquem não encontro argumentos convincentes para a volatilidade de opinião da Câmara Municipal de Cuiabá. O nosso Legislativo possui o coração borboleta.

No ano passado, depois que o cerco já tinha se fechado contra o contraventor João Arcanjo Ribeiro, a Câmara decidiu tomar de volta as honrarias que tinha lhe concedido, com toda a pompa que tinha direito. Ora, na época eu questionei nesta coluna o porquê disso. A alegação dos nobres vereadores foi de que quando concedem uma honraria eles não ficam investigando o passado da pessoa. Convenhamos, não era necessária uma investigação assim tão apurada. Incrível, mas só a Câmara Municipal não tinha conhecimento das atividades “profissionais” de Arcanjo, enquanto a cidade inteira sabia.

Agora a coisa se repete em situação diferente. Estou me referindo à analise das contas do ex-prefeito de Cuiabá, Roberto França. Não quero aqui entrar no mérito da probidade ou não de sua contabilidade, isso não é de minha competência, mas sim do Tribunal de Contas e da Câmara dos Vereadores. A impressão que tenho é que a contabilidade virou uma batata quente e nenhum vereador assume se aprova ou reprova, a não ser os do PT que são contra porque, ora, porque são contra, afinal, não é conta de companheiro!

O mais engraçado de tudo é que, apesar da renovação de 70% nas últimas eleições, dos 19 parlamentares, pelo menos 10 mantiveram estreitas relações com o ex-prefeito. Muitos tomaram tubaína no mesmo copo. Bem, naquela época que o poder era dele. Se não me falha a memória, cinco dos atuais vereadores ocuparam secretaria, sub-secretaria ou diretoria durante a gestão França. Alguns tinham parentes empregados na inchada e pesada máquina administrativa montada por Roberto. Tem um parlamentar cujo cônjuge chegou a prestar assessoria ao ex-prefeito.

E os que estão em segundo ou terceiro mandato e passaram esses anos todos aprovando as contas da prefeitura? Passaram 8 anos calados sem que uma investigação fosse feita, sem que discordassem de nada, consentindo e acordando com tudo. Comentam sobre um tal “pacto por Cuiabá”, o que era isso? Aceitar tudo sem analisar e perder a real função do Legislativo? Ou será que as contas do ex-prefeito só caíram nas nobres mãos parlamentares agora? Isso é joguinho, charminho de quem não tem urgência em fazer nada mais importante, pelo menos é isso que deixa transparecer para a população.

Se a Câmara Municipal de Cuiabá não tomar uma atitude para resgatar a sua real função e seu brio, a população vai continuar sustentando uma agremiação distribuidora de títulos de cidadania, ordem ao mérito do legislativo e comendas. Para se ter uma idéia, no ano passado, fim de mandato, logo, ano eleitoral, a distribuição de moções de aplauso foi tão farta que a maioria dos presidentes de bairro recebeu, inclusive teve um caso de uma orquestra que recebeu, porém, como não costumam investigar o passado dos agraciados, não sabiam que a tal orquestra homenageada nunca tinha existido. Que mico! Alguns vereadores, quando resolvem fazer algo, assim, como se fosse um ato de “ousadia”, mudam nomes de ruas ou praças e convocam audiências públicas, onde pouco ou nada se decide em prol da população.

A função dos Vereadores é mais do que trocar nomes de praças e ruas, eles não são despachantes de luxo. Também não é apenas conceder honrarias, para isso existem os colunistas sociais. O que esperamos e precisamos é que ajam como indivíduos conscientes da legítima obrigação de um vereador.

Adriana Vandoni Curvo é economista, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. Pós-graduanda em Gerente de Cidades pela FAAP. E-mail: avandoni@uol.com.br – Blog: http://argumento.bigblogger.com.br




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