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Cultura
Sexta - 06 de Maio de 2005 às 07:59
Por: Luiz Fernando Vieira

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Grandes batalhas e pedofilia nos lançamentos de hoje nos cinemas. O diretor Ridley Scott, que assinou o premiado Gladiador, volta aos filmes épicos em Cruzada. A produção chega aos cinemas em lançamento mundial sob um certo clima de preocupação por parte de seus realizadores. Eles temem que Cruzada repita os fracassos de Tróia, Alexandre e Rei Arthur. Em comum, todos foram filmes caros que não tiveram o retorno esperado e falaram de episódios marcantes da história da humanidade. Já o modesto O Lenhador, a outra estréia, recebeu boas críticas, principalmente à atuação de Kevin Bacon no papel de um pedófilo.

Nem mesmo os elencos estelares conseguiram garantir boas cifras à Cruzada, que por sinal abusa no quesito elenco. O time de estrelas comandado por Orlando Bloom (o Legolas de Senhor dos Anéis) tem a bela Eva Green, Edward Norton, Liam Neeson e Jeremy Irons, entre outros. Para alguém em especial, o jovem Bloom, o filme surge como a grande oportunidade de mostrar serviço e apagar de vez a imagem de elfo deixada pela trilogia de Peter Jackson.

O filme, apesar das várias cenas de violência, fala sobre tolerância, honra e humanidade. Se passa no período das cruzadas, que começaram no século 11 e foram realizadas até o século 14, sempre marcadas por combates ferozes que vitimaram muita gente, de ambos os lados. É nesse universo que Scott conta a história de Balian (Bloom), um homem comum, mas de extraordinária consciência. Ele se torna um cavaleiro e embarca numa jornada que transformaria radicalmente sua vida.

Começa mostrando Balian como um jovem ferreiro francês, ainda abalado pela morte de sua esposa e filho. Ele é procurado por Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), um nobre de Jerusalém profundamente dedicado a manter a paz na Terra Santa. Godfrey convence Balian, que na verdade é seu filho ilegítimo, a juntar-se a ele numa sagrada missão. Com a inesperada morte de seu pai, Balian herda terras e um título próprio em Jerusalém, cidade em que cristãos, muçulmanos e judeus só conviveram em paz durante um breve período, entre a segunda e a terceira cruzadas, em 1186.

Mesmo estando em uma terra estranha e servindo a um rei amaldiçoado, ele resolve honrar o juramento que fez a Godfrey, tornando-se o mais honrado e heróico dos cavaleiros. Sua missão é proteger pos habitantes da Terra Sagrada das esmagadoras forças que tentam, a todo custo, tomar a cidade. Uma tarefa nada fácil que se torna ainda mais complicada quando Balian passa a dividir suas atenções entre o dever e a atração pela enigmática irmã do rei, a princesa Sibylla (Eva Green).

Sem levar em conta as críticas e reclamações de historiadores sobre a forma como Scott mostra essas batalhas, Cruzada se mostra interessante por trazer à tona esse polêmico tema. A participação da Igreja Católica nesses acontecimentos fez inclusive com que o o Papa João Paulo II pedisse perdão aos judeus e muçulmanos quando de sua visita à Terra Santa para a celebração pela passagem do segundo Milênio do Cristianismo. Foi um papa, o Urbano II, que convocou fiéis cavaleiros para o enfrentamento de árabes e judeus. Em jogo estava a manutenção do livre acesso dos cristãos a Jerusalém.

Mais polêmica - A outra atração deste fim de semana nos cinemas de Cuiabá, o filme O Lenhador, promete esquentar as discussões sobre um tema que vem ganhando cada vez mais espaço na mídia, a pedofilia. A produção, no entanto, não procura se aproveitar disso, deixando de lado a apelação e partindo para uma espécie de análise da mente de um pedófilo que já pagou pelo crime mas se vê atormentado pelo medo de recaídas e a perseguição de um policial descrente de sua redenção.

O Lenhador conta o drama de Walter, um homem preso em flagrante por molestar meninas de dez anos. Mostra o ponto de vista do problemático personagem, interpretado pelo ator Kevin Bacon. Após passar 12 anos preso, Walter é colocado em liberdade condicional. Tranqüilo, educado, acanhado e de aparência frágil, ele espera, sinceramente, conseguir viver em sociedade como uma pessoa "normal". Porém, sabe que não será nada fácil controlar seus desejos.

Walter arruma um emprego em uma serraria e acaba até começando um namoro com uma colega de trabalho (Kyra Sedgwick). Ao mesmo tempo, vive um dilema interno ao observar pela janela as crianças que brincam no pátio de uma escola bem em frente a sua casa. Além disso, ele enfrenta o cerco de um investigador de polícia (Mos Def). Para piorar, ele é rejeitado por sua única parente de sangue, uma irmã, e é tratado com indiferença pelo próprio terapeuta indicado pelo tribunal para acompanhá-lo.

O filme coloca o personagem na linha que separa a normalidade da degeneração. Ou seja, as emoções contidas transformam Walter em uma pessoa sempre prestes a ter uma recaída. Ponto para Bacon, que está sendo apontado como o grande responsável pela boa aceitação do filme, apesar do tema indigesto. Consegue transmitir uma humanidade que acaba fazendo com que as pessoas se solidarizem com ele. O Lenhador foi bem recebido no Festival de Cinema Sundance, o mais conceituado entre os certames direcionados a trabalhos independentes.

O filme foi baseado em uma peça teatral, escrita por Steven Fechter, que ajudou na adaptação para o cinema. O título, faz referência à fábula do Chapeuzinho Vermelho, na qual o lenhador - ou seria caçador? - abre a barriga do lobo para salvar a criança. A direção é da estreante Nicole Kassell.




Fonte: A Gazeta

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