São Bernardo do Campo - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou hoje a identificação da Igreja com a causa dos trabalhadores, especialmente a Igreja da Matriz de São Bernardo do Campo, que em 1979, durante a greve liderada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, concedeu abrigo a ele e a outros sindicalistas perseguidos pelo regime militar. O reconhecimento de Lula ao papel da Igreja foi feito no púlpito da Matriz no encerramento da missa celebrada pelo bispo diocesano de Santo André, d. Nelson Westrupp, em comemoração ao 1º de Maio.
O presidente chegou à igreja pontualmente às 9h30, sob um forte esquema de segurança, e foi recebido com uma salva de palmas que se repetiu na sua saída. Lula, que comparece a esta missa desde 1979, comungou e, ao término da cerimônia, falou por aproximadamente 15 minutos.
"O senhor sabe bem a história que marcou a relação do trabalhador com a Igreja do ABC, disse, dirigindo-se a d. Nelson. "Aqui nós tivemos guarida da Igreja, não apenas para suprir as nossas necessidades espirituais, mas para fazer com que os trabalhadores tivessem uma retaguarda para enfrentar momentos difíceis que a democracia brasileira, de pouca inexistência naquele momento, criava situação delicada para nós."
Lula relembrou também que o primeiro 1º de Maio que teve uma ligação entre a Igreja do ABC e os trabalhadores foi o de 1979, no Paço Municipal, com a presença de duas figuras importantes. "De um lado, o nosso bispo da época, dom Cláudio Hummes, de outro Vinícius de Moraes e, de outro, os trabalhadores e o prefeito Tito Costa, que está aqui", disse Lula. No segundo primeiro de maio, disse o presidente, ele não pôde estar porque encontrava-se preso juntamente com outros sindicalistas.
"Mas aqui estiveram Marisa, a diretoria do Sindicato e centenas de milhares de trabalhadores que conseguiram produzir, talvez, um dos mais bonitos espetáculos de resistência democrática da classe trabalhadores brasileira", ressaltou o presidente, acrescentando que foi na Praça da Matriz de São Bernardo do Campo que o general Braga, que parecia estar querendo causar um conflito entre os trabalhadores e a Polícia, teve que recuar, por bom senso, em função dos milhares e milhares de homens e mulheres que tomaram conta da Praça.
"Eu estou aqui neste 1º de maio, dom Nelson, com a certeza de que todos os bispos que passaram e os que passarão por aqui, imediatamente fazem uma relação com o povo trabalhador desta região que, em apenas um ano, parece que a convivência já é de 20 anos ou mais, porque os padres têm experiência, convivem com esta gente", disse o presidente.
Durante sua fala, Lula fez também um relato de algumas medidas tomadas pelo seu governo, destacando as ações no campo da reforma agrária, apoio à agricultura familiar e microcrédito. Ele foi aplaudido quando se deteve no projeto de transposição do Rio São Francisco.
"Uma coisa extremamente importante para o Nordeste, para gerar emprego, é que finalmente, depois de 150 anos, porque Dom Pedro queria fazer a transposição do São Francisco em 1846, é que finalmente nós vamos fazer um processo de revitalização do rio São Francisco. Nós vamos levar água para beber para aproximadamente 12 milhões de famílias nordestinas, deixando de cada lado do canal, que vai ter 25 metros de largura, dois quilômetros e meio de cada lado, para que a gente possa fazer uma boa política de cooperativa, de produção de coisas para ajudar a agricultura familiar", disse Lula.
Acompanhado da primeira dama, dona Marisa Letícia, do presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoino, do senador Eduardo Suplicy e do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, o presidente saiu da igreja da Matriz de São Bernardo do Campo às 11h30. Centenas de pessoas que acompanhavam a cerimônia esperaram Lula do lado de fora. O presidente fez questão de cumprimentar a maioria dos que estavam próximos ao alambrado. Às 11h50, ele seguiu direto para sua residência, onde deveria permanecer o resto do dia, segundo assessores.
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