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Politica Brasil
Sábado - 30 de Abril de 2005 às 11:42
Por: Onofre Ribeiro

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Mais do que de crise, o cenário imediato do agronegócio em Mato Grosso é de estabelecer estratégias. Os produtores têm nas mãos os seguintes problemas, na visão do produtor Rogério Salles, ex-governador do estado até 2003:

1- custo de produção: compraram insumos com o dólar cotado em R$ 3,1 e estão vendo a produção a R$ 2,5. Na bolsa de Chicago o preço está bom. O problema é na conversão do dólar para exportar e nos preços de insumos;

2- o custo dos fretes e a infraestrutura de escoamento: o preço médio do frete para Paranaguá (PR), era de R$ 50,00 no ano passado. Em 2005 é de R$ 80,00;

3- a produtividade e o custo de produção: a média mato-grossense era de 55 sacas/hectare. A média geral tem sido de 46, mas há regiões como Itiquira, no Sul, e outras do Médio Norte, atacadas pela chuva ou pela ferrugem, onde caiu para 30 sacas;

4- os custos de produção: antes o preço do fertilizante era o que mais pesava na produção. Hoje é o defensivo e o inseticida que subiram estratosfericamente, lembra Rogério Salles. As três aplicações mínimas de inseticida contra ferrugem na soja custam 8 sacas por hectare. Mas em algumas regiões precisou de 5 aplicações.

O desdobramento desses tópicos abre severas discussões. Por exemplo, o produtor comprou muitas máquinas e mais terras no auge do preço bom. Hoje não pode deixar de plantar, mas se plantar afunda. Houve muito crédito como o Moderfrota, por exemplo, para renovar a frota velha de tratores e máquinas. Agora o produtor está devendo cerca de R$ 1 bilhão ao BNDES para pagar em 2005.

As soluções precisam ser negociadas nas seguintes áreas:

1- o maior problema é o câmbio. Tem que ser mexido, diz Rogério Salles.

2- Tem que resolver o problemas dos custos de insumos, o que implica em mexer na carga tributária. Exemplo: na Argentina que é o segundo maior produtor de soja na América do Sul, as máquinas não pagam imposto sobre produtos industrializados e o produtor ainda goza de vantagens fiscais. Logo, produz mais barato, porque a carga tributária de lá não incide em cascata sobre todos os itens usados na produção. Os químicos lá são 40% mais baratos;

3- A questão do frete, da Ferronorte e da hidrovia. Há três anos Ferronorte travou em Alto Araguaia e transporta o mesmo volume de carga, ainda que a produção tenha quase dobrado desde então;

4- A questão do custo dos defensivos químicos porque a ferrugem asiática é favorecida pelo clima quente de Mato Grosso;

5- A questão do crédito: o dólar tem sido usado para a especulação. Vem do exterior a 5% de juros, vai par a especulação e depois é devolvido com grande lucro. E a produção fica sem crédito, já que o governo do Brasil financia hoje menos de 25% do crédito agrícola, contra 80% de tempos atrás. O resto é financiado pelas trades do adubo, dos defensivos e dos grãos.

A conclusão de Salles é a que os próximos anos serão anos difíceis. O certo seria reduzir o plantio, mas os produtores investiram muito e agora precisam pagar a dívida.

Logo, ficam naquela equação histórica: se ficar o bicho pega...! Voltarei ao assunto.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM onofreribeiro@terra.com.br




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