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A história de um mito em Diários de Motocicleta
Houve momentos em que Gael García Bernal duvidou de sua capacidade para interpretar o jovem Ernesto Guevara de Diários de Motocicleta. Embora o filme de Walter Salles seja sobre o jovem Che, antes de se tornar o revolucionário que virou um dos maiores ícones do século 20, a carga sobre Gael era imensa. O filme era sobre Ernesto, mas o espectador sabe que ele é o Che. Como passar isso? "Tive momentos de pânico, mas aí Rodrigo e Walter me tranqüilizavam e, mais do que isso, com a confiança deles devolviam a minha confiança. Não poderia estragar um filme feito com tanta ternura."
Rodrigo é o ator argentino Rodrigo De La Serna, que faz Alberto Granado, companheiro do jovem Ernesto em sua viagem de descoberta da América Latina, quando se forjou o futuro revolucionário, em 1952. Walter é o diretor Walter Salles, que assina Diários de Motocicleta. O filme já está nas locadoras. Gael tem o sorriso tímido e até um pouco triste. Os olhos revelam transparência. Walter Salles deve tê-lo escolhido pela franqueza desse olhar que passa, imediatamente, uma idéia -esse cara só pode ser do bem. Aos 25 anos, o ator mexicano já participou de filmes importantes, como Amores Brutos, de Alejandro González Iñárritu, E Sua Mãe Também, de Alfonso Cuarón, e O Crime do Padre Amaro, de Carlos Carrera.
Gael é jovem, bonito, talentoso e ainda fez aquele discurso politizado na festa de entrega do Oscar, em março do ano passado. Parecia haver incorporado o jovem Che. Falou da perspectiva de um homem latino-americano que vai à festa dos poderosos dos EUA e discursa pela paz e contra a exclusão.
- Como recebeu o convite de Walter Salles para interpretar o jovem Ernesto Guevara de Diários de Motocicleta?
- Fiquei contente, mas também um pouco assustado. Quando foi convidado por Robert Redford para dirigir o filme, Walter lhe disse que um filme assim só poderia ser feito com atores de língua espanhola, falado em espanhol. Não apenas eu, mas Rodrigo (De La Serna) e todos os demais atores entramos no projeto por causa desse conceito. O filme não é sobre o Che, mas todo mundo sabe que o jovem Ernesto vai virar o Che. Como negar a influência dele sobre nossas vidas? A Revolução Cubana foi um divisor na nossa consciência de latino-americanos. Minha geração já nasceu marcada pela figura do Che, como um herói latino-americano moderno. Che foi um argentino que lutou em um país que não era o dele e virou um cidadão da América Latina e do mundo. Nas várias fases de sua vida, foi sempre um modelo de integridade e coerência. Gostaria muito de acreditar que esta história, surgindo neste momento, poderia fortalecer nas pessoas o desejo de buscarem os próprios ideais, fugindo ao consumismo da era em que vivemos.
- Qual foi sua maior dificuldade ao interpretar o jovem Ernesto?
- Tudo foi difícil e, ao mesmo tempo, formávamos uma equipe muito integrada, como se fôssemos uma família, e isso facilitava as coisas. Tive meus momentos de dúvida e insegurança, mas um dia Rodrigo me liberou. Tínhamos feito uma pesquisa muito grande, eu ouvira centenas de vezes os discursos do Che e queria recriar a voz dele. Rodrigo, com muita simplicidade, sugeriu que eu usasse a minha voz. Disse que o Che gostaria que eu fizesse isso. Foi o que fiz e, a partir daí, encontrei em mim o jovem Ernesto. Criei a fantasia de que ele estava presente, nos acompanhando. Imaginava como ele gostaria que eu interpretasse as cenas. Foi emocionante para mim.
- O que mudou em você?
- A maior lição que tive com Ernesto foi a de que é preciso viver com integridade e coerência. E que, apesar das diferenças, nós, latino-americanos, temos uma identidade muito forte, que só precisamos assumir e fortalecer.
Direção - A formação humanista fez de Walter Salles o artista que é. Em plena era da globalização, ele vem agora com esse filme pré-revolução, sobre um ícone da esquerda. "A gente fica três anos preparando um filme, até que chega a hora de dividi-lo com o público. A gente fica querendo vê-lo caminhar com as próprias pernas, mas também fica preocupado em protegê-lo."
Como em Terra Estrangeira e Central do Brasil, que são os melhores filmes de Salles - ele concorda com a avaliação -, o tema de Diários de Motocicleta é uma viagem de descoberta. Como os personagens de Fernando Alves Pinto e Vinicius de Oliveira naqueles dois filmes e não apenas eles - as personagens de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, também -, o jovem Ernesto Guevara que sai pela América Latina numa viagem de moto com o amigo Alberto Granado descobre alguma coisa que ficou impressa nos Diários (e Salles põe na imagem).
"O filme é exatamente isso, uma viagem de iniciação. Dois jovens descobrem seu lugar no mundo ao desvendarem o continente no qual vivem, no caso, a América Latina. Tematicamente, o filme aborda as mesmas questões que me levaram a fazer Terra Estrangeira e Central do Brasil. Mas se as perguntas são as mesmas, são agora declinadas de forma diferente. Dizem respeito a quem somos, de onde viemos, para onde vamos."
Rodrigo é o ator argentino Rodrigo De La Serna, que faz Alberto Granado, companheiro do jovem Ernesto em sua viagem de descoberta da América Latina, quando se forjou o futuro revolucionário, em 1952. Walter é o diretor Walter Salles, que assina Diários de Motocicleta. O filme já está nas locadoras. Gael tem o sorriso tímido e até um pouco triste. Os olhos revelam transparência. Walter Salles deve tê-lo escolhido pela franqueza desse olhar que passa, imediatamente, uma idéia -esse cara só pode ser do bem. Aos 25 anos, o ator mexicano já participou de filmes importantes, como Amores Brutos, de Alejandro González Iñárritu, E Sua Mãe Também, de Alfonso Cuarón, e O Crime do Padre Amaro, de Carlos Carrera.
Gael é jovem, bonito, talentoso e ainda fez aquele discurso politizado na festa de entrega do Oscar, em março do ano passado. Parecia haver incorporado o jovem Che. Falou da perspectiva de um homem latino-americano que vai à festa dos poderosos dos EUA e discursa pela paz e contra a exclusão.
- Como recebeu o convite de Walter Salles para interpretar o jovem Ernesto Guevara de Diários de Motocicleta?
- Fiquei contente, mas também um pouco assustado. Quando foi convidado por Robert Redford para dirigir o filme, Walter lhe disse que um filme assim só poderia ser feito com atores de língua espanhola, falado em espanhol. Não apenas eu, mas Rodrigo (De La Serna) e todos os demais atores entramos no projeto por causa desse conceito. O filme não é sobre o Che, mas todo mundo sabe que o jovem Ernesto vai virar o Che. Como negar a influência dele sobre nossas vidas? A Revolução Cubana foi um divisor na nossa consciência de latino-americanos. Minha geração já nasceu marcada pela figura do Che, como um herói latino-americano moderno. Che foi um argentino que lutou em um país que não era o dele e virou um cidadão da América Latina e do mundo. Nas várias fases de sua vida, foi sempre um modelo de integridade e coerência. Gostaria muito de acreditar que esta história, surgindo neste momento, poderia fortalecer nas pessoas o desejo de buscarem os próprios ideais, fugindo ao consumismo da era em que vivemos.
- Qual foi sua maior dificuldade ao interpretar o jovem Ernesto?
- Tudo foi difícil e, ao mesmo tempo, formávamos uma equipe muito integrada, como se fôssemos uma família, e isso facilitava as coisas. Tive meus momentos de dúvida e insegurança, mas um dia Rodrigo me liberou. Tínhamos feito uma pesquisa muito grande, eu ouvira centenas de vezes os discursos do Che e queria recriar a voz dele. Rodrigo, com muita simplicidade, sugeriu que eu usasse a minha voz. Disse que o Che gostaria que eu fizesse isso. Foi o que fiz e, a partir daí, encontrei em mim o jovem Ernesto. Criei a fantasia de que ele estava presente, nos acompanhando. Imaginava como ele gostaria que eu interpretasse as cenas. Foi emocionante para mim.
- O que mudou em você?
- A maior lição que tive com Ernesto foi a de que é preciso viver com integridade e coerência. E que, apesar das diferenças, nós, latino-americanos, temos uma identidade muito forte, que só precisamos assumir e fortalecer.
Direção - A formação humanista fez de Walter Salles o artista que é. Em plena era da globalização, ele vem agora com esse filme pré-revolução, sobre um ícone da esquerda. "A gente fica três anos preparando um filme, até que chega a hora de dividi-lo com o público. A gente fica querendo vê-lo caminhar com as próprias pernas, mas também fica preocupado em protegê-lo."
Como em Terra Estrangeira e Central do Brasil, que são os melhores filmes de Salles - ele concorda com a avaliação -, o tema de Diários de Motocicleta é uma viagem de descoberta. Como os personagens de Fernando Alves Pinto e Vinicius de Oliveira naqueles dois filmes e não apenas eles - as personagens de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, também -, o jovem Ernesto Guevara que sai pela América Latina numa viagem de moto com o amigo Alberto Granado descobre alguma coisa que ficou impressa nos Diários (e Salles põe na imagem).
"O filme é exatamente isso, uma viagem de iniciação. Dois jovens descobrem seu lugar no mundo ao desvendarem o continente no qual vivem, no caso, a América Latina. Tematicamente, o filme aborda as mesmas questões que me levaram a fazer Terra Estrangeira e Central do Brasil. Mas se as perguntas são as mesmas, são agora declinadas de forma diferente. Dizem respeito a quem somos, de onde viemos, para onde vamos."
Fonte:
AE
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/343218/visualizar/
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