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Cultura
Segunda - 18 de Abril de 2005 às 12:50

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A faceta literária de Chico Buarque está muito ligada com seu processo criativo como músico, como ficou evidente em um diálogo entre o cantor e o escritor americano Paul Auster em um fórum literário em Nova York.

"Tenho uma necessidade inconsciente de escrever literatura de uma forma musical", disse Chico no último sábado em uma conversa com Auster, na abertura do festival internacional de literatura Pen World Voices, em Nova York.

Como em uma conversa entre amigos, Auster revelou um Chico escritor e seu processo criativo na produção de literatura, em particular seu último romance, Budapeste, traduzido para vários idiomas.

Muito apropriadamente para a ocasião, Chico Buarque leu um trecho desta obra - em sua tradução ao inglês - sobre um lingüista brasileiro que, em Budapeste, é seduzido pela língua húngara, "a única no mundo que o diabo respeita".

Enquanto Chico comentou sua produção literária, Auster confessou ter escrito as letras de três canções, às quais depois encomendou os arranjos.

"Um romancista realmente bom faz uma composição musical quando escreve", acrescentou.

"Cada vez que escrevo uma canção é porque me vem à mente e pronto. Só escrevo a letra e não penso na música. O compositor se encarrega disso", acrescentou Auster.

Surpreso, Chico pediu que ele explicasse como escreve as letras sem escutar a música em sua cabeça, acrescentando que sempre escreve a letra junto com a música ou primeiro a música, depois a letra, mas não ao contrário.

"Quando escrevo sem pensar na música, escrevo prosa", disse Chico, de 60 anos, que tem três romances publicados.

"Sinto prazer quando escrevo, mas, claro, sempre haverá alguma luta, por exemplo, quando é preciso mudar uma palavra que não rima.

Em minhas canções, tenho como regra não submeter a música às palavras", explicou Chico.

"Portanto, é preciso encontrar essa palavra que rime ou que se encaixe na música. Essa palavra pode ser completamente diferente em significado da palavra originalmente pensada para essa estrofe, mas é válida sempre que tiver o ritmo que busco", acrescentou.

Para Chico Buarque, escrever canções e literatura exigem o mesmo tempo e esforço. Budapeste, por exemplo, foi escrito em dois anos e dois meses.

Chico também falou de como começou a escrever e de como a censura imposta pela ditadura militar brasileira o levou a escrever metáforas que às vezes nem ele mesmo entende quando as relê.

"Escrever literatura foi uma ambição da minha juventude. Meu pai, historiador e crítico literário, não me pressionou a escrever, mas apreciava quando eu escrevia. Aos 21 anos, comecei a compor canções, e isso foi o que me seqüestrou", lembrou.

Chico destacou também que a publicação de seu primeiro livro foi um risco, já que "ninguém pensa que um compositor bem-sucedido pode escrever um bom romance".

"Assumi o desafio. Após passar um ano sem escrever canções, me disse: 'algo anda mal; tenho que tentar outra coisa'. Então, há 15 anos, escrevi meu primeiro romance e as pessoas começaram a aceitar a idéia de que posso ser um escritor razoável", disse.

O primeirio dia do festival literário aconteceu na Biblioteca Pública de Nova York. O evento reunirá 115 importantes escritores de mais de 45 países até o próximo dia 22 de abril, entre eles o brasileiro Rubem Fonseca, o indo-britânico Salman Rushdie, o argentino Tomás Eloy Martínez, a mexicana Elena Poniatowska, o cubano José Manuel Prieto, o espanhol Antonio Muñoz Molina e a colombiana Laura Restrepo.





Fonte: EFE

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