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Politica Brasil
Segunda - 18 de Abril de 2005 às 07:14

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O governador Blairo Maggi se inspirou no atual secretário de Estado de Desenvolvimento Rural (Seder), Otaviano Pivetta (PPS), para concorrer à vaga para o governo do Estado. Esta é uma das revelações feitas por Pivetta em entrevista que ele concedeu à reportagem da Folha do Estado no gabinete dele esta semana. Durante a conversa, Pivetta falou sobre o trabalho à frente da Seder, confirmou que deve deixar a pasta no segundo semestre e descartou qualquer possibilidade de se lançar candidato em 2006. Crítico, Pivetta avaliou o governo Blairo Maggi como regular. "Nota 6", observou.

O maior problema, segundo o secretário, são os entraves burocráticos que tornam lentas as decisões tomadas na gestão. Crítico ele também é com relação ao Fundo Constitucional do Centro Oeste e à recriação da Sudeco. Após cumprir dois mandatos como prefeito de Lucas do Rio Verde, Pivetta dá a receita para aqueles que querem obter sucesso e aprovação popular. Ele fala também dos projetos políticos do PPS para as próximas eleições e dá indicações do perfil ideal para compor a chapa majoritária com Blairo Maggi, rumo à reeleição no governo estadual.

Folha do Estado - Qual avaliação o senhor faz dos três meses à frente da secretaria?

Otaviano Pivetta - É uma experiência nova na minha vida. Nesses três meses conheci a estrutura e pude entender o papel que a secretaria tem a cumprir. Recebi a orientação do governo sobre as prioridades que temos que dar e readequamos a estrutura de acordo com a visão que temos, imprimindo nossos conceitos de gestão. Procuramos tornar as ações mais rápidas e eficientes. Definimos e substituímos duas superintendências, uma é de desenvolvimento da Baixada Cuiabana, que trabalha para pagar a dívida histórica que Mato Grosso tem, para desenvolver a Baixada.

Folha - Poderia dar exemplos de que ações serão desenvolvidas?

Pivetta - Primeiro é corrigir um problema estrutural, que é o abastecimento de água. O segundo é fomentar, ao redor de todas as cidades da Baixada Cuiabana, a produção de frutas, legumes e frutas para o abastecimento das cidades e produzir em escala, com assistência técnica.

Folha - Quais os principais problemas enfrentados pelo senhor na Secretaria?

Pivetta - O Estado é uma estrutura bem lenta. O que fazemos em uma semana no Executivo Municipal, no Estado, sendo otimista, se leva um mês para fazer. As ações são mais demoradas. Se for estabelecer um comparativo, o Estado é um trem onde a locomotiva é o Palácio e as secretarias são vagões que não têm como se desvincular da locomotiva. A gente tem que andar na linha. A prefeitura não. É uma locomotiva e tem autonomia. Nós aqui somos subordinados a uma disciplina orçamentária e fiscal e uma série de disciplinas governamentais. Vemos muita dificuldade na falta de agilidade do Estado, pela sua estrutura.

Folha - O senhor criticou o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). Disse que ele não atende quem deveria atender.

Pivetta - Falei que o FCO não cumpre sua função porque foi criado para desenvolver as regiões pobres do Brasil, menos desenvolvidas, mas só cumprirá sua função em Mato Grosso se passar a financiar empreendimentos que mudem o perfil socioeconômico do Estado. O agronegócio não foi o FCO que alavancou em Mato Grosso. Nem por isso as regiões que eram pobres deixaram de ser pobres. O que o FCO tem que fazer é atender as demandas que o Estado precisa, que é financiar projetos que mudem o perfil econômico, que completem as cadeias produtivas. Não aceitamos mais que o FCO seja representado por um único agente financeiro para fazer o repasse. Há muita queixa contra o Banco do Brasil, como falta de funcionários e de agências para atender os pequenos produtores.

Folha - E com relação à Sudeco, o senhor é contra a recriação da Superintendência?

Pivetta - Nós manifestamos nossa posição favorável desde que ela comece a produzir resultados e que seja uma agência enxuta, que faça a função de credenciar agentes financeiros para descentralizar a aplicação do FCO. Na parte de incentivos fiscais, que os critérios sejam claros e transparentes, sem burocracia para que não se repitam as barbaridades que a Sudam produzia. É preciso discutir que tipo de incentivo vai se criar para não trazer de volta para o cenário atual os privilégios, descaminhos e corrupções do passado com a Sudam.

Folha - O senhor é coordenador do consórcio de empresários que vai participar da licitação da BR-163. Quando a rodovia será licitada?

Pivetta - O governo promete publicar o edital até agosto. Os estudos estão prontos. Os projetos, plano de exploração da rodovia, relatório de impacto ambiental, tudo isso está pronto. O que falta é a elaboração e publicação do edital.

Folha - Até lá o senhor permanece na Seder?

Pivetta - Esse cargo é do governador. Fui convidado, aceitei e estou me esforçando para produzir o máximo de efeitos positivos. Minha prioridade sempre disse que é cuidar da BR-163, que é um assunto que preconizei, peguei desde o início e quero ir até o fim. É possível que em agosto eu tenha que me retirar do governo para me dedicar mais à BR-163.

Folha - O senhor tem algum projeto político para 2006? Pensa em se candidatar a algum cargo?

Pivetta - Definitivamente, não tenho. Projeto pessoal nunca tive. Fui prefeito por duas vezes porque houve uma manifestação, na época em que me candidatei, de um grupo indignado com a situação em Lucas e interessado em reerguer o município. Me propus a aceitar o desafio. Quando o governador Blairo começou a pensar em vir para a vida pública, na época em que era suplente e assumiu o Senado, foi quando o conheci. Maggi passou a nos visitar em Lucas e estreitamos o relacionamento. Ele disse que foi motivado a ser candidato porque viu lá em Lucas que era possível aplicar os métodos de gestão de resultado na vida pública e fazer as coisas acontecerem.

Folha - De certa forma ele se inspirou e se espelhou no senhor para se lançar ao governo?

Pivetta - É, e isso sempre me envaideceu muito, porque ele é um grande brasileiro em ter tomado essa decisão de se privar de viver folgadamente em qualquer lugar do mundo para servir a sociedade e navegar na turbulência que ele navega. Aqui faço parte também de um partido composto por grande grupo de pessoas que pensam mais ou menos na mesma linha e me acho muito prestigiado no governo. Também penso que fui longe demais por ter nascido em Caiçara (RS), filho de um caminhoneiro, ser um pequeno produtor de 15 hectares e me tornar um grande produtor. O que está acontecendo comigo é um prêmio além do que eu esperava ganhar na vida.

Folha - Se o partido chegar à conclusão de que o senhor é um bom nome para concorrer ao cargo de deputado federal...

Pivetta - Mas o partido não vai chegar a essa conclusão porque temos uma auto-análise bem clara. Nossa semelhança de perfil com o governador é muito grande. Me vejo bem representado no Blairo. Não sinto necessidade de estar concorrendo também. Vamos ajudar a mantê-lo, a governar, porque não é fácil satisfazer a sociedade. Só tem um jeito de se manter no poder, que é com a satisfação popular. A sociedade confiou no Blairo mesmo sem conhecê-lo, mas para mantê-lo no poder é a satisfação. Não tem outro ingrediente. O passado nos mostrou isso. Tem pessoas que até a hora da eleição parecem estar eleitas. Chega na hora da eleição, ficam fora. Vivem dizendo que o Blairo não sabe fazer propaganda. E adianta propaganda? A pessoa tem que sentir se recebeu algum benefício. Me disponho a ser um soldado e ajudar o governador.

Folha - E quais os planos do partido para 2006? Vão reeditar a coligação Mato Grosso Mais Forte?

Pivetta - Do jeito que está, com a anarquia que é o sistema político-partidário, é difícil. Está se desenhando um cenário nacional do PSDB com o PFL. Com a verticalização, o PFL estará do outro lado. O que temos como certo é que precisamos trabalhar muito para ter a população satisfeita e estar situado em um partido que tenha o respaldo da sociedade, que não esteja contaminado de quadros que manchem, que maculem a imagem do governador. Estando dentro de um bom partido e sem contaminação, a sociedade sabe avaliar.

Folha - Que partidos "não contaminados" poderiam se juntar ao PPS?

Pivetta - Estamos fechados com o PDT. A mim foi atribuída a tarefa de conversar com o PDT.

Folha - E tem a possibilidade de o senhor ir ao PDT?

Pivetta - Nesse momento não, porque vamos estar juntos. Não vejo motivo para isso. São dois partidos irmãos e não haveria justificativa para isso. Mas me sentiria bem no PDT.

Folha - Como se dá a conversa para escolher o candidato a vice-governador?

Pivetta - Isso não foi discutido porque é muito cedo ainda. É importante lembrar que na outra eleição essas discussões foram feitas 90 dias antes da eleição e ninguém queria ser vice do Blairo. Por que agora todo mundo quer ser vice? O PPS ficou com as duas vagas porque ninguém queria. O PFL não queria. Engraçado isso. Mas isso será discutido com todos os partidos. É importante que seja uma liderança da Baixada Cuiabana, que tenha raízes profundas aqui, uma liderança nova, porque é importante a renovação.

Folha - Já há algum nome em vista? O senhor fala como se tivesse alguém em mente.

Pivetta - Não. A sociedade gosta disso. Por que tem que ser só quem é e quem já foi?

Folha - Quando Maggi foi eleito, havia uma estratégia para cortar os laços com a velha oligarquia política. Por que esse plano não foi levado adiante?

Pivetta - Mas foi. Dona Iraci não tem nada a ver com a oligarquia, tem? Temos que dar oportunidade para quem quer ser e quem pode. A sociedade merece e precisa de novas lideranças. Temos que ter esperança que o mundo vai melhorar.




Fonte: Folha do Estado

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