Leitura no Pedra 90 estava virando hábito

Os moradores do bairro se dizem revoltados com o fechamento da biblioteca alternativa e consideraram um ato violento e antidemocrático. "Ninguém perguntou se a gente gostava de lá. Meus filhos ficaram chateados. Às vezes eles pegam um livro velho, antigo, e ficam abrindo e fechando. Eu só observo e também fico magoada de ver que foi tirada deles a oportunidade de se instruir", lamenta Maria Gertrudes. Seu filho mais novo, Fábio Júnior, 12, diz, chateado, o quanto sente falta do lugar para onde ia todos os dias depois da aula. "Gostava dos livros, das histórias da Branca de Neve e de João e Maria". Maria Gertrudes conta que, antes de funcionar a biblioteca, as crianças viviam na rua e não estudavam. "Foi uma bênção ver que eles passaram a se interessar. Tinha oficinas de desenho e atividades nos finais de semana. Eles realmente se envolveram", recorda.

Por outro lado, alguns estudantes que moram na primeira etapa do bairro Pedra 90 pararam de frequentar o local a pedido de pais, que consideravam perigosas as imediações da biblioteca. A diretora da Escola Municipal Senador Gastão de Matos Muller, Elza Maria Kerkhoff, confirma que parou de pedir aos alunos que pesquisassem na biblioteca depois de receber inúmeras reclamações de pais preocupados com os riscos do local. Ela relata, entretanto, que os estudantes se interessavam pela literatura e muitos até desobedeciam as mães.

Foi o caso de João Ewerton Cardoso, 11. O garoto conta que, no começo, ia até o local quando a professora pedia pesquisas para trabalhos. Mas começou a pegar gosto pela leitura e incorporou a atividade à sua rotina. "Ia brincar na casa de um amigo que mora lá perto e passávamos por lá para ler os livros. Ficávamos, pelo menos, meia hora. Eu gostava da biblioteca, tinha muitos livros que a gente não encontrava na escola". (FB)