Tiros ilustram 50% dos crimes

Mais da metade dos homicídios cometidos em 2005 em Cuiabá foram provocados por armas de fogo, que fazem mais vítimas no Brasil do que em qualquer país do mundo.

Um relatório da ong Viva Rio aponta que no Brasil mais de 38 mil pessoas morreram em 2002 ao serem atingidas por tiros, disparados intencionalmente ou não. A quantidade supera a de países como os Estados Unidos, El Salvador, que já viveu décadas de guerra civil, e Colômbia, considerada o berço do tráfico de drogas na América do Sul. A capital de Mato Grosso, cujos índices de violência saltam entre os maiores do país em proporção, já registrou 84 homicídios entre janeiro e março.

Do total, 49 (58%) tiveram como causa disparos de arma de fogo. Não entram na lista os números de casos de suicídio e tiros acidentais. O estudo foi feito antes do início da campanha do desarmamento, que já arrecadou cerca de 300 mil armas em todo o país. Em Mato Grosso, a campanha conseguiu retirar 3.510 armas desde meados de 2004, a maioria revólveres calibre 38. Para o delegado de Defesa Institucional da Polícia Federal, Eduardo Rogério Santos, ainda não é possível identificar com clareza os impactos da campanha entre os índices de mortes. Mas ele pondera que o alvo principal do governo federal não é a de perseguir bandidos para apreender armas e sim atingir o chamado "cidadão de bem", diminuindo o risco de atos de violência no ambiente doméstico.

Os casos de brigas fúteis, como discussões entre vizinhos, podem ter finais trágicos se uma arma estiver próxima. "O cidadão de bem pode ter porte de arma sim, desde que comprove essa necessidade", argumenta o delegado. Cerca de 80% das armas entregues à PF durante a campanha eram antigas e estavam "abandonadas" pelos proprietários, segundo ele. Até o dia 23 de junho, os donos de armas sem registro podem entregá-las livremente à PF, que expede uma guia de trânsito que impede apreensões no caminho. Depois dessa data, quem for apanhado com armas sem registro será preso e responderá a inquérito criminal.