Guga encara solidão e desconfiança em novo retorno

O principal jogador da história do tênis brasileiro está voltando. Após mais de seis meses longe das quadras e agora sem o técnico Larri Passos, com quem rompeu, Gustavo Kuerten está recuperado da segunda cirurgia no quadril e treinando em ritmo acelerado para o Torneio de Valência, que marcará seu retorno ao Circuito da ATP, a partir do próximo dia 4.

A pergunta que todos fazem agora é a mesma daquela após a primeira operação, em 2002: Guga voltará a jogar no nível que o levou ao tricampeonato de Roland Garros e ao título de melhor do mundo?

O médico Moisés Cohen, chefe do Centro de Traumatologia do Esporte da Unifesp e diretor do Instituto Cohen, aposta que sim.

"Eu acompanhei e posso dar a minha opinião que ele tem condições de voltar no mesmo nível. A artroscopia foi feita de maneira correta em Pittsburgh", afirma Cohen.

Para o médico, o diferencial, entretanto, será o aspecto psicológico do catarinense, que agora também não terá o apoio moral de Larri Passos e terá de encarar os problemas sozinho.

"O Guga é uma pessoa jovem, um tenista de alto rendimento, então tem todas as condições para se recuperar completamente e poder jogar no mesmo nível do passado", completa Cohen.

Outro que se preocupa mais com o lado psicológico de Guga é o capitão do Brasil na Copa Davis, Fernando Meligeni. O ex-tenista também alerta para possíveis dores que podem incomodar o catarinense.

"Tudo vai depender de como ele vai se sentir na quadra. Acho que se ele não sentir dor, vai voltar rapidamente ao nível dele. Já vi vários jogadores voltarem de lesões e jogarem bem porque são acima da média", diz Melligeni.

O capitão brasileiro, no entanto, pede paciência para que Guga possa voltar a vencer e conquistar títulos. Para explicar isso, ele usa o exemplo de Ronaldo, que ressurgiu em grande estilo após passar um longo tempo machucado por problemas no joelho.

"Ninguém pediu para o Ronaldo voltar a ser artilheiro de um dia para o outro, mas ele voltou. O Guga vai fazer o papel dele. A gente tem de ter a inteligência de entender o que é o esforço que ele está fazendo. As pessoas têm de ver o respeito que ele tem pelo esporte. Ele está muito confiante, treinando como nunca."

Em Florianópolis, Guga tenta se poupar da pressão. Ele evita o contato com a imprensa e realmente vem se dedicando de forma intensa aos treinos.

"O médico me disse que o começo vai ser difícil. A cabeça será importante, porque irei sentir desconforto, principalmente na musculatura", disse o brasileiro, em entrevista recente, também ressaltando a importância do lado psicológico.

Guga também não faz muitos planos para o futuro. "Não quero pensar muito nisso agora. Quero apenas me concentrar em chegar ao final do ano completamente recuperado."

Solidão

Às vésperas de sua volta às quadras, Guga surpreendeu ao anunciar o fim da parceria com o técnico Larri Passos.

Apesar da longa amizade e dos vários títulos com o parceiro, Kuerten informou que optou por viajar para os torneios sem treinador e dar início a uma nova era em sua carreira.

A mesma estratégia foi adotada na última temporada pelo suíço Roger Federer, que conquistou três dos quatro Grand Slams - Austrália, Wimbledon e Estados Unidos - e a Masters Cup.

"Foram 15 anos de muitas conquistas no circuito e só tenho a agradecer por ter tido o Larri ao meu lado. Mas depois de todo esse tempo, senti a vontade de ter uma experiência diferente e viajar sem técnico", disse Guga, através de um comunicado oficial.

Durante os treinos com bola em Florianópolis, o ex-número um do mundo declarou que a opção também foi uma forma de mostrar amadurecimento.

"Essa é uma fase nova da minha vida. Era o momento para tomar mais as minhas próprias decisões e ter mais vida própria", ressaltou o tricampeão de Roland Garros.

Mesmo polêmica, a decisão foi apoiada pelo ex-jogador Fernando Meligeni, atual capitão da equipe brasileira na Copa Davis.

"Acho que o Guga é um cara muito profissional e inteligente para fazer algo impensado. Tudo na vida tem começo, meio e fim. Eles acharam melhor cada um seguir o seu caminho", disse Meligeni.

"Não vejo problema para a volta do Guga. Eu já fiquei com técnico e sem técnico. Não é um obstáculo", completou o ex-tenista, que foi treinado por muito tempo por Ricardo Acioly.