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Politica Brasil
Sábado - 19 de Março de 2005 às 17:08
Por: Onofre Ribeiro

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As sutilezas de linguagem costumam servir para amenizar verdades duras. O “tropicão”, por exemplo, é uma linguagem mineira, uma corruptela bem-humorada do tropeção. Atrás do bom humor se esconde a dureza do significado. “Tropicar” é andar para frente aos solavancos depois de um obstáculo inesperado.

Na política, quando se usa o “tropicão”, está se contornando a dureza do que se quer dizer. O leitor deve estar imaginando onde quero chegar com essa estória de “tropicão”. Respondo já.

Nas duas últimas semanas conversei com os ex-governadores Júlio Campos e Jaime Campos, com o deputado federal Pedro Henry, com o ex-prefeito de Cuiabá, Roberto França, e com alguns deputados federais e estaduais. Obviamente, conversar com essas pessoas significa inevitavelmente falar em política.

Prefiro não entrar em detalhes, mas anotei 18 itens nos quais esses políticos questionam o seu relacionamento com o governo Blairo Maggi. De começo, é preciso dizer que não existe um clima de animosidade. Mas existe um clima de descontentamento. Quem melhor definiu o clima foi o ex-prefeito Roberto França. Segundo ele, estão pegando a questão dos cargos na administração do estado, definir rumos para as indicações à disputa de cargos para os aliados nas eleições de 2006, e o que lhe pareceu mais importante: afagos.

A estória dos cargos e da disputa eleitoral são questões pragmáticas que se resolve também de maneira pragmática segundo as circunstâncias. Mas os afagos, não. Eles têm significado diferente. Traduzindo, quando políticos reclamam afagos, estão reclamando, na verdade, a oportunidade de falarem e de serem ouvidos. No fundo, no fundo, nem precisam ser rigorosamente atendidos. Como a política envolve muito o conversar e formular idéias, os políticos precisam falar, testar suas falas e obter respostas.

Claro que todos gostariam de “palpitar” na administração. Mas mesmo esse “palpitar” não significa necessariamente interferir na condução. Mas não se pode negar que possuem experiência na relação das ações e das reações da administração com a sociedade. Isso é tipicamente político.

Colocando-se na mesa as postulações que ouvi em todas as conversas, pesam realmente as queixas sobre o isolamento dos aliados em relação à condução da gestão, porque isolados não se sentem aliados de corpo inteiro. Político acostumados a abraços e tapas nas costas de eleitores não se contentam com posarem em fotografias de 3x4.

Claro que, tirando esse item anotado acima, restam outros 17 que formam um quadro de muitos pontos dignos de observação por parte do governo, que pretendo ir desdobrando oportunamente. Mas não há um ambiente de crise neste momento, ainda que chiadeira de políticos sejam sempre dignas de registro. Neste resto de ano e nos nove meses do ano que vem, antes da eleição, o governador Blairo Maggi precisa prestar mais atenção nos “tropicões”. “Tropicão” arranca a unha do dedão ou desequilibra o cidadão.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e de RDM onofreribeiro@terra.com.br




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