Refugiado africano treina em time chileno

Sesseri Michael Camara, um leonês de 23 anos que chegou ao Chile junto a três compatriotas fugindo da guerra civil em Serra Leoa, começou a treinar-se no Naval, da segunda divisão local, com a esperança de começar uma carreira.

"Joguei na segunda divisão do meu país, em uma equipe chamada Schamen, onde me pagavam às vezes, mas pouco", disse Sesseri depois de seu primeiro treino com a equipe do Naval, que tem sua sede no porto de Talcahuano, 530 km ao sul de Santiago.

O jogador, junto a seus compatriotas Johnson Jallooh, Samson Isaka e Víctor Friday, com suas famílias destruídas pela guerra civil que destruiu seu país, embarcaram em Lagos (Nigéria) escondidos em um navio mercante com bandeira do Belize e tripulação russa, no qual permaneceram 35 dias sem saber para onde iam.

Os quatro permaneceram escondidos 20 dias em uma parte do navio, sem água nem comida, até que foram descobertos pela tripulação e obrigados a trabalhar.

Na semana passada, quando o navio entrava na baía chilena de San Vicente, na qual está Talcahuano, se lançaram ao mar e chegaram nadando à costa.

Primeiramente, eles foram devolvidos ao navio, cujo capitão os rejeitou. Quando temiam ser deportados, um deputado local intercedeu a favor deles, iniciando os trâmites para que fossem aceitos como refugiados.

Eles foram amparados por uma família operária de Talcahuano que lhes dá casa e comida, mas seu maior anseio é legalizar sua situação e ter uma oportunidade de ganhar a vida, disse Sesseri, que admitiu ter terminado seu primeiro treino com câibras em todo o corpo.



"Sou volante pela direita, mas me lanço bem ao ataque e marquei muitos gols em Serra Leoa. Sou veloz, tenho bom cabeceio e drible", afirmou o jovem africano, esperançoso em agradar o técnico e os dirigentes do Naval para unir-se definitivamente ao time.

Camara, que perdeu seu pai e sua mãe na guerra civil e só tem um irmão em Serra Leoa, disse só conhecer o (agora ex-) jogador Iván Zamorano, mas quer ficar.

"Fui um bom aluno, mas o que mais gosto é do futebol, e quero trabalhar nisso", afirmou a um jornal chileno.