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Politica Brasil
Quarta - 16 de Março de 2005 às 06:13
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Após a chegada de Blairo ao governo do Estado, sem desgaste ou débito político significativo, já que assumiu a candidatura de última hora como salvação de políticos temerosos de, mais uma vez, ficarem alijados do poder estadual, suas atitudes iniciais vislumbravam o rompimento com as antigas e persistentes práticas clientelistas.

Clientelismo, segundo o Houaiss significa “prática eleitoreira de certos políticos que consiste em privilegiar uma clientela ('conjunto de indivíduos dependentes') em troca de seus votos; troca de favores entre quem detém o poder e quem vota (empregar apenas os amigos)”. As notícias atuais, na antevéspera da próxima eleição, mostram que na política nada se perde, tudo se transforma, se restaura, até o ranço da prática retrógrada que desprestigia a competência em troca de favores políticos, que imaginava enterrada ou em vias de tal.

Vimos, nos primeiros escalões, Blairo se cercar de funcionários e pessoas de sua confiança, além de outros indicados pelos políticos que o apoiaram. Embora tenha havido o preenchimento de cargos com os que trabalharam na sua campanha, não ocorreu o aparelhamento do estado com a alocação dos profissionais da política deste ou daquele partido. Apesar de cumprir acordos políticos, tentava primar pela eficiência, pelo menos era essa a imagem que se fazia da sua administração.

Eis que surge no cenário estadual o fantasma de Joseph McCarthy, senador norte-americano que nos anos 50 do século passado, anunciou possuir uma lista de 205 comunistas “fichados” trabalhando no Departamento de Estado. Por obra dele iniciou-se uma verdadeira “caça às bruxas”. Em Mato Grosso, mesmo sem saber quem é o nosso Zé McCarthy, apareceu um tal listão com 380 nomes de funcionários que participaram da era Dante de Oliveira e que, segundo comentam os jornais, estão pressionando o governador Brairo (sic) para que sejam caçados e exterminados. Cruzes! Dá até calafrio!

Esse pessoal deve estar ai desde o começo da administração Blairo, como é o caso do secretário de saúde Marcos Machado, remanescente da gestão Rogério Sales. Nunca foi discutida a competência dessas “bruxas”, só agora, em um ano pré-eleitoral, o tema começa a ser discutido. Quantos políticos já trocaram de partido de 2002 até hoje?

Não sou contra o preenchimento de cargos comissionados com pessoas de confiança, isso faz parte do bom andamento de qualquer trabalho. Onde não há harmonia, entendimento e confiança mútua há um comprometimento do exercício da função. Claro que estou me referindo a pessoas habilitadas para o exercício do cargo. O que repudio e acredito que toda a sociedade repudie também é a forma pequena de perseguição ou ameaça de. É um retrocesso ao modelo administrativo coronelista que não acredito ser perfil do governador.

Que pena! Mas quando achei que Mato Grosso estava adotando a eficiência e capacidade, eis que ressurge a visão de curto prazo. Maus resultados das administrações públicas brasileiras sempre foram conseqüências da dimensão da visão de tempo, da delimitação dos horizontes. As políticas públicas não almejavam melhorias para as gerações futuras, mas o retorno nas urnas futuras. A existência deste listão e a ameaça de uma verdadeira varredura rompem com toda a inovação na forma de administrar que a sociedade esperava deste governo.

O que mudará na gestão estadual se a promessa de caçar os nomes do listão permanecer? E os concursados que por ventura forem filiados em partidos opostos? E se forem competentes?

O que notabilizou o período McCarthy foram os inquéritos, sempre realizados com a presença da imprensa, em especial a televisão, onde os “acusados” tinham que responder a perguntas do seu inquisidor. Como será feito aqui? Fico imaginando uma fila imensa de funcionários encostados na parede num dos corredores do palácio e o nosso “Zé McCarthy” com o listão na palma da mão, interrogando: “a senhora gostava de Dante?; o senhor sorriu quando ele deu bom dia?; a senhorita votou nele?”

Deus, que medo eu tenho desse listão de Brairo (sic)! Apesar de nunca ter trabalhado no governo do estado e nem tão pouco ser meu objetivo de vida, e se alguém me viu cumprimentando Dante na padaria e me colocou no listão? Jisus (sic), o que farão comigo?

Adriana Vandoni Curvo é professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. E-mail: avandoni@uol.com.br




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