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Politica Brasil
Domingo - 13 de Março de 2005 às 15:32
Por: Onofre Ribeiro

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Há dois anos e meio o Brasil elegeu o presidente Lula, contrariando toda a lógica da política histórica. Um ex-retirante nordestino, não-acadêmico, operário industrial, líder sindical e líder do partido de esquerda mais radical no país, ao contrário da tradição escolher lideranças com formação conservadora.

Junto do presidente Lula, a sociedade elegeu o PT para governar o país, sabendo que o partido não tinha experiência. Mas poderia quebrar a corrente da História conservadora. No governo, o PT respondeu da forma esperada: confuso e pouco ativo. A democracia vigora no país, e em nenhum momento alguém pensou em golpe como no passado. O PT é necessário à educação política brasileira e no amadurecimento político da sociedade. Permitam-me traçar alguns paralelos históricos para justificar a minha tese.

Em 1930, caiu a República Velha pela derrubada do presidente eleito Júlio Prestes. Subiu ao poder Getúlio Vargas, que ficou até 1945 na condição de ditador e ao mesmo tempo “pai dos pobres”. Autêntico líder messiânico.

Em 1950 Getúlio foi reeleito como o líder messiânico de um Brasil rural. Substituiu-o, Juscelino Kubitscheck, outro messiânico, substituído por Jânio Quadros, também messiânico. Os militares lideraram o golpe em 1964 e foram recebidos como heróis messiânicos. Caíram em 1985, substituídos por outro messiânico, Tancredo Neves que morreu sem tomar posse. Sarney não chegou ao posto de messiânico, senão por instantes durante o Plano Cruzado em 1986.

Veio Fernando Collor de Mello, outro líder messiânico, que durou dois anos. Depois, outro líder messiânico, travestido de intelectual, mas com a mesma abordagem tradicional: Fernando Henrique Cardoso, até reeleito. Já Lula, veio como o grande líder messiânico das massas operárias e das massas urbanas descontentes ou excluídas, dos funcionários públicos e das universidades públicas.

No exercício do poder, o presidente Lula ainda agrada, mas a população brasileira sabe que entre a sua fala e as práticas de governo há pouca ligação. Ele fala uma coisa e o PT que o governa, não governa o país.

Antes de qualquer revolta, é preciso dizer que até a eleição do presidente Lula, ainda existia a última reserva de expectativas focadas nele e no PT, cuja imagem era de um partido ético e revolucionário dos costumes políticos e administrativos. Nem uma coisa nem outra.

E a sociedade já não tem mais estoque de líderes messiânicos para salvarem a pátria. Terá que encontrar nomes dentro de uma extraordinária constelação de possibilidades. Nem vou citar nomes. Mas são pouquíssimos e não gozam da unanimidade nacional. Aliás, penso que nunca mais haverá unanimidade em torno de um “salvador da pátria”. Os futuros presidentes terão que ser construídos pela sociedade segundo o seu figurino. E enganam-se profundamente os que, eventualmente, pensem que a sociedade não esteja pronta para definir o figurino dos futuros líderes. Principalmente do presidente da República.

Com sua atuação dúbia na identidade e na prática, o PT e o presidente Lula estão sendo profundamente pedagógicos na construção de um modelo de politização dos cidadãos brasileiros. No futuro, dificilmente haverão outros líderes messiânicos.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e de RDM onofreribeiro@terra.com.br




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