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Politica Brasil
Segunda - 07 de Março de 2005 às 19:20
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Assim que a missionária americana Dorothy Stang foi assassinada o presidente Lula decretou a criação de uma unidade de conservação no Pará, a região é conhecida como Terra do Meio. O processo foi acelerado com a morte da freira, pois em janeiro deste ano, técnicos do Ibama, membros da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP) e da ONG WWF, estavam no local realizando um levantamento sócio-econômico para definir os limites e características da reserva que só ai seria proposta pelo Ministério do Meio Ambiente. Tudo inútil. Que estudo que nada, bastou morrer uma americana e meia dúzia de insignificantes brasileiros, para Lula usar sua caneta.

Os assassinos da freira já estão devidamente presos, não por ação excepcional do governo, como querem nos fazer crer, mas simplesmente por ter ido investigar. O problema não é a violência, é a ausência de autoridade do Estado. Eu pergunto: se o soldado Luiz Pereira da Silva morto por sem terras em Pernambuco tivesse, mesmo que por acaso, nascido nos EUA, os seus assassinos já estariam presos? O trabalho a irmã Dorothy, como de tantas outras pessoas que se dedicam ao campo, seja de que lado for, é importante para o país. Ela sabia os riscos que corria, mas nada podia fazer senão prosseguir. O governo federal sabia do risco que ela corria, mas nada do que deveria fazer, fez. Pessoas são assassinadas a todo instante por conflitos agrários, só no governo Lula foram 125 mortes, fora sete assassinatos ocorridos na mesma semana em que a freira for morta, segundo a Pastoral da Terra. Não me venham agora com hipocrisia, dizer que estão tomando providências. Isso é a nova versão da expressão “pra inglês ver”.

Tudo está errado neste país. Em uma entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura dom Tomás Balduíno, presidente da Pastoral da Terra disse que o responsável pela violência no campo e por todos os conflitos agrários é o Agronegócio e disse mais, afirmou que Mato Grosso é a moradia do diabo. Pois eu, depois de assistir a entrevista, posso dizer que os responsáveis por essas mortes são todos aqueles que, no lugar de exercerem suas funções, ficam por aí incitando briga e vendo o demônio em todos os lugares. O Brasil precisa de orações, basta assumir seu ofício e rezar. Dom Tomás, trabalhar um pouco faz bem ao espírito, afinal, mente vazia, oficina do diabo. Sabem aqueles casos clássicos de mulher que não faz nada o dia todo e fica criando amantes para seu marido? Balduíno fica criando demônios porque é um desocupado. Esquece-se até que o “veneno” que sai da terra através do Agronegócio, o alimenta e deve ajudar a sustentar a CPT.

Fiquei perplexa quando Balduíno acusou o Legislativo, o Executivo e o Judiciário do estado do Pará, de serem mandantes dos crimes ocorridos na região, disse, com um tom evasivo que “há nomes”. Ou a idade lhe prejudicou o juízo, ou lhe falta coragem para dar nome aos bois que afirma saber, ou essa irresponsabilidade de acusar sem citar nomes é o precedente que o próprio Lula abriu ao acusar o ex-presidente da república de corrupção, sem provas.

O padre é indeciso e medroso, pois no mesmo instante que acusa o governo do PT de ser um governo falho, ele recua, diz entender a situação e coloca a culpa nos aliados que Lula foi, segundo ele, “obrigado” a abrigar debaixo de suas barbas. E disse mais, disse que uma parte do PT já foi corrompida pelo mal, devia estar se referindo ao agronegócio. Mas depois ele volta atrás e diz que nem todo agronegócio é do mal. Dom Tomás não sustenta suas próprias palavras, quiçá as saias que deve usar.

Mas, voltando à Terra do Meio, tenho uma sugestão ao governo federal. Uma chance de darem uma dentro. Getúlio Vargas em 1943, com a intenção de ocupar o interior do país e ao mesmo tempo acabar com o latifúndio da antiga "Companhia Mate Laranjeira", criou a Colônia Federal Agrícola de Dourados. Seguindo o lema: "crescemos sempre dentro de nossas próprias fronteiras”, Getúlio conseguiu seu objetivo instituindo lá o completo domínio da pequena propriedade. Pena que com o passar dos anos, os colonos beneficiados negociaram seus lotes e novos latifúndios foram formados.

A minha sugestão, é que o Presidente Lula use a mesma caneta usada no “pacote ecológico” e faça da Terra do Meio uma Colônia Federal Agrícola que poderá inclusive se chamar Colônia Federal Agrícola Dorothy Stang. Bush ficaria feliz.

Se fizer isso, o presidente praticamente resolverá o seu déficit administrativo. Se ceder 50 hectares para cada família, poderá assentar 124 mil de uma só vez. Poderá implementar um mega-projeto de desenvolvimento sustentável que servirá de modelo para o mundo ao mesmo tempo em que demonstrará que é possível desenvolver e proteger. Quero ver! Para administrar e fiscalizar a Colônia, como os recursos públicos são sempre escassos e mal geridos, poderá contar com a colaboração de ONG’s, já tão presentes na região e profundas conhecedoras dos meios de “exploração sustentável”. Quero ver! Dom Balduíno poderá ser uma espécie de Interventor Geral, caberá a ele proteger a estação ecológica da Terra do Meio e decidir os limites da exploração, adequados a um plano de manejo ambiental. Dom Balduíno poderá exercer todo o senso de democracia que aprendeu nos ensinamentos da sua igreja, a mesma que em tempo remotos usou o nome de Deus para queimar os que tinham outras crenças.

Lula e Dom Tomás entendem mesmo de blasfêmea e bravata. Não existe recurso disponível ou empenhado para desapropriar ou fornecer infra-estrutura para possíveis criações de unidades de conservação e assentamentos. O próprio presidente cortou os gastos do governo federal e o disponível para a reforma agrária em 2005 vai dar, se não houver desvio no percurso, para assentar, no máximo 40 mil famílias, ou seja, está forjando ações quando na verdade corta a verba disponível.

Dom Tomás é blasfemante. Lula é bravateiro e a freira americana não era santa ou heroína, era brasileira e viveu como todos nós vivemos, em constante risco de morte.

Adriana Vandoni Curvo é professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. E-mail: avandoni@uol.com.br




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