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Internacional
Sexta - 04 de Março de 2005 às 22:50
Por: Mary Milliken

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O presidente argentino, Néstor Kirchner, afastou-se do Fundo Monetário Internacional (FMI) e trocou farpas com Wall Street, mas venceu a maior batalha de dívida da história moderna, o que deve recompensar o já popular líder político pelos próximos anos.

Em menos de dois anos de mandato, Kirchner encerrou na quinta-feira a moratória recorde do país em 102,6 bilhões de dólares, removendo o que chamou de "um importante obstáculo para a recuperação" econômica depois da 2001-02.

Centenas de milhares de credores, em posse de 76 por cento da dívida argentina em default, aceitaram trocar os títulos antigos por novos com perda de até 70 por cento do investimento.

Ao fim prevaleceu a firme convicção de Kirchner de que uma empobrecida Argentina não poderia pagar mais do que o valor oferecido, garantindo ao presidente o apoio de eleitores felizes com a economia de bilhões de dólares anuais que o governo terá no pagamento da dívida externa.

A vitória para o presidente provavelmente reforçará seu governo — algo bastante importante em um país politicamente volátil, que chegou a ter cinco presidentes ao longo de duas semanas em 2001, em meio a grandes protestos nas ruas.

"As pessoas gostam do estilo de confronto porque ele traz resultados", disse o diretor da companhia de pesquisas Ipsos-Mora y Araujo, Santiago Lacase.

Ao longo da operação, Kirchner suspendeu o programa de empréstimo do país com o FMI.

Lacase disse que Kirchner tinha uma taxa de aprovação pessoal invejável de 78 por cento, enquanto seu governo tinha 75 por cento de apoio no início de fevereiro. "Isso foi antes do resultado do default, então esses percentuais devem aumentar", declarou.

ELOGIOS NAS RUAS

Nas ruas de Buenos Aires, os trabalhadores elogiaram a troca de dívida e Kirchner.

"Acho que é fantástico", declarou Alejandra Danila, 41, que é dona de uma loja de telefones celulares. "Isso fala muito bem sobre o governo."

O agente de viagens Mariano Rector, 27, disse: "Não gosto de Kirchner, mas ele está fazendo bem as coisas."

Quase todos, incluindo Kirchner, sabem que o governo ainda tem uma agenda difícil adiante. Mais de 40 por cento dos argentinos ainda estão abaixo da linha de pobreza, 16 por cento estão desempregados e o país precisa desesperadamente de novos investimentos.

A vitória na troca de dívida, no entanto, dá a ele muito capital político para o futuro, tanto interna como externamente.

"Eu estou mais otimista com a política do que já estive há algum tempo", disse o estrategista-chefe do banco privado JP Morgan para a América Latina, Richard Madigan. "Isso dá uma boa base consolidada para o governo realmente fazer algumas das reformas estruturais de que a Argentina precisa."

Em uma dessas questões, Kirchner se mantém ao lado do povo: o congelamento das tarifas públicas para ajudar as famílias mais pobres. No entanto, empresas estrangeiras e seus governos, como França e Espanha, estão pressionando o presidente argentino a por fim ao impasse.

Ele afirmou diante do Congresso nesta semana que vai defender os interesses dos argentinos nas negociações com as empresas de serviços públicos.

Se tiver sucesso, Kirchner irá para as eleições legislativas em outubro com outra carta na manga, o que faz analistas já preverem um bom desempenho da facção governista do Partido Justicialista (Peronista).



Poucos adiantam as chances de Kirchner se reeleger em 2007.

"Se as circunstâncias se mantiverem, a tendência é pensar que a reeleição é possível", afirmou Lacase. "Mas ainda faltam dois anos e muita coisa pode acontecer."





Fonte: Reuters

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