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Extintor para língua
Quando ouvi, na quinta-feira, o discurso do presidente Lula no Espírito Santo, fiquei estarrecido. Ele contava que recebera de um companheiro a informação de que a instituição dirigida pelo auxiliar estava falida por causa da corrupção no governo anterior. Em seguida, Lula revelou que pedira silêncio sobre o caso. Era a confissão pública de um crime de responsabilidade, que causa perda de mandato de um presidente. Recebera uma denúncia de corrupção e reagira acobertando-a.
O PSDB, oposição hoje e ontem partido no governo, respondeu denunciando o crime de responsabilidade e anunciando que iria pedir abertura de processo de impedimento do presidente. O ministro José Dirceu, em Buenos Aires, pôs lenha na fogueira, ameaçando com mais revelações. "O feitiço pode sair contra o feiticeiro". O presidente, embora reconheça que tenha empregado mal as palavras, segundo contam seus íntimos, decidiu que não haveria retratação.
A instituição é o BNDES, objeto de extensas investigações e denúncias por causa das privatizações na telefonia. O PT, na oposição, pilotou as denúncias. O assunto acabou esgotado, até o discurso de quinta-feira. Desta vez é o PSDB que está na oposição, e reage em todas as frentes. Além do pedido no Legislativo, pretende interpelar Lula no Supremo, que é o foro próprio para ações contra o presidente. Os advogados do governo vão alegar que o presidente não acobertou corrupção, mas pediu silêncio para não prejudicar o bom nome do BNDES... E que a palavra corrupção, na verdade, quer dizer "má gestão".
O fato é que tanto governo quanto oposição sabem que o que aconteceu é que o presidente, mais uma vez, falou demais. Não pensou no que estava dizendo. Sabem, mas não agem dentro dessa constatação. A oposição aproveita o factóide para pedir o impedimento do presidente, ou para obrigá-lo a se retratar e a passar um atestado de lisura à administração tucana no BNDES. O governo, por outro lado, sem humildade para se retratar, insiste em explicar o explícito, buscando outros significados para as palavras de Lula. Ninguém diz: "Muito bem, o presidente falou demais e irresponsavelmente; o que disse não tem importância. Vamos esquecer" porque é perigoso não dar importância às palavras de um presidente. Então, Lula é que tem que se dar conta da importância de suas palavras e pensar dez vezes antes de um improviso.
Os presidentes da Câmara e do Senado se mobilizam para apagar o princípio de incêndio. O Senador Renan Calheiros diz que é preciso baixar a temperatura e o deputado Severino aconselha a não fazer disso um cavalo de batalha. Para que não haja novos princípios de incêndio, aconselha-se o uso de um extintor especial para a língua presidencial.
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília.
O PSDB, oposição hoje e ontem partido no governo, respondeu denunciando o crime de responsabilidade e anunciando que iria pedir abertura de processo de impedimento do presidente. O ministro José Dirceu, em Buenos Aires, pôs lenha na fogueira, ameaçando com mais revelações. "O feitiço pode sair contra o feiticeiro". O presidente, embora reconheça que tenha empregado mal as palavras, segundo contam seus íntimos, decidiu que não haveria retratação.
A instituição é o BNDES, objeto de extensas investigações e denúncias por causa das privatizações na telefonia. O PT, na oposição, pilotou as denúncias. O assunto acabou esgotado, até o discurso de quinta-feira. Desta vez é o PSDB que está na oposição, e reage em todas as frentes. Além do pedido no Legislativo, pretende interpelar Lula no Supremo, que é o foro próprio para ações contra o presidente. Os advogados do governo vão alegar que o presidente não acobertou corrupção, mas pediu silêncio para não prejudicar o bom nome do BNDES... E que a palavra corrupção, na verdade, quer dizer "má gestão".
O fato é que tanto governo quanto oposição sabem que o que aconteceu é que o presidente, mais uma vez, falou demais. Não pensou no que estava dizendo. Sabem, mas não agem dentro dessa constatação. A oposição aproveita o factóide para pedir o impedimento do presidente, ou para obrigá-lo a se retratar e a passar um atestado de lisura à administração tucana no BNDES. O governo, por outro lado, sem humildade para se retratar, insiste em explicar o explícito, buscando outros significados para as palavras de Lula. Ninguém diz: "Muito bem, o presidente falou demais e irresponsavelmente; o que disse não tem importância. Vamos esquecer" porque é perigoso não dar importância às palavras de um presidente. Então, Lula é que tem que se dar conta da importância de suas palavras e pensar dez vezes antes de um improviso.
Os presidentes da Câmara e do Senado se mobilizam para apagar o princípio de incêndio. O Senador Renan Calheiros diz que é preciso baixar a temperatura e o deputado Severino aconselha a não fazer disso um cavalo de batalha. Para que não haja novos princípios de incêndio, aconselha-se o uso de um extintor especial para a língua presidencial.
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília.
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