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Politica Brasil
Quinta - 24 de Fevereiro de 2005 às 12:04
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Vejam só o que é nascer predestinado. No período colonial, em Cuiabá existia uma praça onde os condenados eram enforcados em público. Mais tarde, já no período republicano, onde antes aconteciam os enforcamentos passou a ser palco para as touradas, depois se transformou na sede da Assembléia Legislativa de Mato Grosso e agora, que a Dona Assembléia se prepara para deixar o local com todos os seus filhos, vai deixar a afilhada Câmara Municipal de Cuiabá. Que sina, meu Deus! Nada teria contra essa mudança, se naquela praça não estivesse localizado o Marco Geodésico da América Latina.

Começamos debate de instalação da Câmara Municipal e a necessidade de explorar o Marco Geodésico da América Latina como atração turística, em um grupo de discussões chamado “Defesa de Mato Grosso”. É um grupo formado por intelectuais do Estado, nascidos ou não nascidos por estas bandas, mas que tem em comum a preocupação de lutar por um lugar melhor para nossa geração e para as que estão por vir. Tenho o prazer de fazer parte do grupo e, principalmente, de vez em quando tumultuar os debates. Só a título de esclarecimento: “Deputada Verinha, é um grupo de intelectuais, mas, isso não quer dizer que seja um comitê da maldade”. Que fique claro!

Se esse marco estivesse localizado em qualquer outro ponto do país ou da América, o local teria sido transformado em um memorial, um museu de proporções grandiosas e estaria trazendo divisas com o turismo. Mas, como é em Cuiabá, serve de apoio para motoristas de táxis ou remanescentes de equipes de cabos eleitorais que costumam passar dias e mais dias em frente a Assembléia e aposto que vão permanecer quando lá for a Câmara.

Isso é jogar fora um patrimônio único, ou será que ninguém percebeu que só existe um centro da América Latina. Parecem loiras! Mas não poderia mudar o centro geodésico?, diria uma colega de cabelo. Não amiga, não dá! É bem verdade que existe uma controvérsia. Alguns dizem que o verdadeiro Centro Geodésico está localizado na Chapada dos Guimarães. Pois se é para desprezar o valor, tomara que esteja mesmo, talvez assim possa ser explorado como ponto turístico. Cuiabá sofre por não ter grandes atrações de peso. Não temos praia, não temos neve, não temos um atrativo, mas temos o Centro da América Latina. Tchan! Mas é chato e não tem nada lá? Não é assim! Turista gosta de qualquer coisa bem trabalhada e bem vendida e Cuiabá está precisando urgentemente de roteiros turísticos para segurar o turista aqui, uma marca que a identifique e dê orientação para o turismo.

Não podemos continuar sendo apenas local de passagem para o Pantanal, Amazônia ou Chapada. Do total de pessoas que visitam Cuiabá, quase 55% o fazem por motivos outros que não sejam lazer, apenas 12% vem através de agências de viagens, isso representa uma deformação em um importante elo da cadeia produtiva do turismo, talvez o mais importante. Representa um rompimento ou mau entendimento entre a produção e o consumo. É grave, pois pode ser uma falha na comunicação com o público ou mesmo, falta de ter o que vender para aos turistas. Essa quebra nesse elo estratégico da cadeia produtiva compromete sobremaneira a rede hoteleira, eu pergunto, qual empresa consegue se manter tendo um taxa média anual de capacidade ociosa de 45 a 50%? É essa a realidade da rede hoteleira de Cuiabá.

Existe outra coisa que é muito importante e poucas pessoas sabem. Aquele edifício é mal-assombrado. Perguntem aos funcionários de lá? Talvez os enforcados estejam influindo nas mentes dos atuais freqüentadores. Tá certo que lá existem fantasmas vivos que assustam a gente e que os fantasmas mortos podem atrair maus fluidos, por isso, não vamos deixar nossos vereadores passar pelo mesmo risco!

Falando sério agora, a nossa cidade tem que investir em todas as possibilidades de geração de emprego e renda. Quantos empregos seriam criados se no lugar de instalar a Câmara Municipal, fosse construído um memorial dos povos da América Latina, com as lutas, as vitórias e as derrotas do nosso povo? Isso chama-se estratégia de desenvolvimento. É tudo de que precisamos. Não vamos deixar escorrer das nossas mãos esse potencial e fadar a praça a essa triste sina de não ser tratada como merece.

Adriana Vandoni Curvo é professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. E-mail: avandoni@uol.com.br




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