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De novo uma parceria crítica
Letradas ou não, as pessoas sabem que é ocioso reiventar a roda ou, numa expressão mais expedita e popular, "chover no molhado". É por essa razão que cedo uma vez mais meus espaços midiáticos para matérias de largo alcance, desta vez da lavra do ensaísta Emir Sader, recolhida dos arquivos do Jornal do Brasil e que então faço repassar aos meus pacientes e às vezes bem atentos leitores.
Trata-se de texto que trata da postura dos intelectuais em nossa era e que se intitula "Os intelectuais na globalização", aqui transcrita, em compacto, como segue: "A globalização neoliberal redefine o papel dos intelectuais, assim como a relação entre o econômico e o social.
Apoiada no chamado ""pensamento único"" e no "Consenso de Washington"", restaria aos intelectuais a função de ler nos oráculos econômico-financeiros das bolsas de valores e nas avaliações que fazem os distintos organismos internacionais correspondentes, para saber qual seria o "risco"" de cada país, quais seriam os casos exemplares - a ser seguidos - e quais os condenados - a ser evitados. Restam os comunistas econômicos como os grandes intelectuais do nosso tempo, os que servem de elo entre as grandes corporações multinacionais, as autoridades econômicas, o sistema financeiro e as demais instâncias de poder no mundo globalizado e os pobres mortais - nós - cidadãos desvalidos de capacidade de decisão (...), sem poder de intervenção, vítimas de um destino a que querem condenar a humanidade os donos das armas e do dinheiro. O social fica reduzido, na globalização neoliberal, a um epifenômeno do econômico. Este comanda tudo.
As políticas de ajuste fiscal, de equilíbrio monetário, dos chamados "superávits fiscais"" definem as estratégias governamentais, deixando estreitos espaços para as políticas sociais. Estas têm, nessa lógica, que se restringir a políticas emergenciais compensatórias - como afirma o Banco Mundial - para tentar diminuir os graves danos causados por essas políticas sobre o conjunto da população. Recortam-se os direitos universais (...) com os cortes nos recursos para políticas de educação, de saúde, de saneamento básico, de habitação, de cultura, como vítimas privilegiadas.
As políticas neoliberais tornam-se, assim, monstruosas máquinas de expropriar direitos da massa da população. As próprias políticas sociais são privatizadas, entregues em mãos de organizações "não-governamentais"", terceirizadas para entidades vinculadas a empresas privadas, com o Estado renunciando a sua responsabilidade de garantir os direitos universais a todos os indivíduos. O social é privatizado, como subproduto da privatização da economia e do Estado. Nesse marco - de globalização neoliberal -, que papel deve corresponder aos intelectuais críticos, independentes, aos que não aceitam ser simplesmente funcionários do capital especulativo e de suas instituições? Esses intelectuais devem, antes de tudo, fazer e aprofundar a crítica do grosseiro determinismo econômico-financeiro que a globalização neoliberal quer impor à humanidade. Pôr em evidência seu caráter histórico, explicar que não se trata de um destino inexorável da humanidade, mas, ao contrário, o resultado de profundas transformações nas relações econômicas, sociais, políticas e culturais, como produto de políticas precisas, que triunfaram nos duros enfrentamentos das últimas décadas. Da mesma forma que foi historicamente construída, a globalização neoliberal pode ser mudada, destruída, transformada, segundo nossa vontade e nossos interesses.
Trata-se, pelo trabalho intelectual, de decifrar o enigma do mundo contemporâneo entre uma capacidade tecnológica que permite aos homens fazer coisas cada vez mais incríveis e uma grande massa da humanidade que não consegue ter acesso sequer a bens básicos para sua subsistência. Decifrar o enigma entre o potencial de transformações do mundo que a ciência e a tecnologia colocam à disposição da humanidade e o sentimento de impotência total que as pessoas sentem. O pensamento econômico em particular - e, com ele, grande parte dos economistas - se deixaram levar por essas políticas nocivas, tornando-se instrumentos da hegemonia do capital financeiro e desse mundo alheio e oposto às necessidades da humanidade. Quando, ao contrário, por possuir a chave desses enigmas, podem - e deveriam - ter o papel oposto" - conclui o autor.
João Vieira, professor-fundador da Universidade Federal de Mato Grosso, onde lecionou Sociologia e dirigiu o Museu Rondon, escreve semanalmente neste espaço.
Trata-se de texto que trata da postura dos intelectuais em nossa era e que se intitula "Os intelectuais na globalização", aqui transcrita, em compacto, como segue: "A globalização neoliberal redefine o papel dos intelectuais, assim como a relação entre o econômico e o social.
Apoiada no chamado ""pensamento único"" e no "Consenso de Washington"", restaria aos intelectuais a função de ler nos oráculos econômico-financeiros das bolsas de valores e nas avaliações que fazem os distintos organismos internacionais correspondentes, para saber qual seria o "risco"" de cada país, quais seriam os casos exemplares - a ser seguidos - e quais os condenados - a ser evitados. Restam os comunistas econômicos como os grandes intelectuais do nosso tempo, os que servem de elo entre as grandes corporações multinacionais, as autoridades econômicas, o sistema financeiro e as demais instâncias de poder no mundo globalizado e os pobres mortais - nós - cidadãos desvalidos de capacidade de decisão (...), sem poder de intervenção, vítimas de um destino a que querem condenar a humanidade os donos das armas e do dinheiro. O social fica reduzido, na globalização neoliberal, a um epifenômeno do econômico. Este comanda tudo.
As políticas de ajuste fiscal, de equilíbrio monetário, dos chamados "superávits fiscais"" definem as estratégias governamentais, deixando estreitos espaços para as políticas sociais. Estas têm, nessa lógica, que se restringir a políticas emergenciais compensatórias - como afirma o Banco Mundial - para tentar diminuir os graves danos causados por essas políticas sobre o conjunto da população. Recortam-se os direitos universais (...) com os cortes nos recursos para políticas de educação, de saúde, de saneamento básico, de habitação, de cultura, como vítimas privilegiadas.
As políticas neoliberais tornam-se, assim, monstruosas máquinas de expropriar direitos da massa da população. As próprias políticas sociais são privatizadas, entregues em mãos de organizações "não-governamentais"", terceirizadas para entidades vinculadas a empresas privadas, com o Estado renunciando a sua responsabilidade de garantir os direitos universais a todos os indivíduos. O social é privatizado, como subproduto da privatização da economia e do Estado. Nesse marco - de globalização neoliberal -, que papel deve corresponder aos intelectuais críticos, independentes, aos que não aceitam ser simplesmente funcionários do capital especulativo e de suas instituições? Esses intelectuais devem, antes de tudo, fazer e aprofundar a crítica do grosseiro determinismo econômico-financeiro que a globalização neoliberal quer impor à humanidade. Pôr em evidência seu caráter histórico, explicar que não se trata de um destino inexorável da humanidade, mas, ao contrário, o resultado de profundas transformações nas relações econômicas, sociais, políticas e culturais, como produto de políticas precisas, que triunfaram nos duros enfrentamentos das últimas décadas. Da mesma forma que foi historicamente construída, a globalização neoliberal pode ser mudada, destruída, transformada, segundo nossa vontade e nossos interesses.
Trata-se, pelo trabalho intelectual, de decifrar o enigma do mundo contemporâneo entre uma capacidade tecnológica que permite aos homens fazer coisas cada vez mais incríveis e uma grande massa da humanidade que não consegue ter acesso sequer a bens básicos para sua subsistência. Decifrar o enigma entre o potencial de transformações do mundo que a ciência e a tecnologia colocam à disposição da humanidade e o sentimento de impotência total que as pessoas sentem. O pensamento econômico em particular - e, com ele, grande parte dos economistas - se deixaram levar por essas políticas nocivas, tornando-se instrumentos da hegemonia do capital financeiro e desse mundo alheio e oposto às necessidades da humanidade. Quando, ao contrário, por possuir a chave desses enigmas, podem - e deveriam - ter o papel oposto" - conclui o autor.
João Vieira, professor-fundador da Universidade Federal de Mato Grosso, onde lecionou Sociologia e dirigiu o Museu Rondon, escreve semanalmente neste espaço.
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/358676/visualizar/
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